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Plutocracias: como direita tenta impor ‘bukelização’ na América Latina

Símbolo de método repressivo para lidar com Segurança Pública, Nayib Bukele foi reeleito presidente de El Salvador neste domingo (4)
Marcos Roitman Rosenmann
La Jornada
Santiago

Tradução:

Talvez seja um truísmo lembrar que a união entre o dinheiro e a oligarquia constrói um tipo de dominação excludente e totalitário. Sua forma de exercício do poder é camaleônica e cambiante. Entre suas armas preferidas encontramos a corrupção, a fraude, a chantagem, o assassinato, a guerra, a mentira.

Qualquer estratégia é válida, se com ela se alcança o objetivo: manter o controle sobre os processos de tomada de decisão. Sem rubor, compram vontades. Juízes, senadores, deputados, prefeitos ou governadores estão em suas listas. Assim também se elevam nos meios de comunicação, nas universidades, nas igrejas, nas forças armadas; e atualmente estendem suas redes a youtubers, influencers e quanto personagem sirva a seus interesses.

Com presença em todas as instituições, apoiam-se no patriarcado, no controle do capital financeiro e especulativo. São um conglomerado que se oculta por trás de sociedades anônimas, conselhos de administração, companhias transnacionais. Nada lhes é alheio quando se trata de aumentar seu poder. Agem de maneira sincronizada.

Na América Latina, caso sintam-se ameaçadas – e não é diferente no resto do mundo ocidental – chutam o pau da barraca. Os exemplos sobram, mas basta lembrar como os empresários e as oligarquias políticas deram seu apoio a Hitler na Alemanha, e a Mussolini na Itália. Nazifascistas eram os banqueiros judeus. Primeiro seus interesses de classe.

Se olhamos o presente, Javier Milei na Argentina ou Donald Trump nos Estados Unidos, são parte de sua articulação, mas só a parte visível, seu papel é testemunhal, ainda que ocupem o primeiro plano. Não esqueçamos. A democracia surge como forma política para equilibrar desigualdades e limitar o poder das oligarquias, enfrentando latifundiários, aristocratas e castas privilegiadas; daí o caráter antidemocrático das plutocracias. A nível internacional, as plutocracias protegem-se umas às outras, evadindo tribunais de justiça, evitando sanções em busca da impunidade. Israel e o genocídio em Gaza, sem ir mais longe.

Mas vejamos exemplos na América Latina. Na Guatemala, a justiça, em mãos da plutocracia, faz o impossível para boicotar o governo legítimo de Bernardo Arévalo. Assim, a Procuradora Geral, María Consuelo Porras, nega-se a demitir, desconhece a autoridade do Executivo, e em uma atitude sediciosa e golpista, declara-se insubmissa.

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Símbolo de método repressivo para lidar com Segurança Pública, Nayib Bukele foi reeleito presidente de El Salvador neste domingo (4)

Foto: Casa Presidencial de El Salvador
Vivemos tempos convulsos. A democracia perde adeptos em prol de uma defesa irrestrita da propriedade privada e da segurança individual

No Brasil, o tribunal superior eleitoral encabeçado por Luis Roberto Barroso inabilitou em 2018 a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, abrindo caminho para o triunfo de Jair Bolsonaro. No Peru, o golpe de Estado que acabou com o governo do presidente Pedro Castillo em 2022 pôs em liberdade, por ordem do Tribunal Constitucional, em dezembro de 2023, o ex-presidente Alberto Fujimori, condenado por crimes de lesa humanidade. Assim, a inabilitação de Manuel Zelaya em Honduras ou do ex-presidente Rafael Correa no Equador. A justiça está em suas mãos, além da existência de juízes corruptos.

E se vamos para o Chile, o atual presidente Gabriel Boric segue a mesma linha de ação de seus predecessores, ao desconhecer a sentença do Ciadi do Banco Mundial, obrigando o Estado chileno a indenizar o jornal Clarín. Boric declara o Estado chileno insolvente, perpetuando o controle monopólico da imprensa chilena em poder da plutocracia nativa.

Não digamos as novas alianças com o crime organizado, o narcotráfico, o tráfico de pessoas, as máfias da imigração, o tráfico de mulheres e os capitais escusos, cuja característica é ocultar os sobrenomes dos plutocratas, emergindo em seu lugar sociedades de capital de risco, cujo fim é proteger os nomes de quem são os verdadeiros donos de mais da metade do planeta. Basta ressaltar os dados do último informe da Oxfam sobre desigualdade, publicado em janeiro de 2024. “Sete das 10 maiores empresas do mundo têm um diretor-geral multimilionário ou um bilionário como seu acionista principal. Na base de espremer seus trabalhadores e trabalhadoras, evadir e eludir impostos, privatizar serviços públicos e alimentar o colapso climático…”

Muitas são as formas do poder plutocrático. Não só se expressa sob um imaginário nazifascista. Os mecanismos de controle social se ampliam em meio ao cibercapitalismo que avança a passos gigantes. Vivemos tempos convulsos. A democracia perde adeptos em prol de uma defesa irrestrita da propriedade privada e da segurança individual. As imagens em El Salvador ou no Equador, com os presos comuns seminus, ajoelhados e submetidos por membros das forças armadas com armamento de guerra são preocupantes. O apoio às políticas de militarização dos governos de Nayib Bukele em El Salvador e Daniel Noboa no Equador, por parte da população, constitui um ponto de inflexão na atuação das plutocracias.

O discurso da segurança se estende, ganha adeptos. Assim, a democracia se deslegitima e se reativa a velha máxima: ordem e progresso, refundando o Estado capitalista da era digital. Desta maneira, os discursos de ódio contra os migrantes enraizam-se nas classes populares; e aí se aninha a proposta totalitária das plutocracias. Primeiro segurança, depois veremos. Direitos humanos? Dignidade? Justiça social? Democracia? Saúde? Impostos? Por favor… sejamos sérios…

Marcos Roitman Rosenmann | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Marcos Roitman Rosenmann

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