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Foto: Mike Johnson / X

Política migratória: para deputado republicano, os EUA mandam e o México obedece

De olho na corrida presidencial, o presidente da Câmara Baixa, Mike Johnson, pressiona Biden a retomar o programa “Fique no México”
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

“Somos os Estados Unidos. O México fará o que nós dissermos”, declarou o presidente da Câmara Baixa, o republicano Mike Johnson, ao argumentar que o presidente Joe Biden não quer exercer seu poder e obrigar o país mexicano a agir para frear o fluxo migratório na fronteira.

Com o duelo eleitoral entre Biden e seu provável opositor Donald Trump que passou por dois pontos diferentes da fronteira do Texas com o México em 29 de fevereiro, fica claro que o tema do controle fronteiriço será um dos principais campos de batalha desta eleição. Isto marca um triunfo republicano ao obrigar aos democratas a ficarem na defensiva sobre o tema, o mesmo que foi central na primeira campanha exitosa de Trump em 2016, o qual repete agora o mesmo roteiro. 

Com a visita de ambos à região, também ficou claro que os republicanos agora têm uma narrativa de que o problema com a fronteira com o México é que Biden foi demasiado respeitoso com o México e não está obrigando o mandatário mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a reimpor medidas como o “Fique no México” tal como logrou Trump quando presidente. Essa mensagem agora se repete no Congresso (conforme a declaração de Johnson em 29 de fevereiro), assim como na fronteira e em atos de campanha através do país.   

Horas antes de Trump chegar a Eagle Pass, no Texas, em 29 de fevereiro, o líder republicano da Câmara Baixa disse em Washington que o presidente Biden não necessita leis adicionais para controlar e até fechar a fronteira. “Como se reduz o fluxo? A resposta é simples: reinstalando o ‘Fique no México'”, afirmou Johnson. Ele insistiu que reimplementar esse programa reduziria o fluxo em 70% – sendo que especialistas no programa afirmam que não houve esse impacto quando estava vigente.

“Eu disse isso ao presidente outra vez na Casa Branca. Ele afirmou que não podia fazer isso. Disse a ele que isso não era certo. Ele disse: ‘pois o México não quer isso’. Disse a ele: ‘Sr. presidente, somos os Estados Unidos, o México fará o que nós dissermos’”. 

O presidente da Câmara, a figura mais poderosa do governo estadunidense depois do presidente e do vice-presidente, tem repetido esta narrativa várias vezes, fazendo eco

do que se tornou parte normal dos discursos de Trump, que conta como ameaçou o México com impostos para obrigar o governo a aceitar o “Fique no México” e mover 28 mil “tropas” à fronteira com os Estados Unidos.

Acusações

No dia 29 de fevereiro, no Texas, Biden e Trump intercambiaram mensagens, um culpando o outro pela “crise” migratória na fronteira. 

“Esta é uma invasão, Biden”, asseverou Trump ante um comício em Eagle Pass, com o governador anti-imigrantes Greg Abbott ao seu lado. Sublinhou que esta invasão é uma onda de “crime migrante”, mencionando delitos de imigrantes indocumentados como o recente homicídio de uma estudante universitária na Georgia cometido por um migrante venezuelano. “Isto é como uma guerra”, proclamou no que é e será sua mensagem constante. 

Enquanto pretendia escutar oficiais da Patrulha Fronteiriça e oficiais estaduais, incluindo a Guarda Nacional, sobre o que está ocorrendo na fronteira, havia uma bandeira antiga da “guerra de Independência do Texas” com a imagem de um canhão e o lema “Vem e tome isto”. Este tipo de bandeira é utilizada pela Guarda Nacional do Texas desde o mês passado, após a disputa entre as autoridades estaduais e federais sobre o uso de arama farpado em barreiras colocadas pelo governo do Texas no Rio Bravo, reportou o New York Times.

Por sua vez, Biden, durante uma visita a Brownsville – uma passagem fronteiriça que não foi afetada pela chamada crise migratória recente – culpou Trump por descarrilar um projeto de lei “bipartidário” de “segurança fronteiriça” que ele promoveu com medidas para contratar outro 1.500 agentes de fronteira e, destacou, autoridade para “fechar a fronteira” temporariamente entre outras iniciativas que buscavam resolver a crise na fronteira. Ele desafiou Trump a juntar-se a este esforço, “podemos fazê-lo juntos”, uma vez que é “o projeto de lei de segurança fronteiriça mais duro, mais eficiente e mais eficaz que o país já viu”.

Mas essa iniciativa de Biden já era prova de que os republicanos haviam logrado obrigar o presidente a ceder a suas exigências de tomar medidas extremas, incluindo “fechamentos” de fronteira para abordar a suposta crise migratória, contemplando medidas impulsionadas por Trump quando era presidente. 

Os republicanos insistem que Biden deixou uma “fronteira aberta” e que tem que renovar o programa “Fique no México” implementado por Trump, no qual solicitantes de asilo nos Estados Unidos são obrigados a permanecer do lado mexicano enquanto suas petições são avaliadas. Biden o suspendeu por ser considerado contrário às normas estadunidenses sobre refugiados, e o México declarou que não o aceitará de novo. 

Mas tanto no cenário fronteiriço atrás, como ao redor do país, o debate não é sobre como resolver o problema, mas como usá-lo no teatro eleitoral. Os imigrantes e suas experiências são só partes secundários dessa obra.

Por outro lado, mas também no Texas, um juiz federal ordenou ao governo estadual suspender uma lei que outorga autoridade à polícia para deter indivíduos suspeitos de serem migrantes indocumentados. O governo estadual argumentou lidar com “uma invasão” em sua fronteira e que tem o direito de agir de maneira unilateral para enfrentá-la. No entanto, o juiz Allen Ezra afirmou em sua ordem que essa lei “ameaça a noção fundamental de que os Estados Unidos devem regular a imigração com uma voz única!”, ou seja, que essa é uma função federal. 

À medida que estas eleições avançam, essa “voz única” soa cada vez mais como a de Trump.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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