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Ramiro Furquim

O que explica a baixa participação nas eleições primárias no Uruguai?

A região está em plena crise política, o que se revela na queda de participação dos cidadãos em eleições recentes. O descrédito está campeando pelo continente e não é diferente no Uruguai…
Marcel Lhermitte
Rebelión
Montevidéu

Tradução:

Ana Corbesier

A votação para as primárias no Uruguai foi apática, o clima estava frio, havia pouca presença e um sem fim de clichês que poderiam ser escritos sobre a jornada que deixou resultados claros e alguns ensinamentos vinculados à participação que não podemos evitar.

Uma imagem do herói José Gervasio Artigas, criada com inteligência artificial, aguarda em uma entrada que parece deserta. O frio se faz sentir em Montevidéu. Punhados de militantes políticos circulam pelas ruas e oferecem listas para votar em seus candidatos, mas com pouco êxito. Não há filas de pessoas aguardando para votar. A presidente da mesa de votação me diz que meu irmão votou recentemente. Sabe que é meu irmão porque não pode haver muitas pessoas com um sobrenome tão difícil, assegura. Voto. Cumprimento e saio novamente para a fria cidade, para quem a eleição interna parece passar despercebida.

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Mais tarde, no rádio, ouve-se um dirigente político que acredita estar realizando uma análise séria: a participação cidadã nas eleições internas ficou em torno de 36%, muito baixa para o Uruguai. Acha que sem dúvida deve-se ao fato de que foi uma campanha sem muitas propostas nem estridências. Mais para chata e aborrecida…

No Uruguai, a participação está em baixa

A participação política se encontra em baixa no Uruguai, mas também no resto da região. Recentemente, nas eleições dominicanas de maio passado ocorreu um debate similar, pois a abstenção esteve em torno de 44,71%, em um país onde os partidos políticos são fortes e a política em geral se vive à flor da pele.

Uruguai e República Dominicana têm algumas características similares, ainda que não sejam muito conhecidas, entre elas ser os dois países com os partidos políticos que inspiram mais confiança na região, os charruas em primeiro lugar com 33% e os caribenhos em segundo com 28%, assim como também estar acima da média latino-americana quanto a entender que a democracia é preferível a outra forma de governo. Claro que o guarismo é excessivamente baixo.

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A região está em plena crise política. O descrédito está campeando pelo continente. Existe uma tendência há mais de uma década que demonstra que a democracia não é um sistema que esteja gerando satisfação para os latino-americanos e que as instituições sofrem um enorme descrédito, fundamentalmente os legislativos, os governos, os poderes judiciários e, principalmente, os partidos políticos.

Insatisfação popular

Esses problemas têm suas causas, que fundamentalmente estão vinculadas às demandas insatisfeitas dos cidadãos do continente, enfatizadas ainda mais depois da pandemia. O sistema político não deu respostas firmes às problemáticas laborais, de segurança pública nem econômicas em grandes segmentos da sociedade, tendo suas consequências.

Não podemos exigir daqueles que estão descrentes do sistema político e eleitoral que participem em massa a votações partidárias, com coletivos com que não se sentem identificados, e em eleições que não são obrigatórias. Por isso, a queda na participação resulta lógica e previsível.

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Quanto ao resultado das eleições, não houve surpresas, já que os favoritos das pesquisas foram confirmados nas urnas. As únicas surpresas ocorreram na formação das chapas presidenciais, com exceção da Frente Ampla, que foi a primeira a anunciar a dupla de Yamandú Orsi e Carolina Cosse na própria jornada eleitoral.

Sem surpresas

No oficialista Partido Nacional, o anúncio da chapa foi pelo menos traumático, se nos referimos às vaias, gestos adustos e posteriores declarações midiáticas de dirigentes políticos brancos. Álvaro Delgado e Valeria Ripoll serão os encarregados de buscar a reeleição de um partido cuja administração viu-se sacudida por vários casos de irregularidades.

Finalmente, no Partido Colorado, Andrés Ojeda e Robert Silva, em uma chapa não paritária, buscarão reviver um histórico coletivo partidário que se encontra muito por baixo. Mas quanto à denunciada “baixa participação” de que se falou nos meios de comunicação e nas esquinas do Uruguai, toca assumir responsabilidades, de parte dos políticos e dos cidadãos. Os políticos deverão trabalhar na melhoria das imagens partidárias e governamentais, além de gerar reputações mais limpas; ao mesmo tempo, os cidadãos devem tomar seus espaços de participação, onde seja, em coletivos políticos, sindicais, sociais ou onde for.

De todos é a missão de honrar e melhorar a política, e isso se faz na base de uma ampla participação, já que a política continua sendo e será a única ferramenta de que dispomos para gerar as mudanças que nossos povos requerem.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Marcel Lhermitte Jornalista, licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Comunicação Política e Gestão de Campanhas Eleitorais. Assessorou candidatos e coletivos progressistas em vários países da América Latina, do Caribe e da Europa. Diretor do coletivo latino-americano de comunicação política Relato. Coordenador d Diplomado em Comunicação Política da Universidade Claeh.

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