Em época de campanhas eleitorais, todos os candidatos a cargos eletivos populares tiram do baú de promessas a melhor seleção. Para eles prometer é grátis e quase sempre paga altos dividendos diante da ausência de regras claras que impeçam a institucionalização do engano. Talvez por isso as candidaturas têm se transformado em um negócio, e a ética, em política, em açúcar impalpável que ao primeiro contato com a realidade se dissipa pelo ar.
Em nossos países é fácil pra os políticos corruptos saírem com as suas falsas promessas, porque, apesar de inegáveis avanços na eliminação de obstáculos para a participação cidadã, persiste uma das barreiras mais efetivas para neutralizar o poder do povo: a educação. Neste aspecto, as nações menos desenvolvidas do continente e aquelas onde os enganosos polos de desenvolvimento de sua pirâmide social contrastam com grandes conglomerados afundados na miséria, coincidem em políticas de restrição de direitos básicos – educação, saúde e emprego – com o propósito de conservar os tradicionais privilégios para os círculos no poder.
O discurso político de campanha não muda muito de acento de uma a outra ponta de nossa América Latina. Nesse concerto de cacofonias, o fio condutor é uma demagogia crua cada vez mais evidente, que já não se importa em dissimular o propósito fundamental da ambição política que é, simplesmente, a conquista do poder e com ele a chave das arcas nacionais. Quando de repente surge uma voz responsável e honesta com propostas de mudança e visão de nação – uma ave rara quase extinta – de imediato se elevam os mecanismos para silenciá-la por não caber em um contexto já predeterminado pelos grandes estrategistas, cujas mãos manejam os cordões do hemisfério a partir do coração neoliberal do império.
Em nossos países é fácil pra os políticos corruptos saírem com as suas falsas promessas
Não há que enganar-se. Se nossos países não decolam é porque não convém aos interesses dos donos do planeta e de nossos recursos naturais. Basta dar uma olhada aos anais da História para ver com crua clareza como as decisões de maior transcendência cruzam a porta da “embaixada” e, nessa rota, perdem todo o sentido social para se transformar, como por arte de magia, em mais uma das políticas públicas desenhadas para submeter os povos, empoderar as castas econômicas e políticas e, desse modo, impor um modelo contrário a um desenvolvimento baseado na liberdade e na independência. Quem não se adapta, morre – simbolicamente ou não – no intento.
Existe então uma saída digna para nossas nações? Ou será preciso esperar que nos seja concedida graciosamente por aqueles que se apoderaram dela? A resposta está nas instituições locais, carcomidas pelo cupim da corrupção e submissas ante o poder do dinheiro fácil e dos grandes capitais, mas sem a contraparte de uma cidadania empoderada. Desse modo é possível observar como as listas de candidatos começam a se encher com exemplares notáveis do pior da fauna local sem o menor processo de seleção por capacidade, honestidade, nem qualidades pessoais; isso porque um exercício cívico de tal transcendência em geral carece – graças a uma legislação venal e com dedicatória – dos mecanismos de depuração necessários em todo processo democrático.
O tempo passa e nada muda. Para que isso aconteça, será imprescindível o trânsito da passividade à participação; da submissão à rebeldia; do silencio ao protesto legítimo. Sem esse componente fundamental do exercício cívico, a mudança nunca se tornará realidade.
*Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava