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ToggleA confirmação pública do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre ter autorizado pessoalmente a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) a atuar na Venezuela por meio de operações encobertas, encerra um dia de alta tensão dentro da escalada militar documentada de Washington no Caribe.
Paralelamente, o Governo venezuelano ativou o Plano Independência 200 nas regiões estratégicas de Caracas e Miranda.
Para analisar o ocorrido, em uma conversa com a Sputnik, o cientista político e analista geopolítico William Serafino explica que a autorização de Trump à CIA é uma resposta à efetiva capacidade de contenção demonstrada pelo Estado venezuelano.
O especialista argumenta que o objetivo estratégico dessas ações seria superar o “limiar de contenção” que, até agora, tem frustrado as campanhas de desestabilização contra o país sul-americano.
O padrão operacional em curso
Ao ser questionado sobre as razões que levariam Washington a permitir esse tipo de ações, Serafino argumenta que é provável que essas operações “nunca deixaram de ser autorizadas”.
Em sua visão, as operações encobertas dos EUA contra a Venezuela se mantiveram como “uma opção sobre a mesa, sendo executadas no terreno, embora sem sucesso ou [existindo] em um estado de latência e preparação”.
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O analista sugere que o vazamento atual poderia ser, de fato, “uma fotografia em sépia de decisões tomadas com muita antecedência”. No entanto, identifica um catalisador imediato: “o passo é uma resposta à grande capacidade de contenção que o Governo venezuelano tem exibido para frustrar desde atentados terroristas até operações de bandeira falsa”.
Segundo Serafino, Washington estaria buscando “um impulso adicional que lhes permita não só superar esse limiar de contenção, mas como recurso alternativo diante da perspectiva de que uma intervenção militar convencional não ocorra afinal de contas”.
Sobre a natureza concreta que essas operações poderiam adotar, o especialista antecipa que seguiriam “o registro, o padrão e o molde operacional de eventos de desestabilização e violência no passado recente”. Entre elas, enumera “assassinatos seletivos e introdução de armas para criar focos de insurreição armada”.
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Um elemento central nessa estratégia, adverte, é a narrativa fabricada pelos EUA sobre supostos grupos do narcotráfico. Para Serafino, esse é o fio condutor de potenciais operações, destinadas a gerar “atos de sangue”, o que é sumamente perigoso.
Isso “habilitaria ações próprias dos modelos criminosos de contrainsurgência que [Washington] tem implementado historicamente na América Latina”.
O dilema da coesão nacional
Diante da premissa de que uma operação de alta visibilidade, ao estilo do assassinato do general iraniano Qasem Soleimani, poderia coesionar ainda mais o povo venezuelano contra uma ameaça externa, Serafino coloca que essa é “a grande incógnita da operação de mudança de regime”.
A pergunta-chave, expõe, é: “até que ponto é possível avançar mantendo um relato de triunfo, mesmo que relativo e parcial, mas evitando efeitos contraproducentes importantes para a agenda de Washington?”.

O analista considera que “esse equilíbrio, em termos de teoria dos jogos e cálculo de custo-benefício, não está totalmente resolvido”. Essa incerteza, intui, explica por que “o impulso desestabilizador continua se baseando na triangulação de ataques a pequenas embarcações, ameaças militares e operações psicológicas“.
Serafino identifica um padrão claro nos últimos meses: “primeiro um ataque ilegal, sanguinário e sem provas que vinculem a Venezuela no Caribe, depois projeção de poder mediante mobilização de ativos militares ofensivos e, posteriormente, vazamentos que buscam intimidar o Governo e o país”.
Manter a comoção e reiniciar o ciclo
Quanto a se toda essa estratégia constitui uma operação psicológica para manter um estado de máxima pressão, Serafino afirma que se trata de uma estratégia desse teor, que estaria sendo empregada para “multiplicar o efeito de intimidação e cerco geopolítico” de eventos, como os ataques a embarcações:
A publicação em um veículo de comunicação importante, em contrapartida, “mantém a agenda em evidência e a opinião pública em estado de comoção, enquanto se reinicia a triangulação”, o que caracteriza a estratégia estadunidense.
Antecedentes históricos dos eventos atuais
Ao revisar os antecedentes históricos de operações semelhantes que tenham derivado em uma mudança de regime, Serafino esquematiza três modelos de intervenção estadunidense na América Latina: “o golpe de Estado tradicional (Guatemala, Brasil), a invasão militar punitiva (República Dominicana, Panamá, Haiti) e a infiltração paramilitar com fins de guerra suja”.
O especialista adverte que a aplicação mecânica desse formato esbarra em realidades venezuelanas particulares.
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“Um extenso território, um entorno geopolítico manejável, um aparato defensivo sólido e uma doutrina militar de defesa integral profundamente enraizada no Governo, na Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) e nas correntes políticas patrióticas e soberanistas do país, que vão além do chavismo”, pondera.
A combinação de medidas defensivas como o Plano Independência 200, o alerta diante de movimentos militares estrangeiros e a resiliência demonstrada frente a operações anteriores, configura um cenário onde, segundo Serafino, os ataques encobertos enfrentam obstáculos estruturais que complicam substancialmente seus objetivos finais.
“É nessa singularidade que se encontra a principal dificuldade para Washington. Não percebo que seja tão fácil e linear traduzir uma operação encoberta” para buscar uma mudança governamental, conclui.
* Imagens na capa:
– Nicolás Maduro: Presidência da Venezuela
– Donald Trump: Casa Branca / Flickr
** Texto traduzido com apoio de IA.





