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Peru: ditadura Boluarte recorre à opressão pois tem medo da mobilização popular

Mandatária age como se a população fosse se abster de agir e a acatar em silêncio qualquer disposição que emane do Poder; ledo engano
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Usualmente ocorre que uma ditadura busca paralisar uma população infundindo-lhe medo. A intimida através de procedimentos violentos que a calam. Usa a repressão desenfreada, a ameaça constante, a legislação punitiva e a ameaça de prisão permanente. Está persuadida de que, desse modo, as pessoas se absterão de agir e acatarão em silêncio qualquer disposição que emane do Poder.

Sucede, no entanto, que muitas vezes esta política expressa um contrassenso. Vale dizer que, ao invés de gerar temor, reflete o medo que as autoridades sentem quando percebem a mobilização cidadã, o rechaço e o protesto.

A dupla que detém o Poder no Peru – Boluarte/Otárola – sente mais medo do que aquele que busca projetar sobre a cidadania. Recorre então a procedimentos perversos, mas eles revelam seu próprio temor, e não o que sente a cidadania na rua.

Esta última reage com a burla e o desprezo, mas não se assusta. Muitas vezes, ri das autoridades porque não as leva a sério. Em todo caso, sabe que todas as ameaças que lança o regime só refletem sua impotência e orfandade.

É conhecido o fato de que todas as pesquisas de opinião recolhem menos de 10% de adesão a Dina Boluarte, e menos de 6% ao Congresso da República. Essa é uma realidade que ninguém muda e que não se vai modificar com nenhuma das ameaças que nos faz o núcleo que hoje está ao mando.

O que acontece é que as instituições encarregadas de “assustar” a população fazem cotidianamente o ridículo. Os fatos o demonstram. Os Altos Mandos Policiais fazem cada dia “conferências de imprensa” para informar à cidadania acerca dos “êxitos” logrados pela instituição. Obviamente, não logram nenhum.

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Mandatária age como se a população fosse se abster de agir e a acatar em silêncio qualquer disposição que emane do Poder; ledo engano

Fotos: @WilsonChilo15 / Wayka
Organizações sociais durante protestos em Cusco, em 24 de janeiro de 2024

Sergio Tarache, o delinquente venezuelano que assassinou selvagemente uma moça peruana na Praça 2 de Maio há um ano, nunca foi capturado aqui. Cometeu seu crime e depois saiu do país como qualquer turista. Foi capturado pela Polícia colombiana, a de Gustavo Petro.

O mesmo ocorreu com Wanda del Valle. Ela cometeu delitos e esteve foragida da justiça. Depois foi embora, e caiu na Colômbia. É claro que nestes casos a “Benemérita” não teve nada que ver.

Tampouco teve que ver no caso da sobrinha de Pedro Castillo. Ela se “entregou” na Ponte de Desaguadero, na fronteira com a Bolívia, no meio de uma campanha de imprensa que busca apresentá-la como “colaboradora” da Promotoria.

Em troca, a Polícia Nacional teve que ver com outros fenômenos. No transcurso do ano passado, 1.000 de seus efetivos estiveram envolvidos com graves delitos. E não se tratou de simples policiais, mas de Generais, Coronéis, Majores, Capitães e outros. O novo chefe da instituição foi acusado recentemente em Arequipa por supostos delitos; e o vice-ministro recém-nomeado está acusado de conluio com a mineração ilegal em Lambayeque. Isto é que prejudica a instituição, e não as caricaturas de Carlín. Isso e o fato de que se sancione a La República e se busque uma Lei de “Anistia” que apague os delitos dos fardados.

Tanto vai a água ao cântaro em matéria de Delitos que já não se sabe se os últimos foram cometidos por delinquentes disfarçados de policiais, ou por policiais disfarçados de delinquentes.

A isto há que acrescentar o tema das armas e munições peruanas que reluziram na recente crise do Equador. A versão oficial é que não saíram de FAME, a empresa estatal de armas e munições peruanas, mas de FAMESA, uma empresa privada. Cabe perguntar-se então como saíram do Peru, quem permitiu que saíssem.

Numerosos casos vinculados a Boluarte (irmão e irmã) e a Otárola foram registrados em forma cotidiana, ou foram denunciados por redes sociais, a TV ou programas dominicais. No entanto, o Governo negou os fatos pretendendo tapar o sol com uma peneira.

Agora, a ditadura assegura que Dina Boluarte não irá a Puno à festa da Candelária. Nunca foi convidada. Não obstante, anunciou a decisão de enviar seus ministros, para atenuar o descontentamento. Não precisou que caramelos levarão os pobres para “contentar” a população. Melhor seria que os proteja.

Isso de “repartir caramelos” em Ayacucho não foi só uma estupidez. Também foi uma provocação. Ocorreu, no entanto, que se perdeu o controle da situação, e por isso se puxaram os cabelos. A sequela foi risível. Caiu a linha policial vinculada ao MINTER, mas ficou quase intacta a Casa Militar, responsável pela segurança presidencial. Ao chefe, o chutaram para cima, vale dizer, lhe deram um posto mais alto. Enquanto isso ocorria, o General Angulo cantava algumas coisas claras e deixava outras a contraluz. Isso iniciou um pleito diante do qual é preciso situar-se no Palco Presidencial para vê-lo melhor.

Finalmente, a ditadura anunciou que “juízes sem rosto” sancionarão delitos. Pareceria que, dessa forma, José Luis Gil, Baella e outros ex-chefes da DICORTE se vestirão de juízes com capuz para ditar sentenças.

Em definitivo, o medo os devora.

Gustavo Espinoza M. | Colunista na Diálogos do Sul direto de Lima, Peru.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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