NULL
NULL
Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá*
Os enclaves espanhóis, Ceuta e Melilla, localizados na África Setentrional, têm sido ponto de partida de uma “Jihad espanhola” materializada em território sírio e iraquiano.
Trata-se de um reforço para bandos que se utilizam de ataques e ações terroristas, a exemplo dos que ora perpetram os temidos extremistas do nomeado ISIS ou Grupo Estado Islâmico.
Da Espanha têm sido exportados “soldados” para essa nova “guerra santa”. O epicentro desse recrutamento está em Madri, a capital espanhola. Ele faz conexões com outras cidades europeias e tem por objetivo o envio dos jihadistas a áreas de conflito.
Na cidade holandesa de Haia, mais conhecida por seus tribunais internacionais, observa-se um recrudescimento da intolerância de sua população em face ao que consideram um comportamento anticonstitucional de determinadas comunidades de imigrantes muçulmanos.
Algo semelhante ocorre no país vizinho, a Bélgica. Apesar de vestimentas como a burca e o véu completo serem vistos como contrapontos de liberdades individuais, além de inviabilizarem a identificação de possíveis infiltrados, muitas mulheres muçulmanas relutam em utiliza-las. Da Bélgica também saem “soldados” para minar o que resta das fracas democracias ou das poucas tentativas de construí-las no Oriente Médio.
Enquanto isso, liberdade, igualdade e fraternidade ficam longe de bairros inteiros de cidades francesas. Militantes do islamismo radical têm posto à prova o sentido da democracia francesa ao impor segregação entre homens e mulheres em lugares públicos e suas próprias leis a bairros inteiros. Preferem ignorar a história e a luta francesa para a superação das trevas do medievalismo e a ascensão do Iluminismo.
Mesmo uma sociedade tolerante e aberta como a dinamarquesa se viu em meio a uma inesperada e irracional contenda, quando da publicação, por um jornalista dinamarquês, de caricaturas que para fanáticos religiosos seriam ofensivas às suas crenças. O evento causou um cisma na população e o fortalecimento de sua extrema direita.
Essas investidas de extremistas infiltrados nas cidades europeias mostram que os governos democráticos do velho mundo não podem se curvar a determinados grupos, que põem em risco suas mais caras conquistas: a laicidade do Estado e o respeito aos direitos humanos. São esses atributos humanitários que devem ser preservados, pois viabilizam a acolhida em solo europeu de muitas minorias perseguidas ao redor do mundo. Tais atributos permitiram, ao longo dos tempos, a vinda e a coexistência de povos distintos, muitos dos quais não são tolerados em suas próprias pátrias.
O combate aos que se opõem ao mesmo sistema que lhes dão uma nova chance deve prevenir essas pessoas de se transformarem em “ovo da serpente”, pois a Europa tem que continuar sendo o continente que acolhe e convive com as diferenças. Pode-se apreender, para o momento atual, os ensinamentos dessa parábola do “ovo da serpente” que foi consagrada no cinema e que se refere à 1a e 2a guerra mundial, nas quais as potencias ocidentais toleraram e conviveram com a ameaça do surgimento do nazismo.
Como são transparentes, os ovos das serpentes, se colocados de frente à luz do sol, permitem que sejam vistos os filhotes em formação; no caso das duas guerras mundiais, o nazismo e seu racismo inerente; no caso atual da questão dos fundamentalistas na Europa, o extremismo, a intolerância e seus efeitos nefastos à paz mundial.
* Original do blogue Controversia.com.br – Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá é professor – Universidade Federal do Ceará
Email: c_tupinamba@hotmail.com