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ONU aposta nas mulheres para erradicar a fome no planeta

Revista Diálogos do Sul

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A Organização das Nações Unidas (ONU) tem entre suas metas de Desenvolvimento Sustentável para 2030 a mulher camponesa como ente fundamental para contribuir a erradicar a fome de que padecem 795 milhões de pessoas de todo o mundo. Falta apenas 13 anos para a meta é em primeiro lugar e o mais importante para que tenham plena capacidade de travar essa batalha é liberá-las dos obstáculos que freiam seu desenvolvimento como ser social, e inclusive até como força de trabalho.

Silvia Martínez*
c4f40e398b33c7d663afa5106fbda127Elas só necessitam ser convocadas e levadas em conta para revolucionar seu entorno e uma década pode ser suficiente para assumir o desafio de eliminar desigualdades, levar bem-estar à mesa, prosperidade à família e paz às comunidades.
“Alcançar a igualdade de gênero e empoderar as mulheres não é apenas correto; é um ingrediente crucial na luta contra a pobreza e a fome”, definiu José Graziano da Silva, diretor geral da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
A própria FAO em seus estudos conclui que a migração aos centros urbanos, inclusive os conflitos militares e de outra índole, provocam um rápido aumento do número de famílias rurais cujo chefe de família é de fato uma mulher.
Mas elas, em sua imensa maioria carecem de poder social como mães solteiras, viúvas, divorciadas, esposas de trabalhadores migrantes, idosas e doentes.
Em geral estão impedidas de tomar decisões e no pior dos casos tampouco dispõem de representação no governo das comunidades, além do que cada vez têm menos segurança individual no marco da legislação tradicional.
Com demasiada frequência, os direitos que possa ter uma mulher ficam à mercê da vontade dos familiares homens. Se forem solteiras, divorciadas ou viúvas terminam muitas vezes dependendo de parentes distantes.
Segundo a FAO as mulheres camponesas, em particular, são as responsáveis pela metade da produção de alimentos no nível mundial e geram entre 60 e 80 por cento dos alimentos na maior parte dos países em desenvolvimento.
Nessas nações elas representam 43 por cento da mão de obra agrária, encarregadas não só da cadeia de valor agrícola de suas comunidades, mas também de produzir, processar e preparar os alimentos que são levados à mesa em seus lares.
Por exemplo, acrescenta o funcionário da ONU, na África subsariana e no Caribe, elas produzem até 80 por cento dos alimentos básicos, enquanto que na Ásia, entre 50 e 90 por cento do trabalho nos arrozais é realizado por mulheres.
Depois da colheita, as mulheres do campo nas nações em desenvolvimento são quase as únicas encarregadas das atividades de armazenamento, manipulação, comercialização e elaboração.
Em resumo, as mulheres do campo, trabalhadoras agrícolas, nas granjas, nas hortas, comerciantes nos mercados, empresárias e líderes de suas comunidades constituem mais de um quarto da população mundial. Além disso, cercam, abrigam e dão vida aos outros três quartos dos habitantes do planeta.
Em sua proposta de empoderá-las para provocar a mudança, especialistas asseguram que um progresso no seu acesso à educação, inclusive desde a mais tenra idade, garantiria um aumento de 43 por cento na segurança alimentar.

