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O aumento de empregos com baixa remuneração aprofunda o cenário de precarização enfrentado pelo trabalhador brasileiro no governo de Michel Temer. Segundo o Cadastro de Emprego e Desemprego do Ministério do Trabalho (Caged), as vagas formais que cresceram foram aquelas com remunerações de até dois salários mínimos. No início de 2008, as vagas formais geradas eram de até quatro salários e também de sete a dez salários.
Railídia Carvalho, no Portal Vermelho
As estatísticas desmentem o “crescimento da economia” e as “boas perspectivas” pregadas pelo governo e analistas oficiais. Ao lado dos números do Caged vêm os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que, no dia 27 de abril, apontou novo aumento na taxa de desemprego constatada no primeiro trimestre de 2018. Mais 1,4 milhão de pessoas ingressaram na fila do desemprego, que agora passa de 12,3 milhões de pessoas desempregadas para 13,7 milhões.
“O mercado de trabalho tende a responder um período depois. Primeiro, há, por exemplo, aumento nas vendas, depois no emprego”, justificou à Folha de S.Paulo a economista Vivian Almeida, professora do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec). Bruno Ottoni, pesquisador do iDados e Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), confirmou que o impacto da crise recai mais sobre os menores salários.
O Caged mostra que a região nordeste lidera o aumento das vagas de baixa remuneração. Ainda de acordo com Bruno, isso acontece porque os salários nessas regiões já são baixos. “Assim o valor do salário mínimo fica mais custoso para o empregador”. Traduzindo: Na hora da crise, o que já está rebaixado fica mais rebaixado ainda.
Em recente entrevista ao Portal Vermelho, o economista Roberto Piscitelli, da Universidade de Brasília (UnB), ressaltou que o trabalhador está fazendo qualquer coisa para sobreviver. “Se ‘penduram’ onde é possível, já que o emprego é mais importante para a sobrevivência delas do que eventualmente o nível de remuneração ou as garantias que um emprego formal poderia oferecer”, afirmou ao analisar ao dados do IBGE.
Clemente Ganz, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), explicou, em artigo publicado neste mês, que a queda dos salários pode refletir na redução da massa de rendimentos da economia. “O trabalhador, ao vivenciar a instabilidade de trabalho e renda, deve postergar o consumo de alguns bens, além de ter mais dificuldade para conseguir crédito ou empréstimo”.
De acordo com Clemente, essa dinâmica afeta o consumo das famílias e, consequentemente, prejudica o nível de produção interna, que não aumenta, e atinge negativamente o crescimento do país. “Para os trabalhadores de baixa renda, a perspectiva é que mais pessoas de uma família deverão trabalhar e de forma intensa, mas nem por isso conseguirão ganhar e gastar mais”.
Piscielli definiu como “fajuto” o discurso do governo de que há uma recuperação lenta. Na opinião dele, se o governo quisesse investir na retomada da economia aumentaria o nível de investimentos públicos. “Quando o governo anuncia esses programas de privatização da Petrobras e Eletrobrás, duas empresas chaves dentro do aparato governamental e que são fundamentais na definição de políticas públicas, ele não está impulsionando [a economia e o mercado]. E sem esse impulso, sem uma alavancagem governamental, o setor privado não irá fazer novos investimentos e dificilmente o empresário vai sair na frente e gerar novos empregos”, explicou.