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Foto: Texas Military Department

“Plano” de Trump para expulsar imigrantes custaria US$ 66 bi/ano e aumentaria miséria nos EUA

Ainda que sejam lidas como estratégia eleitoral, ameaças de Trump têm aumentado crimes de ódio contra imigrantes e seus defensores em todo o país
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Donald Trump, o candidato republicano à presidência, costuma repetir em seus comícios que forçou o governo do México a enviar 28 mil militares à fronteira para conter o fluxo migratório e que o obrigou a aceitar o programa “Fique no México”.

A relação bilateral com o México, segundo Trump, funcionou perfeitamente quando se fazia o que ele ordenava, fosse em questões de imigração ou na renegociação do acordo comercial.

Embora Trump seja um dos políticos mais mentirosos, seus assessores afirmam que o ex-presidente acredita sinceramente que os imigrantes, incluindo os mexicanos, “envenenam o sangue de nosso país” – frase de origem nazista – e agora promete realizar as maiores deportações em massa e “sangrentas” da história.

De fato, o controle dos fluxos migratórios tem sido a prioridade do governo atual dos Estados Unidos na relação com o México. Embora a relação bilateral abranja uma ampla gama de temas comerciais, de segurança, combate ao narcotráfico, questões ambientais e outros, ela tem sido definida principalmente pela questão migratória, em grande parte por causa da disputa eleitoral do último ano e como consequência direta da estratégia de Trump de colocar esse assunto no centro da contenda.

Lógica eleitoral e planos anti-imigrantes

Alguns atribuem as declarações e ameaças anti-imigrantes mais extremas de Trump à lógica eleitoral, mas outros alertam que planos detalhados foram elaborados para “fechar” a fronteira aos fluxos migratórios e suspender algumas das medidas já restritivas para solicitar asilo, mesmo que essas violem as leis nacionais e internacionais. Além disso, lembram que medidas tão extremas quanto arrancar cerca de 5 mil crianças dos braços de seus pais foram implementadas durante sua presidência até que um tribunal federal interrompeu a prática e ordenou a reunificação familiar, embora ainda haja casos em que isso não foi concretizado até hoje.

O arquiteto dessa medida contra as famílias, o assessor Stephen Millerque, quando estava na Casa Branca de Trump, propôs que o governo “tirasse todas as crianças [indocumentadas] das escolas”, como relatou recentemente o jornal New Yorker — é quem está elaborando agora os planos do ex e possível futuro presidente para a deportação em massa de mais de 11 milhões de indocumentados – metade deles mexicanos. Miller disse que a meta será deportar um milhão por ano, e que o plano incluirá abordagens policiais, a construção e/ou ampliação de centros de detenção e transporte para expulsá-los do país.

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Alguns duvidam que haverá recursos para algo tão caro e complexo – uma análise do American Immigration Council, um centro não partidário, estima que seriam necessários 66 bilhões de dólares anuais para realizar a construção de centros de detenção, a contratação de milhares de novos agentes e a logística das deportações. Além disso, segundo a mesma análise, um plano de deportação em massa para expulsar os 11 milhões de indocumentados e outros 2 milhões que possuem autorização temporária no país ao longo de 10 anos levaria a uma crise econômica, deixaria milhões de estadunidenses na pobreza e retiraria quase um trilhão de dólares dos cofres do governo federal.

Mas, mesmo que a medida não seja implementada por completo, especialistas assinalam que a simples ameaça de detenções e deportações em massa de imigrantes indocumentados é a estratégia, ou seja, gerar um medo generalizado entre as comunidades. Para nutrir esse medo, supõe-se que será dada ampla discrição às autoridades migratórias para conduzir operações.

A melhor carta de Trump

Para Trump e seus estrategistas, o tema migratório é sua melhor carta na disputa, e eles estão mais do que dispostos a ignorar as implicações de usá-la nas relações bilaterais com o México e com outros países latino-americanos, sem se importarem com as consequências reais internas de sua proposta.

Organizações de defesa dos imigrantes advertem que as consequências de uma renovada ofensiva contra migrantes dentro do país e contra os que estão a caminho gerarão enormes tensões, tanto internas quanto externas, especialmente com o México, que é o país de origem da maioria dos imigrantes que cruzam a fronteira e, cada vez mais, um país de trânsito para aqueles que buscam chegar à fronteira estadunidense.

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Trump, seu companheiro de chapa JD Vance e seus aliados insistem diariamente que a falta de segurança, a questão das drogas, a falta de moradia e de acesso à saúde e a salários dignos é culpa dos imigrantes que “chegam aqui vindos de prisões e manicômios” e que vêm para matar, drogar, estuprar e roubar os estadunidenses. Eles até afirmam que esses imigrantes chegam a comer os animais de estimação. Além disso, com as emergências causadas pelos furacões, os republicanos afirmam que as agências federais não têm recursos suficientes porque o governo de Joe Biden e Kamala Harris os gastou apoiando a entrada de “ilegais”. Ainda mais, acusam que se está permitindo a entrada desses indocumentados para que votem nos democratas.

E a preocupação com essa perseguição não se limita só aos indocumentados, mas também às centenas de milhares de pessoas que atualmente possuem permissão temporária ou aguardam a avaliação de seus casos, ou mesmo àqueles que possuem um status legal temporário concedido por meio de uma ordem executiva por terem chegado ao país quando eram menores de idade, os chamados Dreamers. Trump tem indicado que buscará anular essas autorizações temporárias.

As constantes acusações de Trump e sua equipe contra os imigrantes geraram mais crimes de ódio, ameaças de morte e outros atos de intimidação não só contra os imigrantes, mas também contra seus defensores em várias partes do país, criando novos conflitos antes inexistentes ao longo da fronteira, e também em cidades do interior de Ohio, Colorado e Flórida.

E isso tudo antes mesmo de ele chegar à Casa Branca novamente.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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