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Porto Alegre: 16 anos de direita destruíram agenda antirracista e antimachista, diz Rossetto

Em entrevista concedida a veículos progressistas, candidato a vice prefeito na chapa com D’Ávila aponta caminhos para diminuir a exclusão social na cidade
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul Global
Jundiaí

Tradução:

Em entrevista coletiva concedida na manhã desta quarta-feira (25), Miguel Rossetto (PT), vice candidato à Prefeitura de Porto Alegre na chapa de Manuel D’Ávila (PCdoB), destacou que os 16 anos de gestão da direita na cidade destruíram a agenda antirracista, antimachista e de liberdades que estava colocada na cidade.

O evento foi organizado pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e contou com a presença de jornalistas de diversos veículos progressistas.

Porto Alegre é conhecida internacionalmente pela adoção do orçamento participativo, por ter sido a primeira sede do Fórum Social Mundial e por ter sido o berço da criação do Dia da Consciência Negra, idealizado pelo Grupo Palmares.

A cidade de reconhecidas lutas e pautas progressistas, no entanto, viu seu nome ganhar novamente o cenário nacional e internacional devido ao assassinato de Beto Freitas em um supermercado da rede Carrefour. O tema, como não poderia deixar de ser, esteve no centro da sabatina a Rossetto, que foi ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República e, posteriormente, Ministro do Trabalho e Previdência Social no governo Dilma.

“Racismo é crime e debatem isso como se não fosse um crime inafiançável”, diz, destacando que um dos autores do assassinato é um policial militar, “treinado pela polícia do Rio Grande do Sul, o que mostra que é uma cultura institucional das policias”, destaca. 

Confira a íntegra da entrevista:

De acordo com o sociólogo e sindicalista, para fazer frente ao racismo na cidade é preciso gerar uma forte disputa cultural dentro das escolas, com a criação de espaços de convivência cidadã.

Rossetto também destacou a importância de que as mesas de representação não sejam mais de homens brancos idosos e que contemplem a representatividade de gênero, classe, idade e raça da nossa sociedade. 

Em entrevista concedida a veículos progressistas, candidato a vice prefeito na chapa com D’Ávila aponta caminhos para diminuir a exclusão social na cidade

Joana Berwanger/Sul21
Manuela e Rossetto durante a campanha de 2018.

Habitação

O ex-ministro do Desenvolvimento Agrário nos governos Lula da Silva e Dilma Rousseff também foi questionado a respeito de políticas habitacionais para Porto Alegre. A cidade tem um índice de favelização superior ao de São Paulo e um déficit habitacional de cerca de 38 mil unidades.

“Estamos há 16 anos sem políticas habitacionais. A direita nunca teve preocupação com regularização fundiária e habitação popular. São 700 núcleos irregulares e estima-se que existam 150 mil famílias convivendo em uma situação de periferia, totalmente abandonados”, destaca.

A exclusão na cidade é descrita como “brutal”, palavra usada várias vezes ao longo de sua exposição. “São 240 mil porto-alegrenses vivendo com o auxílio emergencial. O equivalente a 25% da população. Além do crescimento brutal da população de rua”. Ele destaca ainda que “Porto Alegre não tem água nas regiões mais altas da cidade. Os governos bloqueiam o investimento em saneamento. Há um abandono total dos investimentos nas periferias”.

Para fazer frente aos anos de política conservadora, a chapa Manu-Rossetto propõe retomar as obras abandonadas na periferia das cidades e criar o que chamou de “bairro completo”, com educação, saúde da família, incentivo à economia local, recuperando a experiência e o acúmulo obtidos com o orçamento participativo.

Outro dado que demonstra a profundidade da exclusão social em Porto Alegre é o número levantado por Rossetto, segundo o qual 13 mil crianças estão fora de creches e escolas de educação infantil. 

Disputa desleal

A campanha eleitoral de 2020, apesar de ser obviamente diferente da de 2018, mantém pontos de contato. Um deles é a montanha de fake news criada contra Manuela D’Ávila. Recentemente, a Justiça eleitoral ordenou a retirada de 500 mil informações falsas contra a candidata.

“As fake news são brutais contra Manuela. São orientadas para desqualificar a luta política. Sempre é maior com as mulheres. Fizeram isso com a Dilma”, lembra Rossetto.

Nesta disputa, pontua, temos dois polos políticos definidos: a esquerda e o conservador que, com Melo, faz uma campanha com base na crítica ao “comunismo”, na qualificação dos opositores como “maconheiros”. 

América Latina

Sobre as vitórias do campo progressista na região recentemente, Rosetto avalia que “os ventos da América Latina são de uma nova conjuntura. A vitória da Bolívia, o resultado da Constituinte do Chile e a derrota de Trump dão conta de que há uma exaustão” na população.

Ele considera positivo o resultado das eleições nos Estados Unidos: “foi a derrota de um fascista, produtor de ódio e violência e de um polo organizador da violência”. 

Confira a série da Diálogos do Sul sobre as expectativas do governo Biden para a América Latina 

Esses modelos, como o mantido a Bolsonaro, geram insegurança nas pessoas. “Elas continuam inseguras, com medo. Prometeram esse modelo como saída para a insegurança, mas não se sustenta”. 

Por fim, avalia que há um espaço aberto para a esquerda em escala global. “Grande parte desse sopro [de derrota da direta] em áreas metropolitanas tem a ver com isso”, diz, em referência ao resultado das eleições municipais deste ano. E destaca ainda que o bolsonarismo foi derrotado, mas há uma rearticulação de um centro para a direita, capitaneado pelo DEM.

Domingo

Sobre a perspectiva para domingo (29), ele se mostra entusiasmado: “Esta campanha está com cheiro de 1998, quando, na disputa pelo governo do Estado, entramos no segundo turno 10 pontos atrás e viramos”, diz, em referência à vitória de Olívio Dutra, do PT.

Uma vez na Prefeitura, “o pensamento de esquerda vai impor outras relações sociais. Vamos oferecer para a sociedade brasileira um programa, com ideias fortes, com representação política forte e resistência a Bolsonaro e à destruição do estado de bem-estar social.  

“Não tenho dúvidas de que ganhando as eleições, a luta política não acaba, ganha outra qualidade. Temos que enfrentar o poder conservador nos municípios, temos que ter capacidade de aliança, disputar no município as riquezas públicas e criar um campo de alianças preservando a autonomia dos sindicatos”, destaca.

A pesquisa Ibope para o segundo turno para a Prefeitura de Porto Alegre divulgada nesta terça-feira (24) aponta que Sebastião Melo (MDB), representante do bolsonarismo na capital gaúcha, tem 54% das intenções de voto e Manuela D’Ávila, 46%. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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