Uma pesquisa realizada pela Central Única das Favelas (CUFA), realizada com pessoas de 76 favelas do país, mostrou que cerca de 68% dos moradores não têm dinheiro para comprar comida. De acordo com o estudo, o agravamento da fome nas favelas tem como causa o alto índice de desemprego nestas comunidades.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o diretor executivo da ONG Ação da Cidadania, Kiko Afonso, afirmou que a pandemia da COVID-19 gera um impacto nas favelas “absolutamente assustador” e criticou a falta de uma coordenação nacional no combate à crise sanitária.
De acordo com ele, tem crescido significativamente o número de pessoas saindo da formalidade “e isso tem aumentado a pobreza cada vez mais” nas regiões mais carentes. “Quando veio a COVID-19 isso foi muito mais devastador”, acrescentou.
Reprodução: Chico Bezerra/PJG
O número de pessoas saindo da formalidade tem crescido significativamente e isso tem aumentado a pobreza cada vez mais.
A pesquisa da Central Única de Favelas mostrou que o número de refeições diárias das famílias que moram em favelas caiu para 1,9 por dia. Em agosto de 2020, o índice de refeições por dia era de 2,4 nessas comunidades.
“O processo de lockdown, de vacina, tinha que ter sido feita de forma coordenada, pensando em todos os aspectos, através de uma articulação nacional. E quando isso não é feito, cada um tenta fazer à sua maneira; os governadores e prefeitos querem fazer lockdown porque está aumentando o número de pessoas se internando e morrendo, mas como vai dizer isso para uma pessoa que não tem dinheiro para comer?”, afirmou o especialista.
Kiko Afonso destacou que o trabalho informal e a necessidade de combater a fome é a realidade de muitas pessoas das classes mais baixas da população e “não se ofereceu nenhuma alternativa”. Para ele, o “breve respiro” que se deu foi durante o fornecimento do auxílio emergencial no ano passado, quando o governo conseguiu entregar um auxílio emergencial de R$ 600.
“Isso conseguiu reduzir a quantidade de pessoas [em situação de pobreza], conseguiu dar um alento a essas famílias para se manter em casa, porque não dá simplesmente pedir para uma pessoa que não tem o que comer ‘olha, você vai ter que ficar em casa durante um mês’. Essa pessoa morre“, disse o diretor da ONG.
Em 2014, o Brasil saiu oficialmente do Mapa da Fome, uma lista de países que têm 5% ou mais da população em segurança alimentar grave. Em setembro de 2020, o IBGE divulgou uma pesquisa que mostrava que o Brasil já havia entrado de volta ao Mapa da Fome em 2018.
“A pesquisa mostra que 85 milhões de brasileiros em algum grau de insegurança alimentar no Brasil em 2018 […] É óbvio que esse agravamento da crise sanitária após o auxílio emergencial no final do ano vai ser muito grave. A gente já estima tranquilamente que a gente vai passar dos 100 milhões de brasileiros em algum grau de insegurança alimentar em 2021″, afirmou Kiko Afonso.
?A volta da #fome
IBGE aponta que o Brasil atingiu em 2018 o pior índice de insegurança alimentar desde 2004 e indica o retorno do país ao Mapa da Fome da ONU.
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— EPSJV Fiocruz (@EPSJVFiocruz) September 28, 2020
De acordo com o diretor-executivo da ONG Ação da Cidadania, para combater o avanço da pobreza e da fome no Brasil, é necessário que o governo federal adote uma ação coordenada para lidar com a pandemia, através do investimento no SUS, do fornecimento de um auxílio emergencial mais robusto. Ele ressaltou, no entanto, que essas medidas devem considerar as disparidades sociais existentes no Brasil.
“É preciso que todo mundo fique em casa, é preciso investir no SUS, mas é preciso dar condições para as famílias mais humildes para elas poderem ficar em casa, porque elas não têm essa condição de trabalhar de home office, elas não conseguem sobreviver”, afirmou o diretor-executivo da Ação da Cidadania.
“E a situação vai piorar antes de começar a melhorar, porque o auxílio é muito pouco, as doações da sociedade civil diminuíram muito, e o governo não está ajudandosituação de pré-colapso. A gente não vê em um curto prazo nenhuma solução”, completou.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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