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Pepe Mujica: Assim pensamos os do Sul

Redação Diálogos do Sul

Tradução:

“Que estamos vivos por milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico é acima de tudo respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é o nosso nós.”

José (Pepe) Mujica*

Assista ao vídeo que registra sem o histórico discurso de Jose “Pepe” Mujica, Presidente de Uruguay, na Assembléia Geral da ONU em setembro de 2013. Subtítulos en Español.

Transcrição do histórico discurso do Presidente Uruguaio Jose Pepe Mujica na Assembléia Geral da ONU

José Pepe Mujica

“Amigos todos: sou do sul, venho do sul. Na esquina do Atlântico e do Prata, meu pais é uma planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e carne. Teve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que por fim ao iniciar-se o século XX colocou-se na vanguarda do aspecto social, do Estado, do ensino. Eu diria que a social democracia foi inventada no Uruguai.
Durante quase 50 anos o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, bastardos do império britânico no aspecto econômico e quando ele sucumbiu vivemos os amargos méis de termos de intercâmbio funestos e ficamos estancados, com saudades do passado.
Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje ressurgimos neste mundo globalizado talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz – porque alguma vez fui rapaz – que, como outros, quis transformar sua época, seu mundo numa sociedade libertaria e sem classes. Meus erros são em parte filhos do meu tempo. Obviamente eu os assumo, mas às vezes medito com nostalgia.

A força da utopia

Oxalá tivéssemos a força de quando éramos capazes de albergar tanta utopia! No entanto não olho para trás porque o hoje real nasceu nas cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou reverberar recordações.
Angustia-me, e de que maneira, o porvir que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez hoje a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Porém sou do sul e venho do sul, e a esta assembleia, trago comigo inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos pântanos, nas selvas, nos pampas, nos socavões da América Latina pátria comum que se está fazendo.

O bloqueio inútil a Cuba

Trago comigo as culturas originais esmagadas, os restos do colonialismo nas Malvinas, os bloqueios inúteis a esse lagarto sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Trago comigo as consequências da vigilância eletrônica que nada mais faz senão semear desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Trago comigo uma gigantesca dívida social, a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios da América.
Trago comigo o dever de lutar pela pátria para todos. Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e trago comigo o dever de lutar pela tolerância, a tolerância que se necessita para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferenças e dos que discrepamos. Não é necessária a tolerância para aqueles com quem estamos de acordo.

A tolerância é a paz

A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que no mundo somos diferentes. O combate à economia suja, ao narcotráfico, à burla, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, perfilhadas por esse antivalor, esse que afirma que somos felizes se enriquecermos seja como for. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos seus templos com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia, a prazo ou no cartão, a aparência de felicidade.
Pareceria que só nascemos para consumir e consumir, e quando não podemos carregamos a frustração, a pobreza e até a auto-exclusão.
A verdade hoje é que para gastar e enterrar os detritos nisso que a ciência chama de capa de carbono, se aspiramos nesta humanidade consumir como um americano médio seriam necessários três planetas para podermos viver.

O desperdício de vida

A nossa civilização montou um desafio mentiroso e assim como vamos indo, não é possível para todos acumular esse sentido de desperdício que se deu à vida. A verdade é que isso está sendo massificado como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e o mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento e desperdício, e no fundo isso constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade como futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.

Civilização” contra o amor

E o que é pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, a única coisa transcendente, o amor, a amizade, a aventura, a solidariedade, a família. Civilização contra o tempo livre não paga, que não se compra e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes afastados do entorno humano.
Cabe fazer esta reflexão: fugimos de nossa biologia que defende a vida pela própria vida, como causa superior, e a suplantamos pelo consumismo funcional para a acumulação.
A política, a eterna mãe do acontecer humano ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto a política não pode mais que perpetuar-se, e como tal delegou o poder e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Desregrada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de algum modo o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, os carros e até as férias. Tudo, tudo é negócio.
E ainda as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças e sua psicologia, para influir sobre os adultos e ter no futuro um território assegurado. Sobram provas destas tecnologias bastante abomináveis que às vezes conduzem a frustrações e ainda mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre as financeiras e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e a liberdade, sempre sonha com liquidar as contas, até que um dia o coração para, e adeus. Haverá outro soldado cobrindo as faces do mercado, assegurando a acumulação. A crise se torna impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa, nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado no nosso código genético.

Um mundo sem fronteiras

Hoje, é tempo de começar a burilar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muito poucos, e cada estado nacional olha para sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos países, em minha humilde maneira de ver, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro no cofre dos grandes bancos. No fundo, eles são a cúspide do poder mundial. Claramente, acreditamos que o mundo pede a gritos regras globais que respeitem as conquistas da ciência, que abundam. Mas não é a ciência que governa o mundo. É preciso, por exemplo, uma ampla agenda de definições, quantas horas de trabalho de toda a terra. Como convergem as moedas, como é financiada a luta global pela água e contra os desertos.

