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O feminismo ganha cada vez mais apoio dentro da ONU

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Alcançar a igualdade de gênero tem sido uma das maiores prioridades da Organização das Nações Unidas (ONU), mas a palavra feminismo só recentemente foi incluída nos discursos oficiais na sede do fórum mundial em Nova York.

Lyndal Rowlands*

vesna-pusic
Vesna Pusic

A croata Vesna Pusic, uma das 12 candidatas para assumir a Secretaria Geral da ONU explicou, em um debate televisivo no dia 12 deste mês, por que sua orientação feminista fazia com que fosse apta para o cargo.
“Sou uma mulher, mas não creio que seja suficiente; sou feminista e creio que é importante”, observou Pusic, que foi ovacionada pelos diplomatas e funcionários da ONU que a escutavam em uma sala da Assembleia Geral.
Pusic se somou ao grupo de conhecidas feministas da ONU, entre as quais se encontra a atriz britânica Emma Watson, cujo discurso em setembro de 2014 sobre sua própria posição feminista concentrou a atenção mundial.
Há pouco tempo, o primeiro do Canadá, Justin Trudeau, disse à diretora geral da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, em uma reunião realizada em março deste ano, que não deveria haver uma reação tão forte cada vez que usava a palavra feminista.
“Para mim é tão óbvio. Temos que defender os direitos das mulheres e tratar de criar sociedades mais igualitárias”, indicou.
Mas o mais significativo talvez seja a designação da Suécia ao Conselho de Segurança da ONU com uma plataforma feminista em matéria de política exterior.
A Suécia formará parte do Conselho de 15 membros durante dois anos a partir de Janeiro de 2017, no mesmo mês em que assumirá o próximo secretário, ou secretária geral, a nona pessoa a assumir esse posto na história do fórum mundial. Muitos esperam que seja uma mulher a dirigir a ONU, uma vez que elas constituem a metade dos candidatos em disputa.
“Pode haver muitos elementos que se combinem para criar um contexto favorável para o progresso”, disse Jessica Neuwirth, uma das fundadoras e presidenta honorária de Igualdad Ya, em um diálogo com IPS.
Até o número de candidatas significa uma mudança dentro da ONU, observou Natalie Samarasinghe, diretora executiva da Associação das Nações Unidas – Reino Unido, ao ser consultada pela IPS.
“Não só nunca uma mulher encabeçou a ONU, mas apenas três dos 31 candidatos formais em eleições anteriores foram mulheres”, recordou.
A pressão para eleger uma mulher para a Secretaria Geral faz com que os candidatos, sejam mulheres ou homens, se esforcem por demonstrar seu compromisso com a equidade de gênero.
A pessoa eleita continuará o trabalho já iniciado pelo atual secretário geral, Ban Ki-moon, indicou Neuwirth, que acredita que ele demonstrou seu compromisso com a equidade de gênero na ONU, embora não se refira a si mesmo como feminista.
“Não sou uma pessoa que viva ou morra pelas palavras. Creio que o que as pessoas fazem é muito mais importante do que a forma como se qualifique”, explicou Neuwirth, diretora de Donor Direct Action, dedicada a reunir fundos para organizações de mulheres.
“Não creio haver escutado Ban usar a palavra feminista, definitivamente não para descrever a si mesmo”, precisou. “Por outro lado, como alguém que teve o privilégio de trabalhar na ONU durante seu mandato, vi com meus próprios olhos os esforços que ele fez para aumentar a representação feminina nos altos cargos da ONU”.
“Ainda não é igualitário e inclusive houve um retrocesso, o que é decepcionante, mas ele demonstrou que uma pessoa é capaz de marcar uma grande diferença”, acrescentou.
Samarasinghe assinalou que embora a palavra feminista não seja empregada de forma explícita na ONU, seu significado se reflete em muitos dos objetivos destinados a alcançar a equidade de gênero.
“Feminismo se trata de mulheres e homens com igualdade de oportunidades e direitos, uma meta reafirmada inúmeras vezes em vários documentos da ONU, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos em adiante”, precisou.
Também recordou que a palavra feminismo continua sendo controvertida. Entre os 193 estados membros da ONU, há muitos países muito atrasados com relação a casos atípicos na matéria como a Suécia e o Canadá.
“Ser feminista é totalmente óbvio. É como ter de explicar às pessoas que você não é racista. Mas a palavra continua sendo controvertida e por isso temos que seguir usando-a até que as pessoas a entendam”, explicou.
Emma Watson observou em seu discurso na ONU em setembro de 2014 que a palavra feminista não é tão fácil de usar como deveria ser.
“Decidi que era feminista e não me pareceu complicado. Mas minhas pesquisas me mostraram que o feminismo se tornou uma palavra pouco popular. As mulheres preferem não se identificar como feministas”, observou.
“Aparentemente, formo parte das mulheres cujas expressões parecem demasiado fortes, demasiado agressivas, que isolam e são contra os homens. Inclusive não são atraentes”, indicou.
De fato, no final de 2015, alguns meios assinalaram que haviam aconselhado Watson a não empregar o termo feminista em seu discurso.
Neuwirth estava presente quando a embaixadora da ONU Mulheres proferiu seu discurso no marco do lançamento da campanha HeforShe e disse  a IPS que os termos que decidiu empregar acabaram por ter um grande impacto.
“Foi um acontecimento incrível, me refiro ao nível de emoção que houve na sala, foi tão forte que fiquei impactada”, recordou.
“Havia tantos diplomatas que foi muito bom e o discurso foi muito forte e os mobilizou, se podia ver que os havia mobilizado”, sublinhou Nuewirth.
No entanto, desde então, as avanços em matéria de igualdade de gênero na ONU não têm sido fáceis. A organização de mídia PassBlue, que monitora a situação do fórum mundial observou que o número de mulheres em cargos de decisão está diminuindo.
Quando a Suécia ocupar seu lugar no Conselho de Segurança terá que fazer grandes esforços para melhorar a representação feminina nos cargos de decisão da ONU, bem como elaborar políticas que promovam a igualdade de gênero em maior escala.
De fato, está previsto que os 15 representantes no Conselho de Segurança serão homens, a menos que os Estados Unidos elejam uma mulher para substituir Samantha Power, que deveria abandonar o cargo no fim deste ano.
Suécia procurará aproveitar seu lugar no Conselho da Segurança para aumentar a participação das mulheres na negociação e na mediação dos acordos de paz, indicou a chanceler sueca Margot Wallstrom, em uma entrevista organizada em 30 de junho por Donor Direct Action.
Neuwirth aplaudiu o compromisso de Wallstrom, e precisou que no caso da Síria, por exemplo, as mulheres continuam de fora das negociações de paz.
As mulheres sírias “tratam de desempenhar um papel significativo nas negociações, que são um desastre total”, indicou, “mas a elas lhes custa muito ocupar um lugar pelo menos no corredor e nem falar de sentar-se à mesa”.
“Por que, pelo menos não dão a essas mulheres a oportunidade de ver se podem fazer algo melhor? Porque é difícil fazer algo pior”, concluiu.
 
*IPS das Nações Unidas especial para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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