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Foto: Dina Boluarte / X

Para oligarquia do Peru, democracia é esmagar o povo e entregar riquezas ao império

O que buscam no Peru é consolidar um regime que lhes permita destruir a vontade popular e no qual governam aqueles que perderam as eleições
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

A Festa Nacional no Peru constitui sempre um motivo de reflexão sobre o sentido de Pátria; evoca a beleza literária desenvolvida pelo poeta Marco Martos, que há alguns anos apresentou aos peruanos uma criação certeira. Nela, ele nos disse: “Não é este o seu país / porque conheces suas fronteiras / nem pela língua comum / nem pelo nome de seus mortos / Este é o seu país / porque se tivesse que fazê-lo / você o escolheria novamente / para construir aqui / todos os seus sonhos…”.

Uma sugestiva ideia, sem dúvida, que nos leva a assegurar que a Pátria não é só a história e a paisagem. É também o sentimento dos homens e mulheres que vivem e lutam nestas fronteiras e que serão capazes, sempre, de encontrar uma rota de saída aos desafios que obstruem, por agora, a concretização de seu destino.

A palavra “Pátria” — como a palavra “Liberdade” — parece sempre muito bela. Acontece, porém, que é usada por aqueles que se escondem atrás dela, ocultando vis desígnios. Servem para encobrir desmandos e trapaças de alto nível. Em outras palavras, para embelezar crimes abomináveis e esconder propósitos avessos.

Assim, por exemplo, nos falam de “democracia”, “estabilidade política”, “sucessão constitucional”, e outras frases semelhantes quando o que buscam é consolidar um regime irrito que lhes permita destruir a vontade popular e recompor um esquema imposto contra a vontade cidadã, no qual governam aqueles que perderam as eleições.

Eles, por sua vez, desconsideram todos os direitos cidadãos e forjam um “modelo” de dominação contrário aos reais valores nacionais.

Exibindo um cinismo desavergonhado, rejeitam os convênios internacionais referidos aos Direitos Humanos, argumentando que o Peru é um país “soberano”, que não pode “se submeter” a “ditados estrangeiros”. Em paralelo, aplicam sem hesitar as receitas do Fundo Monetário e se submetem às decisões dos organismos financeiros internacionais.

Desrespeito à soberania do Peru

Todos vimos a “generala” do Comando Sul dos Estados Unidos, senhora Laura Richardson, dirigir as tropas militares peruanas em práticas de guerra em diversas ocasiões. E também permitimos que o território nacional fosse pisado por soldados dos Estados Unidos, que ocuparam as instalações militares de nosso país sem o menor respeito à nossa Independência e Soberania. Isso é Patriotismo?

Os que falam do “respeito” às riquezas nacionais permitiram sempre que empresas estrangeiras levassem os recursos naturais, deixando como marca de seus latrocínios grandes buracos. Quem levou o Petróleo peruano desde 1911 até 1968, hasteando sobre o céu de Talara a bandeira dos Estados Unidos como se fosse território norte-americano? Quem leva desde 1953 o cobre de Toquepala, e depois o de Cuajone e o de Quellaveco; e agora aspiram — com a cumplicidade do governo — levar também toda a riqueza mineral de “Tía María”?

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Quem depredou a antiga cidade de Pasco e explorou os solos de Huancavelica e Apurímac, deixando fome, morte e miséria espalhadas em prejuízo de milhares de peruanos? Quem está por trás dos lotes petrolíferos da Amazônia, e busca obsessivamente destruir a Petro Perú? Quem aporta capitais a empresas supostamente peruanas para que explorem recursos, como em Yanacocha, Conga, Antamina e outras?

Muito recentemente, a empresa norte-americana Anadarko assegurou que o Peru poderia incrementar sua produção de petróleo em 400% após a descoberta de jazidas de petróleo na costa norte do nosso país. Mas, de quem será esse petróleo?

Hoje, o Chanceler da República tem o descaramento de elogiar o traidor Philippe Pétain, condenado pela Justiça Francesa por seu papel como testa-de-ferro de Hitler no “Governo de Vichy” durante a ocupação nazista do país Galo; e também responsável pelo holocausto judeu ao qual contribuiu com mais de 60 mil vítimas; ao mesmo tempo que silencia diante do genocídio sionista contra a Palestina em Gaza e outros lugares e se toma “a liberdade” de “exigir eleições livres” na Venezuela quando não quer convocá-las aqui, e em aliança com a máfia fujimorista devora a estrutura do Estado para “assegurar” em 2026 uma “mudança” que favoreça a classe dominante.

É Patriótico e Democrático um país em que 67% das crianças registram índices de desnutrição, onde mais de 50% da população vive abaixo da linha da pobreza, onde 78% da PEA não tem um posto de trabalho, onde hoje mesmo há um milhão e meio de jovens que não estudam nem trabalham?

É Patriotismo guardar silêncio diante da insegurança cidadã, do crescimento do crime organizado, do esquecimento do interior, do abandono das populações de fronteira e de expressões tão dementes como “Puno não é o Peru”? Ou silenciar, quando em repúdio a Dina Boluarte se registraram 1.327 protestos, 240 bloqueios de estradas, 1.230 feridos e mais de 70 mortos, em meio à impunidade?

Em circunstâncias como esta, devemos levar em conta o que nos diz belamente Marco Martos, mas também fazer nossa a profunda sabedoria de José Martí: “O amor, mãe, à pátria não é o amor ridículo à terra, nem à relva que pisam nossos pés. É o ódio invencível a quem a oprime, é o rancor eterno a quem a ataca”.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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