Solidariedade com os oprimidos

Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de cada grande feito humano. Seria imperioso conseguir consenso planetário para desatar solidariedade para com os mais oprimidos, castigar impositivamente o desperdício e a especulação. Mobilizar as grandes economias, não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável do que fazer guerras. Dirigir um neo-keynesianismo útil em escala planetária para abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.

A política e a ciência

Talvez nosso mundo necessite menos organismos mundiais, esses que organizam os fóruns e as conferências, que servem muito para as cadeias hoteleiras e as companhias aéreas e no melhor dos casos ninguém recolhe e transforma em decisões…
Necessitamos sim mascar muito o velho e eterno da vida humana junto à ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade e não para gerar riqueza; com eles, de mãos dadas com os homens da ciência, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos pelo mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Mas sim a alta política entrelaçada com a sabedoria científica; ali está a fonte. Essa ciência que não busca lucro, mas que olha para o porvir e nos diz coisas que não atendemos. Quantos anos faz que nos disseram determinadas coisas que ignoramos? Creio que há que convocar a inteligência no comando da nave que está acima da terra; coisas desse tipo e outras que não posso desenvolver nos parecem imprescindíveis, mas requereriam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.

Não somos tão ilusos

Obviamente, não somos tão ilusos, estas coisas não acontecerão, nem outras parecidas. Temos ainda muitos sacrifícios inúteis pela frente, muito remendar consequências e não enfrentar as causas. Hoje o mundo é incapaz de criar regulação planetária à globalização e isso por causa do enfraquecimento da alta política, isso que cuida de tudo. Por último vamos assistir o refúgio de acordos mais ou menos “reclamáveis”, que vão propor um mentiroso livre comércio interno, mas que no fundo vão terminar construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. Por sua vez vão crescer setores industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por algum tempo, vamos estar entretidos e naturalmente vai continuar a acumulação para enriquecer, para regozijo do sistema financeiro.

Ir contra a espécie

Continuarão as guerras e, portanto os fanatismos, até que talvez a própria natureza ponha tudo em ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade e vemos o homem como uma criatura única, a única que há sobre a terra capaz de ir contra sua própria espécie. Torno a repetir, o que alguns chamam de crise ecológica do planeta é consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo, também nossa derrota, porque temos a impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. Contribuímos para construir e não nos damos conta.
Por que digo isto? São nada mais que dados. A verdade é que a população se quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990 aproximadamente a cada seis anos se duplica o comércio mundial. Podíamos seguir citando dados que estabelecem a marcha da globalização.
O que está acontecendo conosco? Entramos aceleradamente em outra época, mas com políticos, atavios culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a globalização, porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou estamos chegando aos limites biológicos.

Os efeitos da cobiça

Nossa época é portentosamente revolucionaria como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou menos, condução simplesmente instintiva. Muito menos ainda, condução política organizada porque nem sequer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das transformações que se acumularam.
A cobiça, tão negativa e tão motor da história, isso que fez avançar o progresso material técnico e científico, que fez o que é a nossa época e nosso tempo, um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos levou a domesticar a ciência e transformá-la em tecnologia nos precipita a um abismo brumoso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história e estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e perpetuar-nos transformando-nos.

O que é o todo?

Porque se este bichinho humano tem uma característica, é que ele é um conquistador antropológico. Parece que as coisas cobram autonomia e as coisas submetem os homens. Por um lado ou outro sobram ativos para vislumbrar essas coisas e, em todo caso, vislumbrar o rumo. Mas nos é impossível coletivizar decisões globais por esse todo. Falando mais claramente, a cobiça individual triunfou largamente sobre a cobiça superior da espécie. Vamos esclarecer o que é o todo, esse termo que utilizamos.
Para nós é a vida global do sistema terra incluindo a vida humana com todos os equilíbrios frágeis que tornam possível que nos perpetuemos. Por outro lado, mais simples, menos opinável e mais evidente. Em nosso ocidente, particularmente, porque daí viemos, embora tenhamos vindo do Sul, as repúblicas nasceram para afirmar que os homens somos iguais, que ninguém é mais que ninguém, que seus governos deveriam representar o bom comum, a justiça e a equidade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento das pessoas correntes, as que andam pelas ruas, o povo comum.
As repúblicas não foram criadas para vegetar sobre a grei, mas pelo contrário, são um grito na história para tornar funcionais à vida dos próprios povos e, portanto, as repúblicas se devem às maiorias e a lutar pela promoção das maiorias.

