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Quem é quem: os 16 militares que estão no governo; já não há civil no núcleo duro

São cinco generais, um major da PM e um capitão; presidente da República é, inclusive, o que tem a menor patente
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

São cinco generais, sendo dois da ativa, um vice-almirante, um major da PM e um capitão. O núcleo duro do governo é aquele que se reúne todos os dias e tomas as decisões. Compõem esse núcleo o presidente, vice-presidente, secretário-geral da presidência, secretaria do governo, gabinete de segurança institucional, porta-voz da presidência e a assessoria especial da presidência. Já não há mais nenhum civil no Palácio do Planalto, a não ser os serviçais subalternos.

Vice-presidente, general Hamilton Mourão foi quem em janeiro de 2018 anunciou que os militares estavam formando uma frente de candidatos. Com essa mesma finalidade assumiu a presidência do Clube Militar. Este é inadmissível porque foi eleito junto com o presidente. Serviu em Missão da ONU em Angola. Ele foi punido pelo governo Dilma por ter pregado o golpe enquanto comandante da região militar Sul, em Porto Alegre. Maçom de alta hierarquia viajou pelo país durante a campanha pedindo voto. Agora compondo o núcleo duro do governo vai comandar o recém criado Conselho da Amazônia. Nenhum governador da região participou desse conselho. Mantém uma agenda proativa no Palácio, recebendo empresários e viajando ao exterior em representação do governo.

“Teremos muitos candidatos oriundos do meio militar — senão em todos, em grande número de estados. Embora concorrendo por diferentes lugares, eles terão uma linha-mestra de ação e um discurso mais ou menos aproximado, com os interesses da nação e dos militares. Eu serei um articulador disso aí”, declarou Mourão à revista Piauí.

Casa Civil, general Walter Braga Neto, está na ativa. É o chefe do Estado Maior das Forças Armadas e seguirá exercendo esse comando do Palácio. Ele substitui um dos poucos civis que ainda mandavam no Palácio, Onix Lorenzoni, que foi para o lugar de Osmar Terra na pasta da Cidadania, que cuida do Bolsa Família. Terra caiu por improbidade. Braga participou da missão da ONU em Timor Leste, foi adido militar nos EUA e na Polônia, interventor federal no Rio de Janeiro e, nos anos 1990, comandou o projeto Sivan-Sipan.

São cinco generais, um major da PM e um capitão; presidente da República é, inclusive, o que tem a menor patente

Flickr / Palácio do Planalto
Já não há mais nenhum civil no Palácio do Planalto, a não ser os serviçais subalternos.

Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, em 2005 foi o primeiro comandante militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH). Antes foi comandante militar da Amazônia e criticou a política indigenista do governo Lula por ter abandonado os indígenas. Quando ocorreram as grandes manifestações no Chile contra o governo neoliberal de Sebastián Piñera, disse que se algo parecido ocorresse no Brasil os militares entrariam em cena. É desses que crêem que a ditadura militar salvou o país. Salvou de quê?

Secretaria do Governo, general Luis Eduardo Ramos, sucedeu o general Carlos Alberto Santos Cruz, que se indispôs com o núcleo duro e saiu em junho de 2019. Ramos foi colega de Jair Bolsonaro na Escola Preparatória de Cadetes, participou da força especial da ONU na ex-Iugoslávia antes desta ser desmembrada, foi adido militar em Israel e comandante militar do Sudeste. Também serviu na tropa da ONU no Haiti. Em 2014 foi o encarregado da segurança da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos em 2016.

Secretaria-Geral da Presidência, major da PM do DF Jorge Oliveira, assumiu o lugar do general Floriano Peixoto Viera Neto que saiu para assumir a direção dos Correios, em junho de 2019. Participou da campanha e estava de assessor jurídico de Jair Bolsonaro enquanto deputado federal e desde o primeiro momento no Palácio.

