Parece confuso e/ou mesmo contraditório para algumas pessoas que não acompanham a geopolítica, mas, para quem busca minimamente estar antenado(a) com o que ocorre no mundo, não causa nenhuma surpresa que, após Joe Biden haver criticado Israel pelo uso desproporcional de força contra o povo palestino, o Senado dos Estados Unidos tenham aprovado ajuda bilionária ao Estado judeu para que continue com sua matança em Gaza. Não podemos esquecer que tudo é política. E, neste caso específico, geopolítica.
É bom lembrarmos que os Estados Unidos foram um dos primeiros países a reconhecer o Estado de Israel, em 1948. Apenas 11 minutos após a declaração de independência, o país norte-americano deu seu apoio total ao recém-criado Estado judeu, influenciado por diversos fatores, incluindo o Holocausto, a “simpatia” pelos sionistas e a percepção de Israel como a “única democracia” no Oriente Médio.
Assista na TV Diálogos do Sul
Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, os EUA forneceram suporte nada desprezível a Israel, fato que fortaleceu a relação bilateral, já que o governo estadunidense já se dava conta de que o Estado judeu seria um aliado estratégico na região, para os eventuais conflitos com os países árabes, classificados por Washington como “hostis”.
Na década de 1970, o cenário era protagonizado por tensões entre Israel e Egito, que incluíam conflitos militares e falta de reconhecimento mútuo. Anwar Sadat, presidente egípcio, em busca de uma solução pacífica, visitou Jerusalém em 1977, e reconheceu Israel.
Tribunal dos EUA reconhece genocídio em Gaza e corrobora cumplicidade de Biden
Aquele gesto estabeleceu as bases para as negociações que se seguiram em Camp David, nos EUA, no ano seguinte, 1978, quando o então presidente Jimmy Carter mediou os entendimentos entre o chefe de Estado egípcio e o primeiro-ministro israelense Menachem Begin. O papel da nação norte-americana naquela ocasião consolidou ainda mais o vínculo com Israel, que concordou em retirar suas tropas do Monte Sinai, em troca do reconhecimento egípcio e da normalização das relações.
Continua após a imagem
Casa Branca
Apoio estadunidense a Israel trata-se de uma relação geopoliticamente estratégica construída há 76 anos
Ato de Segurança dos EUA para Israel
Já a década seguinte, mais precisamente o ano de 1981, representou um marco que estruturou e fortaleceu o compromisso dos Estados Unidos em garantir a segurança do Estado judeu. Significou, antes de mais nada, uma aliança estratégica, dando aos EUA a garantia de que Israel seria um aliado confiável naquela região. Trata-se do Ato de Segurança dos EUA para Israel, que consolidou o compromisso militar do país norte-americano com Israel, através da garantia de ajuda financeira e militar, principalmente armas avançadas e tecnologia militar, um divisor de águas no que se refere à capacidade de defesa israelense.
Mais atualmente, na administração de Donald Trump, os EUA transferiram sua Embaixada para Jerusalém, em 2018, o que significou apoio indiscutível a Israel, reconhecendo aquela cidade como a capital do país, dando mais força ao Estado judeu, já que, para os palestinos, Jerusalém é parte central de sua herança cultural e religiosa, onde se encontram locais sagrados para o Islã. É considerada a futura capital de um Estado Palestino, caso se chegue a um acordo de paz.
Como vemos, o apoio estadunidense a Israel vem desde sempre, ou seja, há 76 anos. Trata-se de uma relação geopoliticamente estratégica, que vai continuar ao que tudo indica. Isso nos faz não criar quaisquer expectativas quanto a uma reação contundente dos Estados Unidos contra o Estado judeu em sua investida feroz que tem assassinado milhares de pessoas na Palestina. Portanto, não causa nenhum espanto a notícia de que o Senado estadunidense tenha aprovado uma bilionária ajuda ao Estado judeu, muito bem-vinda para Netanyahu dar continuidade aos desumanos ataques ao povo palestino inocente.
Verbena Córdula | Doutora em História e Comunicação no Mundo Contemporâneo pela Universidad Complutense de Madrid. Professora Titular da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, Bahia.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Assista na TV Diálogos do Sul