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ToggleO Equador vive um estado de “conflito armado interno” desde o dia 9 de janeiro. Milícias armadas ligadas ao narcotráfico tomaram as ruas de grandes cidades como Guayaquil, e colocaram o governo de Daniel Naboa contra a parede.
A crise no país sul-americano tem elementos externos, relacionados às políticas efetivas do presidente de esquerda da Colômbia, Gustavo Petro, de combate à criminalidade. Contudo, pesam também elementos internos relacionados com a ascensão da extrema-direita neoliberal, ligada com a redução do Estado, perseguição contra políticos progressistas e a dolarização da economia.
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A análise é da advogada equatoriana Angélica Porras Velasco. Ela participou de uma conversa nesta quinta (11), promovida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Diretamente do Equador, ela fez uma análise precisa dos elementos que compõem a crise do país latino.
“Vivemos uma campanha regional contra governantes progressistas, socialistas, como quiserem chamar, do século 21. Através de judicializações da política e também da pressão da mídia. Tudo isso fez com que a política neoliberal mudasse o foco da atenção de tudo”, disse.
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Foto: Governo do Equador
Para Vanessa Martina-Silva, Noboa conseguiu apoio para radicalizar ainda mais à direita: "Colocar militares nas ruas lerta com esse sentido"
A direita e o crime organizado
Com as perseguições contra governos de esquerda, o foco das políticas públicas, particularmente de segurança pública, saiu totalmente do combate ao crime. Ao contrário, os neoliberais que pregam o combate ao narcotráfico, ao que os fatos indicam, podem possuir relações estreitas com o sistema corrupto. Enquanto o processo de ascensão da direita acontecia, havia infiltração do crime organizado nas polícias e no Judiciário que, inclusive, focou suas ações na perseguição política de opositores.
Não coincidentemente, o Equador dolarizou a economia. Trata-se de um objetivo, promessa de campanha, para exemplificar, do atual presidente extremista da Argentina, Javier Milei. Menos Estado, menos controle e economia dolarizada. Estes elementos levaram o Equador a servir de paraíso para a lavagem de dinheiro do narcotráfico.
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“Guilhermo Lasso (ex-presidente do Equador) foi um dos atores da dolarização. Isso ofereceu espaço para lavagem de dinheiro. Então, passamos a lavar milhões de dólares em dinheiro com isso. Da polícia, das fiscalizações. Eles se centram em inimigos políticos e deixam que o crime cresça”, explica a equatoriana.
Piorou no Equador
Após a queda de Rafael Correa, em 2017, acusado de operações pares da Lava Jato brasileira, seu sucessor, Lenin Moreno, mudou radicalmente a política local. Ao aderir ao neoliberalismo, abriu as portas para Guilherme Lasso. Hoje, Naboa, filho de bilionário, jovem extremista de discurso radical, completa o cenário. “Lamentavelmente, nos últimos dois governos, assistimos a uma deterioração das instituições e dos direitos coletivos”, comenta Andrea.
“Durante o governo de Rafael Correa, tínhamos números muito baixos de violência e de narcotráfico. (…) Tivemos uma melhora da política social. Não dizemos que foi o melhor possível, mas foi uma política que atendia aos mais pobres. Depois de Correa isso muda. Uma das explicações é que com Lenin Moreno e Lasso, cresce o neoliberalismo. Não o mesmo dos anos 1990, outro. Este novo neoliberalismo, que cresce em 2017, tem a característica das mudanças dos fluxos de tráfico de drogas”, completa a especialista.
O Equador passou de cinco mortes violentas por 100 mil habitantes, em 2017, durante o último ano de Correa, para 43 neste ano. Em algumas regiões, particularmente portuárias, o número chegou a mais de 100 mortes por 100 mil habitantes.
“Então temos uma grande preocupação. Uma guerra em que temos uma polícia infiltrada até os dentes com o crime. Não estamos olhando para bancos, polícias, Judiciário. O Sistema financeiro é o maior beneficiário, que lava quantidades absurdas de dinheiro no Equador”, explica, aflita, a advogada.
Sob sigilo calculado
Além de Angélica, participaram da conversa Leonardo Wexell Severo (repórter da editoria internacional do jornal Hora do Povo) e Caio Teixeira, jornalistas da ComunicaSul que cobriram no local a eleição no país irmão, realizada entre agosto e outubro. Também participaram como integrantes da ComunicaSul Vanessa Martina-Silva (editora da Diálogos do Sul) e Felipe Bianchi (jornalista do Barão de Itararé), que mediou o encontro.
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A partir das falas da equatoriana, Teixeira demonstrou indignação com os fatos e com o silêncio sobre as evidências. “Ontem estava assistindo ao Jornal da Globo, um exemplo da nossa grande mídia. Nossa mídia comercial, evidentemente, omite as reais razões. Parece que, de repente uma surpresa explodiu uma guerra civil. Diz a Globo que a culpa é dos cartéis mexicanos. Em momento algum se fala em modelo econômico, em neoliberalismo, que é a verdadeira causa. É o que a mídia não fala. Todo discurso omite o que tem por trás, porque defende este mesmo modelo.”
Mais direita e maior problema
Essa postura midiática encontra eco também no Equador. Por isso, a jornalista Vanessa Martina-Silva questionou se os desdobramentos não podem ser ainda piores.
“Noboa, com essas medidas, tem conseguido apoio para uma radicalização ainda maior para a direita. Colocar militares nas ruas já flerta com esse sentido. Podemos ver, como El Salvador, o declínio dos direitos humanos? Um avanço ainda maior no sentido da radicalização da direita?”, questionou.
Angélica disse que “é essencial abrir espaço para a comunicação”. E disse que o grande temor é a vitória “do discurso das elites neoliberais de que é preciso radicalizar. Nesse caminho, está avançando de maneira dramática com ajuda dos meios de comunicação. A ideia de que a paz vem com bala, que fracassou na Colômbia e El Salvador, está chegando no nosso país. Então, precisamos de apoio de espaços de comunicação para discutir isso”.
Assista ao debate sobre o Equador na íntegra:
Gabriel Valery | Rede Brasil Atual
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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