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Javier Rodríguez*
Porém há outro significado importante neste esforço para manter a convivência entre os dois idiomas oficiais (guarani e espanhol) do Paraguai. Trata-se da decisão de todo um povo de não deixar morrer as expressões de culturas originarias pelo avanço da modernidade.
Partindo da base de que o guarani é falado por uns oito milhões de pessoas, a maioria no Paraguai, em zonas da Argentina e do Brasil e é também idioma oficial na Bolívia.
Segundo o último censo nacional, mais de 90 por cento dos paraguaios é bilíngue e 57 por cento se comunica só ou preferivelmente com a língua pre colombiana. Ainda assim, não se pode subestimar a presençaa importante do jopará, uma mescla dos dois idiomas nas grandes cidades.
O jopará inclui na conversação diárias palavras de uma e outra língua em algo considerado pelos linguistas como uma distorção desfavorável ainda que muito praticada.
Além disso, ao longo das últimas décadas foram detectadas deficiências no ensino do guarani nos centros escolares, com a não obediência dos horários programados para tal finalidade desde 1992, quando se proclamou como língua oficial do país.

Intelectuais e educadores, analistas sociais e organizações políticas progressistas ultimamente tem chamado a atenção sobre essa realidade e se pronunciaram por corrigir as deficiências e envidar esforços por superá-las.
A semana da Língua Guarani foi, sem dúvida, um projeto elogiável que vem obtendo a solidariedade em diferentes níveis da sociedade local.
As numerosas atividades desenvolvidas incluíram leituras de poemas, canções, sessões de dança, painéis de debate e outorga de homenagens a figuras emblemáticas do idioma e da batalha por sua preservação.
Graziella Corvalán, Bartolomeu Meliá, Carlos Federico Abente e Virgilio Barreiro, entre outros, foram reconhecidos por seu trabalho no estudo do guarani e do bilinguismo no Paraguai, através de textos e pesquisas.
Os setores mais vulneráveis do Paraguai, por sua vez, as etnias que resistem a extinção, os camponeses atacados pelos poderosos latifundiários e despojados de suas terras pelas grandes empresas agroexportadores e os trabalhadores espoliados não abandonaram o idioma.
Ao noticiar diariamente os fatos de qualquer natureza protagonizados por esses grupos sociais nas emissoras de radio e televisão se escutam as palavras de ordem e as falar populares nesse idioma.
Poder-se-ia dizer que as fortes expressões na língua originaria continuam transmitindo, apesar do passar dos tempos, a bravura e dignidade dos povos rebelados contra as injustiças mas também defensores de uma cultura que não permitiram seja morta.
*Correspondente de PL em Assunção, original da revista Orbe