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Paris em chamas: fim de semana é marcado por protestos dos coletes amarelos

Violentos confrontos no centro da capital francesa marcaram mobilização; oposição acusa governo Macron de facilitar as ações de grupos extremistas
Redação AbrilAbril
AbrilAbril

Tradução:

Violentos confrontos no centro da capital francesa marcaram o terceiro protesto dos “coletes amarelos”. A oposição acusa o governo Macron de facilitar as ações de grupos extremistas, em seu proveito.

Em diversas localidades francesas ocorreu a terceira jornada de mobilização nacional dos chamados “coletes amarelos” (gilets jaunes). O número de manifestantes em todo o território francês foi estimado em cerca de 75 mil pessoas e de aproximadamente 6 mil apenas em Paris.

Além de Paris, Biarritz, Bordeaux, Brest, Charleville-Mézières, Dijon, Dunkerque, Lille, Marseille, Montpellier, Orléans, Reines, Pau, Saint-Etienne, Estrasburgo, Toulouse, Villefranche-sur-Saône, foram algumas das cidades para as quais foram convocados protestos.

Violentos confrontos no centro da capital francesa marcaram mobilização; oposição acusa governo Macron de facilitar as ações de grupos extremistas

Plataforma Cascais
Os confrontos tiveram início nas proximidades do Arco do Triunfo mas rapidamente se alastraram às ruas próximas ao monumento

Saldo dos confrontos foi de 110 feridos e de 290 detenções

O movimento, iniciado autonomamente nas redes sociais como protesto contra o aumento anunciado do preço de gasóleo, rapidamente alargou a grupos políticos à esquerda e à direita do espectro político e se tornou veículo de protesto contra o aumento do custo de vida, a ausência de aumento salariais, os impostos elevados e, no geral, contra o presidente Emmanuel Macron, cuja popularidade já atingiu níveis mais baixos do que os de seu predecessor socialista François Hollande – algo que os sociólogos julgavam ser algo difícil de vir a acontecer.

Se na maioria do país e em outros pontos da capital o protesto aconteceu de forma relativamente pacífica, no centro de Paris, sob o foco das atenções dos meios de comunicação, um grupo organizado de manifestantes levantou barricadas, ateou fogos, vandalizou monumentos, lojas e viaturas, confrontando violentamente as forças policiais, resultando em mais de 110 feridos, dentre os quais cerca de 20 policiais, e em cerca de 290 detenções. Este foi o saldo dos distúrbios, segundo o jornal Le Monde, que cobriu os acontecimentos.

Infiltrados

Os confrontos tiveram início nas proximidades do Arco do Triunfo mas rapidamente se alastraram às ruas próximas ao monumento, muitas delas frequentados por turistas. Jornalistas registraram que vários manifestantes usavam máscaras e vestiam coletes amarelos aparentemente novos indicando a possibilidade de terem sido recentemente adquiridos não por verdadeiros “coletes amarelos” mas por pessoas que foram infiltradas no movimento..

Apesar de a concentração dos coletes amarelos estar programada para as 14h, já as 9h30 de sábado um grupo de manifestantes tentou erigir barricadas nos Campos Elísios e a polícia teve de garantir a segurança do túmulo do soldado desconhecido, sob o Arco do Triunfo.

Um grupo de manifestantes que tentaram forçar passagem pelos postos de controle policial na Praça da Estrela (Place de L’Étoile) – onde posteriormente ocorreram os maiores confrontos – reagrupou-se na Avenida MacMahon, onde estabeleceu uma barricada e deste local passou a apedrejar os policiais. Uma bandeira com a cruz céltica dos fascistas franceses foi exibida e um jornalista do Le Monde registrou, em paredes grafitadas, a frase “justiça para Esteban” – em referência ao skinhead Esteban Murillo, que foi condenado em primeira instância pelo assassinato do antifascista Clément Méric. A referida barricada só foi “desativada” pela polícia uma hora depois  do início dos confrontos.

A Batalha da Place de L’Étoile

Apesar de todas as passagens para a Praça da Estrela estarem ocupadas por um forte contingente policial, os confrontos entre manifestes e policiais no local mantiveram-se durante todo o dia. O Le Monde destacou a determinação dos “coletes amarelos” em não abandonar a praça, comportando-se de forma pacífica e exigindo continuamente a demissão do presidente Macron, entre uma “minoria de arruaceiros” e uma força policial “impressionante”, que fez uso de granadas de gás lacrimogêneo e ensurdecedoras e de canhões de água para dispersar os grupos mais agressivos.

Segundo o ministro do Interior Christophe Castaner, o contingente de policiais concentrado na Praça da Estrela,e para a proteção do Palácio dos Campos Elísios foi de 5 mil policiais. Número que não teve correspondência em nenhum outro ponto da cidade e acabou gerando resultados desastrosos.

Afastados da Praça da Estrela, os grupos mais agressivos de manifestantes lançaram o caos nos bairros elegantes do centro de Paris. Automóveis de luxo foram destruídas no 16.º bairro, perto do Trocadéro, e na avenida Kléber, a 100 metros da praça da Estrela, onde um quiosque de jornais serviu para alimentar as chamas que os bombeiros procuravam extinguir e um manifestante quebrou as câmaras de vigilância. Lojas foram pilhadas na rua do Rivoli e os grandes magazines Lafayette e Printemps, do Boulevard Haussmann, foram evacuados e fechados, com trabalhadores no seu interior. Um grupo atacou o antigo palácio da Bolsa e a estação do metrô foi fechada. Viaturas da polícia foram atacadas na rua Danielle-Casanova e nas proximidades do Jardim das Tulherias, onde o museu do Jeu de Paume sofreu danos. Na praça de Santo Agostinho, no 8.º bairro, uma loja Monoprix foi saqueada.

O ministro do Interior confirmou que os distúrbios não partiram dos manifestantes mas de arruaceiros e declarou a rádio TF1 “a existência de uma estratégia aplicada por profissionais da desordem”: 

“Não são coletes amarelos, são gente que veio para partir, pilhar, ferir e talvez matar (…) camuflados como coletes amarelos”.

A situação só foi “normalizada” depois das 19 horas.

Na Praça da República, a manifestação da CGT

Às 14h principiou, na Praça da República, uma manifestação que havia sido convocada pelos sindicatos da Confederação Geral de Trabalhadores (CGT), antes das organizadas pelos “coletes amarelos”. Manifestantes deste movimento juntaram-se aos cerca de 1500 sindicalistas, “contra o desemprego e a precariedade”, e desfilaram cantando “on est là, même si le patronat veut pas”.

Noutras localidades, os sindicatos também procuraram uma convergência com os “coletes amarelos”. Em Rennes, sindicalistas da CGT dirigiram-se-lhes e defenderam uma “convergência de lutas”, que não obteve resposta positiva, conforme noticiou o Le Monde. Ao contrário, segundo o mesmo jornal, em Orléans uma manifestação da CGT “pelo aumento de salários e em defesa do poder de compra” foi integrada por vários “coletes amarelos”.

Desde 20 de Novembro que a CGT vinha apelando aos cidadãos “ativos ou na reforma», para se manifestarem neste sábado na base “reivindicações ligadas ao poder de compra e à justiça social”.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação AbrilAbril

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