No início de junho, no Chile, distintas organizações de direitos humanos romperam relações com o Governo de Gabriel Boric devido ao nulo avanço em matéria de justiça, reparação e garantias de não repetição em relação às vítimas de violência estatal durante a Explosão Social de 2019.
Sobre a decisão das entidades, e também sobre o golpe que o governo de Boric deu nas vítimas da violência estatal, conversou com o Resumen Latinoamericano a senadora independente Fabiola Campillai. Na entrevista, Campillai fala da gênese dos acordos hoje ignorados pelo mandatário, os quais foram pactuados não apenas durante a candidatura do presidente, mas também posteriormente à sua chegada ao poder.
Após a última prestação de contas pública de Boric, novamente os acordos relativos às vítimas de agentes do Estado durante a Explosão ficaram de fora. Desde janeiro, as distintas organizações de direitos humanos que, junto ao Executivo, formaram uma mesa de trabalho sobre o tema, esperavam o apoio do mandatário ao Projeto de Reparação Integral, mas este não chegou.
É neste contexto que anúncios como o de Punta Peuco (decisão de transformar um presídio especial para militares em um centro de detenção comum) resultam em um mero aceno simbólico, sobretudo considerando que será a próxima administração presidencial a responsável por colocar em marcha a iniciativa de Boric na questão — iniciativa esta que surge no último período de seu governo.
A senadora e vítima da brutalidade policial exercida durante a Explosão acrescentou:
A mesa de trabalho composta pela Rede Nacional de Sobreviventes da Explosão Social, a Mesa de Direitos Humanos por uma Vida Digna e a equipe de trabalho da senadora Campillai anunciou o rompimento com o Governo, apontando: “Deve existir um compromisso real com as vítimas e com as famílias daqueles que foram assassinados pela ação de agentes policiais e militares no contexto da Revolta Popular, e este governo já não o fez”.
Hoy estuvimos junto a las y los integrantes de la Mesa de DDHH por una Vida Digna, víctimas y familiares de violencia estatal durante la Revuelta Popular, dando a conocer públicamente que el Gobierno del presidente Gabriel Boric no dio respuesta al Proyecto de Ley de Reparación… pic.twitter.com/BDf5XxlTsD
— Senadora Fabiola Campillai (@DignidadFabiola) May 26, 2025
Poucos direitos, muita repressão
Além das críticas à falta de cumprimento dos acordos assumidos por Boric em matéria de direitos humanos e da Explosão Social, a senadora falou do outro lado da moeda: a repressão, e como esta se fortaleceu com a administração do representante da Frente Ampla.
Aspectos como a Lei Antitomas, a Lei Naín-Retamal ou Gatilho Fácil e a permanência da polícia militarizada em território mapuche fazem parte dos indícios que o Governo entregou em relação ao aprofundamento das políticas repressivas. Sobre essa matéria, Campillai foi categórica:
Campillai, que votou constantemente contra a extensão do estado de exceção no Wallmapu, mostrou-se decepcionada com Gabriel Boric e seu governo, que chegou ao poder justamente apoiado em promessas de justiça e reparação para as centenas de vítimas da violência estatal sistemática exercida durante a Explosão.
Sobre o compromisso anunciado em janeiro pelo Governo, quanto ao apoio ao Projeto de Reparação Integral, Fabiola Campillai conclui: “Enviaram a equipe da Subsecretaria de Direitos Humanos para pedir mais uma semana de prazo para refletir. Estamos às portas de junho, e a resposta ainda não chegou”.