General Floriano Peixoto Viera Neto serviu na Academia Militar West Point, nos EUA, e ainda como coronel no primeiro contingente da Minustah. Depois, como general, assumiu o comando dessa força.

Porta-voz da Presidência, general Otávio Rego Barros, participou de missão no Paraguai e na Minustah. Foi assessor da secretaria de Assuntos Estratégicos, comandou as tropas de intervenção no Rio de Janeiro que ocuparam o Complexo do Alemão e a Penha. Antes de integrar o governo, era chefe do Centro de Comunicação Social do Exército. Assumiu primeiro como chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que deixou em agosto de 2019.

Ministro de Ciência e Tecnologia, tenente coronel Marcos Pontes (astronauta): Formado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de São José dos Campos (SP). Durante oito anos recebeu treinamento no Johnson Space Center, em Houston, nos Estados Unidos, como representante do Brasil na Nasa. Estima-se que o governo brasileiro tenha investido US$ 30 milhões, o equivalente a R$ 100 milhões. Três meses pós concluída a missão, o militar anunciou sua passagem para a reserva remunerada da Aeronáutica, aos 43 anos de idade.

Assessor Especial da Presidência, vice-almirante Flávio Augusto Viana Rocha era comandante do 1.º Distrito Naval, no Rio de Janeiro, e foi chamado para ajudar a equipe de governo. Antes de assumir no Palácio foi diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha.

O capitão que ocupa a Presidência é o de mais baixa hierarquia e isso tem muito significado.

Além disso, militares ocupam os ministérios estratégicos como da Minas e Energia — Almirante de esquadra Bento Albuquerque — um dos últimos postos que ocupou antes de assumir o ministério foi a Diretoria Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha e também serviu em missão da ONU na antiga Iugoslávia.

Defesa-general Fernando Azevedo e Silva comandou a Brigada de Infantaria Paraquedista e presidiu a Autoridade Pública Olímpica de 2013 a 2015. Depois assumiu o Comando Militar do Leste. Participou da Minustah como chefe de Operações e foi assessor do presidente do STF, Dias Toffoli. Homem de confiança do general Augusto Heleno e foi contemporâneo de Jair Bolsonaro na Academia Militar.

Infraestrutura – engenheiro militar capitão Tarcísio Freitas, em 2015, atuou na Secretaria Especial do Programa de Parceria de Investimentos, responsável pelo programa de privatização. Prometeu retomar investimentos no sistema marítimo-portuário, que deve entrar numa intensa agenda de concessões, retomando e redesenhando os projetos de ferrovias no país e intensificando os investimentos e diálogos do governo para melhorar a estrutura aeroportuária, sem deixar de lado os milhares de quilômetros de rodovias do país, em que “ao menos 16 mil km devem ser concedidos pelo governo”, mas até agora… nada.

Controladoria-Geral da União – capitão Wagner Rosário é mestre em combate à Corrupção e Estado de Direito pela Universidade de Salamanca, na Espanha.

Comandante do Exército  General Edson Leal Pujol em substituição general Eduardo Villas Boas que se retirou por razões de saúde.  Pujol foi ministro da Defesa do governo interino de Michel Temer. Serviu na Missão Militar Brasileira de Instrução no Paraguai e antes de assumir foi chefe do estado maior do Exército. Comandou das Forças de Paz da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) e Secretário-Executivo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República em Brasília (DF).

Villa Boas foi comandante do Exército de 2015 até janeiro de 2019. serviu nos Comandos Militares da Amazônia e do Sul e foi Analista da Área Internacional, Chefe de Divisão e Subchefe no Centro de Inteligência do Exército. Foi chefe do Enfa do Comando Militar da Amazônia.  Como comandante, descaradamente ameaçou o presidente do STF para que não desse habeas corpus para Lula. O pior é o STF ter cedido. Foi quem ordenou a intervenção militar no Rio de Janeiro que gerou estupros, assassinatos, dezenas de mortos.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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