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Luigi Mangione, preso pela execução do diretor-executivo da UnitedHealthcare, Brian Thompson (Foto: Polícia de Altoona)

Por que indignação com sistema médico dos EUA provoca apoio a um assassinato?

Diferentes "histórias de terror" de estadunidenses sobre serviços de assistência médica ajudam a entender alegria pela execução do diretor-executivo da UnitedHealthcare, Brian Thompson
Redação Russia Today
Russia Today
Moscou

Tradução:

O assassinato do diretor-executivo da UnitedHealthcare, uma das subsidiárias do maior conglomerado de seguradoras dos EUA, desencadeou uma onda de ódio contra as empresas responsáveis pelo atendimento médico no país. Milhares de pessoas manifestaram alegria pela morte de Brian Thompson — executado pelo mestre em Ciência da Computação Luigi Mangione — e a consideraram um ato de justiça diante das vidas perdidas devido às negativas de cobertura de procedimentos e tratamentos médicos.

O sistema de saúde dos Estados Unidos é essencialmente privado. Embora existam programas financiados pelo governo, como Medicare e Medicaid, que cobrem parcialmente os custos de pessoas com mais de 65 anos ou com deficiências, aqueles que desejam acessar serviços médicos precisam se inscrever em seguros ou pagar diretamente.

Nos últimos anos, os custos dos atendimentos médicos aumentaram vertiginosamente. Assim, as seguradoras buscam maneiras de tornar seus negócios lucrativos, utilizando qualquer tipo de técnica para evitar cobrir procedimentos muito complicados ou caros. A própria UnitedHealthcare foi alvo de investigações várias vezes devido a reclamações de clientes insatisfeitos.

Em um relatório publicado em outubro passado, os democratas de um subcomitê do Senado dos EUA acusaram o UnitedHealthcare Group de aumentar as negativas de reivindicações de pacientes utilizando ferramentas de inteligência artificial para agilizar o processo. Segundo o relatório, a taxa de negativa de autorização prévia para atendimentos como cuidados de enfermagem de longo prazo, terapia ocupacional e fisioterapia aumentou de 10,9% em 2020 para 22,7% em 2022.

“Histórias de terror”

O site de notícias BuzzFeed compilou diversas “histórias de terror” de pacientes que tiveram experiências ruins com seguradoras. Por exemplo, uma pessoa teve que pagar uma conta mais alta por um transporte de ambulância que durou mais do que o previsto, enquanto outra foi cobrada por anestesia especial compatível com pneumonia porque a seguradora a considerou “medicamente desnecessária”.

Uma mãe contou ao veículo que seu filho de três anos teve que viver sem o tratamento necessário para regular os níveis de amônia no organismo, já que a seguradora não aceitou cobrir o medicamento. Segundo ela, isso levou à hospitalização da criança por duas noites. “Acredito firmemente que, se ele tivesse o remédio em casa, a visita ao hospital não teria sido necessária”, afirmou.

Da mesma forma, outra pessoa relatou que precisou lutar com sua seguradora para obter cobertura de um tratamento com bloqueadores hormonais. A empresa alegava que não eram “medicamente indicados”, apesar de terem sido recomendados por vários especialistas após ela se recuperar de um tipo raro de câncer.

Assim, a maioria das histórias compartilha semelhanças relacionadas a medicamentos e tratamentos negados ou dívidas de milhares de dólares por assistência médica que, em alguns casos, estava prevista nos contratos de seguro ou deveria estar.

Um estudo recente da fundação de pesquisa The Commonwealth Fund concluiu que 45% dos adultos segurados em idade laboral tiveram que pagar por algo que deveria ter sido gratuito ou coberto pelo seguro, e menos da metade dos que denunciaram esses erros recebeu reembolso. Além disso, 17% dos entrevistados disseram que tiveram assistência recomendada por especialistas negada.

Essas experiências podem explicar por que internautas consideraram a morte de Thompson como justa. Em tom mais extremista, alguns compartilharam listas com os executivos mais poderosos do setor de saúde em Nova York, especificando seus salários e celebrando o assassinato do CEO.

Recentemente, em uma das vias mais movimentadas de Manhattan, apareceram cartazes de “Procurado” com imagens de Thompson e outros dois executivos do setor de saúde, acompanhados de frases como: “A UnitedHealthcare matou pessoas comuns em prol do lucro. Como resultado, Brian Thompson teve negado o direito à vida. Quem será o próximo a ter a vida negada?” e “Os diretores executivos de Wall Street não deveriam se sentir seguros”.

O jornalista independente Ken Klippenstein publicou no mesmo dia do crime um gráfico mostrando a taxa de negativas de reivindicações pelas seguradoras, no qual a United apresentava 32%. Ele incluiu uma frase sarcástica: “Hoje lembramos o legado do diretor-executivo da UnitedHealthcare, Brian Thompson”.

Um ciclo sem fim

Do ponto de vista dos pacientes, todos os atores envolvidos são culpados pelo declínio no atendimento médico no país e pelos altos custos que precisam enfrentar. No entanto, a situação tornou-se um ciclo sem fim, no qual centenas de fatores influenciam.

De acordo com um artigo da Vox, os hospitais acusam as companhias farmacêuticas de cobrarem preços excessivamente altos e as seguradoras de limitarem os benefícios oferecidos, deixando os pacientes com grandes contas para pagar do próprio bolso.

Por sua vez, as companhias farmacêuticas responsabilizam as seguradoras por fazerem com que os pacientes precisem arcar com a compra de medicamentos caros, assim como acusam os hospitais de abusarem de programas de desconto, como o 340B, que permite aos centros de saúde economizar entre 20% e 50% nos medicamentos.

Por outro lado, as seguradoras atribuem a crise aos hospitais e às farmacêuticas, argumentando que cobram valores exorbitantes por seus serviços e produtos.

“Crise da dívida médica”

Por fim, os pacientes são os verdadeiros prejudicados. De acordo com Sara Collins, pesquisadora principal da The Commonwealth Fund, citada pela BBC, os altos custos da saúde nos EUA causaram uma “crise da dívida médica”. “Encontramos altos índices de pessoas que afirmam que os custos do atendimento médico são inacessíveis, em todos os tipos de seguros, incluindo Medicaid e Medicare”, afirmou.

Em 2022, uma pesquisa da Gallup sobre saúde e atendimento médico nos EUA revelou que 38% dos entrevistados tiveram que suspender um tratamento por falta de dinheiro, representando um aumento de 12 pontos em relação a 2021. Em uma sondagem mais recente, 51% indicaram que veem o sistema de saúde dos Estados Unidos de forma negativa.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação Russia Today

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