A cultura consumista

Seja por reminiscências feudais que estão ali em nossa cultura, seja por uma classe dominante ou talvez pela cultura consumista que nos rodeia a todos, as repúblicas frequentemente, em suas direções, adotam um viver diário que exclui, que se distancia do homem da rua.
De fato, esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os governos  republicanos deveriam se parecer cada vez mais aos seus respectivos povos na forma de viver e na forma de comprometer-se com a vida.
O fato é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesanias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que no fundo somavam o melhor que têm as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo destes e de outros fatores nos retém na pré-história. E hoje é impossível renunciar à guerra quando a política fracassa. Assim se estrangula a economia, malbaratamos recursos.

Dois milhões por minuto

Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto são gastos dois milhões de dólares em orçamentos militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em orçamento militar! A pesquisa médica, de todas as doenças, que tem avançado enormemente e é uma benção para a promessa de vivermos alguns anos mais, essa pesquisa gasta apenas um quinto da pesquisa militar.
Este processo do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e também esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticar a cada um de nós, pessoalmente. E creio que seria uma inocência dizer que neste mundo existem recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, outra vez, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantam a paz e que dêem aos mais fracos garantias que não temos. Assim haveria enormes recursos para recortar e atender as maiores vergonhas sobre a Terra. Mas, basta uma pergunta: nesta humanidade hoje, aonde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual faz reservas de armas de acordo com sua magnitude, e assim estamos porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua quota de poder.

O papel da ONU

De fato, bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas o que é pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser iguais neste mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia planetária ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e que verdadeiramente exista. E então, remendamos doenças ali onde eclodem e aparecem segundo a vontade de algumas das grandes potências. O resto, olhamos de longe. Não existimos.
Amigos, eu creio que é muito difícil inventar uma força pior que o nacionalismo chauvinista das granes potencias. A força que é libertadora dos fracos. O nacionalismo pai dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora na mão dos fortes e nos últimos 200 anos tivemos exemplos em toda parte.

Nosso pequeno exemplo

A ONU, nossa ONU se enfraquece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Dou um pequeno exemplo, bem pequenino. Nosso pequeno país tem em termos absolutos a maior quantidade de soldados em missões de paz dos países da América Latina, esparramados pelo mundo. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos.
Mas somos pequenos, fracos, Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu digo que enquanto o homem viver com clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.

As solidões da guerra

Enquanto o homem não sair dessa pré-história e arquivar a guerra como recurso quando a política fracassar, essa é a longa marcha e o desafio que temos pela frente. E dizemos isso com conhecimento de causa. Conhecemos as solidões da guerra. No entanto, estes sonhos, estes desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar passo a passo as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que supere o individualismo e brigue para recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência e não apenas aos interesses imediatos que estão nos governando e afogando.
Paralelamente há que entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina são de toda a humanidade, e esta deve, como tal, globalizada, pretender a se empenhar em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência por si mesmos. Os recursos necessários existem, estão nesse depredador desperdício de nossa civilização.

A lâmpada de 100 anos

Há poucos dias fizeram na Califórnia, num quartel de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos; acesa há cem anos, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram do bolso fazendo deliberadamente porcarias para que a pessoas comprem, e comprem, e comprem.
Mas esta globalização de olhar por todo o planeta e por toda a vida significa uma transformação cultural brutal. É o que a história nos está requerendo. Toda a base material mudou e balançou, e nós, com nossa cultura, permanecemos como si nada tivesse acontecido e em lugar de governar a civilização, é ela que nos governa. Há mais de 20 anos discutíamos a humilde taxa Tobi. Impossível aplicá-la no nível planetário. Todos os bancos do poder financeiro se levantam feridos em sua propriedade privada e não sei quantas coisas mais. No entanto, isto é que é paradoxal. Com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo é capaz de transformar em verde os desertos.

O homem é capaz…

O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam com água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. Sobra energia no mundo se trabalharmos para usá-la. É possível arrancar de raiz toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível às gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduo, levar a vida às galáxias e continuar com esse sonho conquistador que nós, seres humanos, levamos em nossa genética.
Mas para que todos esses sonhos sejam possíveis, necessitamos governar-nos a nós mesmos ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização que fomos desenvolvendo de fato.
Este é nosso dilema. Não vamos nos entreter apenas remendando consequências, Pensemos nas causas de fundo, na civilização do desperdício, na civilização do use-e-jogue-fora, que o que está jogando fora é tempo de vida mal gasto, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico é acima de tudo respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é o nosso nós.
Obrigado”.
* Discurso completo de Mujica na ONU – Publicado em 24/9/2013 – 23:00
 
VEA TAMBIÉN EL EXTRAORDINARIO DISCURSO DE JOSE PEPE MUJICA EN UNASUR ECUADOR 2014:
PARTE 1 https://www.youtube.com/watch?v=axgrb…
PARTE 2 https://www.youtube.com/watch?v=gQiO3…

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Redação Diálogos do Sul

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