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Volodymyr Zelensky, durante visita do Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, à Ucrânia, em 28/09/2023 (Foto: Otan / Flickr)

Plano de paz vazado indica fim da guerra na Ucrânia em 9 de maio: Dia da Vitória contra o nazismo

Proposta prevê Ucrânia fora da Otan, adesão à União Europeia, fim das sanções à Rússia e reconhecimento dos territórios ocupados. Conferência internacional e eleições ucranianas também integram cronograma
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul Global
Paraty (RJ)

Tradução:

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, estaria articulando um plano de paz de cem dias para encerrar a guerra por procuração na Ucrânia. A informação consta de um documento vazado pelo periódico ucraniano Strana, que detalha nove pontos para finalizar o conflito. De acordo com o jornalista Tim White, há relatos de que autoridades da União Europeia teriam enviado detalhes do plano a Kiev. O documento, no entanto, não foi confirmado por nenhuma fonte oficial.

A Europa recebeu mal a informação e os principais jornais do bloco manifestaram repúdio a uma negociação que não contemple os sócios da Otan, verdadeira impulsionadora da guerra. Desde o início do conflito, a União Europeia e o Reino Unido têm se comportado como vassalos dos Estados Unidos contra a Rússia. Na prática, os europeus abriram mão de sua soberania em troca de uma falsa sensação de segurança, se alinharam cegamente aos interesses estratégicos estadunidenses e terão que arcar com a fatura da guerra. 

Mais um “Dia da Vitória” contra os nazis

O jornal Strana revelou que o plano de 100 dias, atribuído a Donald Trump, está sendo intensamente discutido nos círculos políticos de Kiev, que vê sua força militar minguar junto com a popularidade de seu governante, Volodmir Zelensky, que conta com a aprovação de apenas 34% da população, de acordo com o instituto ucraniano Razumkov

.O primeiro passo do cronograma carregado de simbologias seria a revogação, por Kiev, do decreto que proíbe negociações com o presidente russo, Vladimir Putin. Em seguida, Trump se reuniria com representantes de ambos os países para estabelecer os parâmetros do processo de paz. 

Neste ano, a Páscoa cristã, celebrada por católicos e protestantes, coincide com a comemoração ortodoxa. Esta data, 20 de abril, marcaria o inícío de um cessar-fogo, com a retirada definitiva das tropas ucranianas da região russa de Kursk. No fim de abril, seria realizada uma Conferência Internacional de Paz, mediada pelos EUA, China, países europeus e do Sul Global, com o objetivo de formalizar o fim da guerra.

Já a assinatura oficial do acordo ocorreria em 9 de maio, coincidindo com o “Dia da Vitória” da antiga União Soviética sobre a Alemanha nazista, em 1945. A simbologia viria carregada de significados, já que a Rússia diz estar travando um combate pela desnazificação ucraniana. O cronograma ainda contempla eleições presidenciais na Ucrânia em agosto de 2025 e parlamentares em outubro do mesmo ano.

Guerra na Ucrânia: conflito pode chegar ao fim em 2025?

Pilares do acordo de paz

O que tem chamado a atenção europeia e ucraniana é que o documento vazado detalha o processo para a paz sem garantir espaço para revisões ou negociações. Manchetes como “Europa teme ser relegada por Trump em negociações de paz sobre Ucrânia”, publicadas pelo o El País, evidenciam essa insatisfação. Para os europeus, o plano, como está sendo proposto, retira seu protagonismo em uma guerra na qual investiram cerca de US$ 135 bilhões em três anos, somando assistência militar, econômica e humanitária.

Os termos do acordo são:

  1. Neutralidade da Ucrânia e proibição de seu ingresso na Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan).
  2. Adesão da Ucrânia à União Europeia, prevista para ocorrer até 2030.
  3. Manutenção do Exército Ucraniano e continuidade do apoio norte-americano à modernização das Forças Armadas do país.
  4. Os territórios ocupados pela Rússia não poderão ser reivindicados pela Ucrânia, embora não haja reconhecimento formal da soberania russa nessas regiões.
  5. Levantamento gradual das sanções impostas à Rússia no prazo de três anos.
  6. Retirada das restrições de importação de energia russa pela União Europeia, com a implementação de uma taxação especial destinada à reconstrução da Ucrânia.
  7. Fim da proibição de partidos políticos pró-Rússia, permitindo que participem do sistema eleitoral ucraniano.
  8. Revogação das restrições ao uso do idioma russo e à Igreja Ortodoxa Ucraniana.
  9. Possível presença de forças de paz europeias após o cessar-fogo.

Moscou em posição confortável

Em declarações recentes, Putin confirmou disposição de conversar com Trump, mas negou quaisquer negociações com Zelensky, cujo mandato presidencial acabou em maio do ano passado. 

Diversos analistas avaliam que Moscou se encontra em uma posição favorável demais para ceder em negociações. Entre outubro e dezembro do ano passado, as tropas russas avançaram 593 km², uma média de 18 km² por dia em solo ucraniano. 

Além disso, conquistaram localidades estratégicas, como Velika Novosilka, ao sul de Donetsk, e prosseguem com avanços em várias frentes, incluindo Kurakhovo, consolidando seu controle sobre áreas vitais. Por sua vez, a Ucrânia se encontra debilitada militar e economicamente em sem a ajuda dos Estados Unidos, poderia perder definitivamente a guerra em meses.

Butim de guerra europeu

A Europa abraçou a política dos EUA, via Otan, de agredir a Rússia militar – via Ucrânia – e economicamente – via sanções. A Europa se calou diante da destruição do gasoduto Nord Stream 2. A Europa abraçou a proibição do fornecimento de energia russa, ainda que isso custasse o desempenho da sua indústria. A Europa financiou a aventura militar ucraniana. 

Ao fim da guerra, a obediente Europa deverá reconstruir a Ucrânia e aceitá-la como membro da UE até 2030. A Europa também deverá voltar a importar gás e petróleo russo e deverá pagar uma taxação especial destinada exclusivamente para financiar a reconstrução da Ucrânia​.

O documento vazado pode ser um balão de ensaio para sentir as reações globais, como muitos analistas consideram, mas a moral da história por ora é: o império nunca respeita seus vassalos. A lição cabe também à América Latina e a governos entreguistas da nossa região: submissão não compra soberania 

* Com informações de Strana Today, El País, Newsweek e podcast La Base

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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