Dois caminhos complexos para a mudança: Mulher e Meio Rural

No evento de alto nível “Somemo-nos às mulheres do campo para por fim à fome e à pobreza”, realizado em fins de 2016 na sede da FAO, em Roma, foram abordadas as causas estruturais e as consequências das desigualdades de gênero nas áreas rurais.
De igual modo foram identificados os principais desafios e as oportunidades nas quais as mulheres vinculadas à agricultura, à pecuária, à pesca, podem contribuir para transformar seu entorno. Assim, 2017 poderia ser um ano decisivo nesta batalha.
É sabido que a pobreza extrema teve, nos últimos anos, uma sensível redução, mas nas zonas mais afastadas, no campo, é ainda muito aguda e onde se concentra o maior número de necessitados.
É real que quando as mulheres controlam os ganhos adicionais, ao contrário dos homens destinam sua maior parte a alimentos, atendimento médico, roupa, calçado e educação de seus filhos. Não há nada que as desvie dessa prioridade.
Por isso, dotá-las da capacidade necessária para desenvolver suas potencialidades é um investimento seguro em favor do bem-estar da família, do lar e da comunidade, o que de fato significaria apostar às gerações futuras e a um crescimento econômico e social de longo prazo.
Projeção que no meio rural, ademais, assegura o avanço agrícola, que é o alicerce para um progresso sustentável em geral da nação.
No entanto, para liberar ataduras e elevar as potencialidades femininas o concerto de vozes tem que ser grande e harmônico. Por isso a ideia vai acompanhada de um apelo de ajuda a todos os estados membros da ONU, à sociedade civil, ao setor privado e a todos os atores relevantes.
Para o presidente do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Konayo F. Nwanze, “não basta que nosso trabalho inclua as mulheres: se deve empoderar às mulheres econômica, social e politicamente.  As mulheres pobres do campo merecem mais dinheiro, mais status e mais poder de decisão tanto em casa como na comunidade. Com isso na mão elas podem conduzir a uma mudança sustentável e transformacional”.
Por sua parte, Tawakkol Karman, jornalista e ativista em defesa dos direitos humanos no Iêmen e Prêmio Nobel da Paz (2011), considera que “a paz não pode ser alcançada sem segurança alimentar, assim como não pode ser alcançada a segurança alimentar sem a paz”.
“As mulheres são agentes chaves da mudança para diminuir a insegurança alimentar e a má nutrição e construir um melhor futuro para todos”, na opinião de Neven Mimica, comissário europeu de Cooperação Internacional e Desenvolvimento.
De acordo com María Hartl, especialista em gênero e equidade social do FIDA, os ingredientes para  a transformação são o empoderamento econômico das mulheres do campo, dar-lhes voz na tomada de decisões, reduzir sua carga de trabalho e a eliminação da discriminação baseada no gênero.
Em princípio, para reduzir a pobreza e a fome, bem diz a FAO, a terra é um recurso fundamental.
Elas, da mesma forma que eles, devem ter idênticas oportunidades no acesso aos insumos agrícolas, à terra, à água, aos serviços financeiros, com o que se eliminam obstáculos que impedem que possam se desenvolver com todas as suas capacidades na lavoura e administração dos cultivos.
Em setembro de 2015, os 193 Estados membros da ONU adotaram  a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) dirigida a erradicar a pobreza e a fome, as desigualdades e desenvolver capacidades para responder à mudança climática e preservar o meio ambiente de uma maneira sustentável.
A igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas são parte dos 17 ODS, tanto em países desenvolvidos como naqueles em vias de desenvolvimento, os quais abarcam três dimensões no mesmo sentido: desenvolvimento econômico, inclusão social e proteção ao meio ambiente.
Por isso, mais de 90 chefes de estado e de governo se comprometeram a acelerar a igualdade de gênero em seus respectivos países para 2030.
O impulso ao tema é notável e objeto de constante revisão por parte da FAO e outros organismos globais, os quais no tempo que falta para a celebração do Dia Internacional da Mulher, o 8 de março de 2017,  se esforçam por cumprir a metas e compromissos importantes. Estimativas da própria FAO indicam que aproximadamente 795 milhões de pessoas no mundo estão subalimentadas. Um de cada nove habitantes do planeta está privado de consumir alimentos suficientes para levar uma vida ativa e saudável.
Além disso, a própria entidade internacional reconhece que um dos desafios fundamentais para o século XXI é alimentar uma população crescente que se espera que chegue a 10 bilhões em 2050.
Esse tema será parte essencial da agenda da Cúpula Juvenil Mundial de Agricultura que se celebrará de 9 a 13 de outubro de 2017, em Bruxelas, Bélgica.
Se considerarmos que 76 por cento da população que vive em extrema pobreza se encontra em zonas rurais e que as mulheres têm nesse meio um protagonismo, obrigadas pelas circunstâncias, é lógico que se reconheça nelas o agente essencial para aliviar e por fim erradicar este flagelo.
 
*Correspondente de Prensa Latina na Itália.
arb/smp
 
PL-56
 
2016-12-30T05:01:24
 


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