Até 14 chefes e ex-chefes de Estado estão envolvidos no uso de paraísos fiscais e empresas offshore para a evasão fiscal, lavagem de dinheiro de procedência ilícita e para ocultar fortunas pouco claras, revelou ontem o projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) chamado Os Papéis de Pandora.
Nesta elite são apontados três presidentes: o chileno Sebastián Piñera, o equatoriano Guillermo Lasso e o dominicano Luis Abinader, além dos ex-mandatários colombianos César Gaviria e Andrés Pastrana, entre outros.
Entre os 12 milhões de arquivos secretos analisados pelo ICIJ, que foram publicados por The Guardian, BBC, The Washington Post e El País, entre outros meios associados, se estabelece a utilização por parte das elites da América Latina, inclusive políticos na ativa e aposentados, grandes empresários e até personagens do espetáculo, como a cantora colombiana Shakira, da montagem de redes de empresas fantasmas, sociedades interpostas e arquivos mercantis pouco transparentes para transferir suas fortunas por meio de paraísos fiscais como as Ilhas Virgens Britânicas e o Panamá.
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“Só na América Latina teriam evadido ao erário público até 40 bilhões de dólares desviados a paraísos fiscais”. A Maioria dos políticos latino-americanos que figuram na investigação são “de corte conservador”, aponta a investigação, que adverte que além dos três presidentes ativos, haveria até 11 ex-mandatários envolvidos: os colombianos César Gaviria (1990-1994) e Andrés Pastrana (1998-2002), mencionados acima, assim como o peruano Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018); o hondurenho Porfirio Lobo (2010-2014); o paraguaio Horacio Cartes (2013-2018) e os panamenhos Ernesto Pérez Balladares (1994-1999) Ricardo Martinelli (2009-2014) e Juan Carlos Varela (2014-2019).
montagem reprodução
Até 14 chefes e ex-chefes de Estado estão envolvidos no uso de paraísos fiscais e empresas offshore para a evasão fiscal.
O governante da República Dominicana, Luis Abinader, tem vinculação com duas sociedades no Panamá, Littlecote Inc. e Padreso SA; ambas foram criadas antes que assumisse o cargo, em agosto do ano passado. “Ao ser investido presidente, em 2020, o mandatário declarou nove sociedades offshore que controlava por meio de um fideicomisso”, apontam os Papéis de Pandora.
O equatoriano Guillermo Lasso, que trabalhou o setor bancário e iniciou sua gestão em maio passado, chegou a operar com “14 sociedades offshore (a maioria no Panamá) e as foi fechando só depois que o correísmo impulsionasse uma lei que proibia os candidatos de ser beneficiários de empresas localizadas em países fiscais”. O mandatário sustenta que dez dessas sociedades já estão inativas; e sobre as outras quatro nega qualquer relação ou benefício.
A investigação também toca o Brasil, ao apontar os dois homens mais poderosos do mundo econômico: o ministro do ramo, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Guedes figura como acionista da empresa Dreadnoughts International Group, registrada nas Ilhas Virgens Britânicas. Os documentos mostram como o ministro, guru econômico do presidente Jair Bolsonaro, tinha em 2014 pelo menos oito milhões de dólares investidos na companhia registrada em seu nome, no de sua esposa, María Cristina Bolivar Drumond Guedes, e de sua filha, Paula Drumond Guedes.
O presidente do Banco Central, Campos Neto, é proprietário de quatro empresas, Cor Assets e ROCN Limited, registradas no Panamá em sociedade com sua esposa, a advogada Adriana Buccolo de Oliveira Campos. O objetivo declarado das companhias era investir nos ativos financeiros do Santander Private Bank, do qual Campos Neto foi membro do conselho executivo. As outras empresas pouco transparentes são Peacock Asset, gerida pelo banco Goldman Sachs, e que foi descoberta na investigação Bahama Leaks de 2016; e Darling Group, uma empresa de “gestão imobiliária”.
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No caso da Colômbia, a investigação focou ex-mandatários conservadores, César Gaviria e Andrés Pastrana, que acudiram a este tipo de serviços financeiros uma vez que haviam deixado o poder e para investir sua fortuna pessoal.
No caso da Argentina, a investigação aponta a Jaime Durán Barba, consultor político que catapultou à presidência Mauricio Macri em 2015 e Zulema Menen, filha do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999). Pelo lado do kirchnerismo, os papéis implicam em manejos offshore a Daniel Muñoz (já falecido), ex-secretário do também falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), “e algumas figuras chaves no processo aberto pela recepção de supostas comissões ilegais pagas por empreiteiros de obra pública aos governos peronistas”.
Armando G. Tejeda, Correspondente de la jornada em Madri.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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