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Os juízes da Corte, a ditadura judicial e as eleições de 2018

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Em meados de março, a suprema Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, mandou arquivar o processo contra o senador José Serra (PSDB-SP), derivado das delações de Joesley Batista. Este na condição de rei da carne que conseguiu botar mais de 200 políticos na sua folha de pagamento, com intenção clara de reinar sobre os poderes da República.

Por Paulo Cannabrava filho*

Paulo Cannabrava

Se o caso do senador José Serra, por exemplo, foi arquivado porque a delação de Batista foi falsa, sem sustentação, põe em cheque todas as demais acusações do delator, que o Estadão qualifica de bandido de todos os calibres.

Um delator com enorme conhecimento acumulado daqueles que chegaram ao píncaros do poder graças a seu empenho, não deixa de ser poderoso, com grande poder de barganha, mesmo estando preso. Contudo, agora, com a suspeição da qualidade de suas delações, in dúbio pro reo, ou seja, poderão se safar todos os acusados.

Não é o caso de colocar em discussão o mérito do acusado ser ou não criminoso. Isso não importa. O que realmente importa é que o Estado tem que provar a culpa e então condená-lo. A ética manda que se respeite a dignidade das pessoas. O linchamento fere a imagem pública irremediavelmente.

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 O linchamento midiático é a mais grave violação da ética

 

Linchamento é das mais graves violações da ética dos jornalista. É o que estão fazendo com Lula. Sob o ponto de vista profissional; se trata de uma violação inominável. O que estão fazendo com o líder petista, mais que um linchamento é um verdadeiro assassinato político. São meses seguidos, dias e dias sem fim dizendo que é culpado.

Com essa persistente repetição, estão criando um clima para que não haja outra alternativa que a de condenar Lula e tirá-lo do jogo político. É incrível, mas o supremos juízes se deixaram encurralar e não sabem ou não têm a coragem suficiente para colocar as coisas nos eixos.

 

O que fazer? Condená-lo ou absolvê-lo?

 

A presidente do STF, Cármen Lúcia, durante julgamento do habeas corpus de Lula | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Boa parte do povo já o condenou, influenciada mais pelo ódio de classe do que influenciada pela mídia. Mas tem muita gente que de tanto ouvir que o Lula é o Metralha acaba acreditando nisso.

E os supremos ministros? Serão eles os criminosos, mentirosos, corruptos que venderam a alma para absolver o réu? Vejam só a que situação chegamos, de extremo constrangimento dos supremos juízes. E agora, terão a honradez de impor a Justiça e liberar o acusado?

Não bastasse a pressão midiática, recebem um abaixo-assinado de procuradores e juízes que pedem, pedem não, exigem, condenação em segunda Instância. E a Constituição? Quem é que vai fazer ou como fazer para que se respeite a Constituição? Quem são esses caras que atuam acima da lei e da ordem e se julgam superiores aos milhões de brasileiros que aprovaram o texto constitucional?

 

Quem será o próximo?

 

No momento, já temos em andamento outro linchamento. Está apenas começando. O réu da vez é Michel Temer (MDB), o ilegítimo, que está na Presidência da República.

Já há algum tempo, é só pegar um taxi ou ir a um boteco na cidade de Santos e perguntar: e o porto? todo mundo sabe que no porto ninguém mexe, o porto é do Temer. Por que será que só agora agitam a mídia com isso?

Há outros crimes muito mais graves cometidos pelo ilegítimo, como o de traição à pátria. Nunca foi questionado pelo fato de estar na folha de pagamento da CIA, o serviço de inteligência dos EUA. Ao contrário, sempre foi apoiado e aplaudido na sua escalada ao poder. Reconheça-se, conquistou muito poder, seja como secretario de Segurança, deputado federal, presidente do PMDB (hoje MDB), presidente da Câmara Federal e como o vice da traição.

A pergunta é:

 

Por que só agora a exposição midiática de Temer?

 

Temer deu demonstração de poder como poucos nesse lapso em que exerceu o poder. Impressionante sua habilidade de fazer e desfazer o que lhe dá na telha. Tanto poder que já se crê o todo poderoso e quer continuar mandando. E como estamos numa democracia, já anunciou que é candidato à reeleição pelo MDB. (Ele foi eleito pra isso?).

Poderoso como é está armando com o Meirelles a aliança com as forças que lhe deram sustentação para manter-se no poder todo esse tempo. Tem a força política e a força da “economia que deu certo” conduzida por Meireles. É um ou o outro, não importa quem na cabeça. A dupla é poderosa e não se pode desprezar.

Temer quer a presidência e por ser tão poderoso levou preocupação a outros setores que também já há muito tempo estão adubando o terreno para a captura do poder. Certamente por saber disso é que Temer se apressou em lançar-se candidato.

 

Um duelo a três

 

É briga de foice no escuro, diria meu avô que nasceu no século XIX. Uma briga de três. Os três poderes da República que estão enfrentados. E nesse país de segurança jurídica zero, aprovam todas as maldades contra o povo, foi-se a soberania, e … estão levando nossas riquezas naturais. Até quando?

Carlos Marun, ministro da articulação política do ilegítimo Temer, provavelmente será malhado como Judas no sábado de aleluia. Num laivo típico dos deslumbrados anunciou extemporaneamente que pedirá o impeachment do supremo ministro Roberto Barroso.

Isso sim que é uma metida de pata nesse momento crucial para o ilegítimo. A resposta veio rápida.

Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM) | Foto: Lula Marques

Não esquecer que, em fevereiro, houve uma tentativa de arquivar o processo contra Michel Temer por falta de provas. Foi o ministro Barroso quem mandou prosseguir. Agora, o mesmo excelso ministro do Supremo ordenou à Polícia Federal prender os demais chefes do grupo e desvendar os arquivos e as contas bancarias de Michel Temer.

Já aventamos aqui que isso faria parte de um plano que está chegando ao fim. Derrubam o Temer. Na linha de sucessão está o presidente da Câmara Federal, o deputado Rodrigo Maia, que já anunciou que é candidato e disputará a Presidência pelo DEM/RJ. O segundo na linha sucessória é o presidente do Senado, o cearense Eunício Lopes de Oliveira (MDB). Este, com inúmeros contratos com a União que o enriqueceram e, também por questão de saúde, com um simples grito de alguém sairá correndo. Como foi a saída do antecessor, o poderoso Renan Calheiros.

O terceiro na linha sucessória é o Presidente do Supremo Tribunal Federal, no nosso caso, presidenta, a ministra Carmem Lúcia. Isso até dezembro, posto que em 2019 a presidência da suprema corte estará nas mão de Dias Toffoli.

 

O que pode acontecer?

 

O certo seria o presidente, o ilegítimo ou o interino que o suceda, convocar e presidir as eleições gerais previstas no Calendário Eleitoral para outubro deste ano. E mais certo ainda se os candidatos se apresentassem com propostas claras sobre soberania nacional, principalmente.

No entanto, o que teremos será muita fofoca. Podem se preparar. Alguns vão dizer que o Toffoli, por ter sido nomeado por Lula absolverá o réu. Outros dirão que é o plano estratégico que está sendo executado pela República de Curitiba para tomar o poder e transformar o país na primeira república causídica. Poderosos magistrados governando e legislando em causa própria. Uma ditadura judicial.

Fantasia à parte, há ainda muita água por correr e os jogadores estão apenas entrando no campo e marcando posição. A hora é de observação e planejamento. Quando o jogo começar, ai é que vamos ver a porca torcer o rabo.

*Jornalista, editor de Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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