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ToggleO exército russo se dedica à missão de criar uma zona de segurança na fronteira com a Ucrânia, que segundo informes recentes da Rússia pode incluir parte das regiões ucranianas de Kharkiv e Sumy, vizinhas das regiões russas de Kursk, Belgorod e Briansk, que com frequência são atacadas pelo exército de Kiev.
O porta-voz do grupo russo de exércitos do Norte, Yaroslav Yakimkin, informou no domingo (25): “Nossas tropas continuam avançando a cada dia, afastando o inimigo da fronteira do nosso Estado, para criar uma ‘zona sanitária’ e garantir a segurança da população civil das regiões fronteiriças russas (Kursk, Belgorod e Briansk)”.
Segundo Yakimkin, na última semana, o exército russo libertou as localidades de Marino e Loknya, na região ucraniana de Sumy, e obteve “avanços significativos” nas proximidades da cidade de Volchansk, no nordeste de Kharkiv.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou sobre o tema na última quinta-feira (22), afirmando que suas forças armadas “já estão cumprindo” a missão de formar o que ele também denominou “cordão sanitário”, com intensos bombardeios no território ucraniano limítrofe. O anúncio foi feito durante uma videoconferência com membros do governo russo e governadores de várias entidades federais, transmitida ao vivo pela televisão pública russa.
O alerta sobre a possível criação da zona de segurança foi feito por Putin diversas vezes desde agosto de 2024, quando tropas ucranianas invadiram parte da região de Kursk. A Ucrânia, porém, manteve os bombardeios e as incursões do outro lado da fronteira.
Segundo especialistas militares, a Rússia pode estar preparando uma grande ofensiva para os próximos meses, seja via um avanço em Kharkiv e Sumy, ou uma manobra de distração para lançar um assalto à aglomeração urbana de Sloviansk-Kramatorsk e a pequenas cidades industriais adjacentes, um dos bastiões mais difíceis de conquistar na região de Donetsk.
Ao abrir o encontro, o chefe do Kremlin reforçou que já havia advertido Kiev de que, caso continuassem esse tipo de ataque, Moscou criaria essa espécie de zona de contenção, mas não precisou quantos quilômetros pretende ocupar do território ucraniano nas regiões de Kharkiv e Sumy, cujas capitais – na opinião de analistas – estão, por ora, fora do alcance do exército russo.
Putin mencionou a “difícil situação” que atravessam “especialmente Kursk, Belgorod e Briansk, cujos habitantes sofreram danos pelos bombardeios e combates; para dizer, sem rodeios, as consequências dos métodos terroristas que usaram e ainda usam as tropas ucranianas e os mercenários estrangeiros”.
Segundo o chefe do Executivo russo, “como regra geral, os alvos escolhidos pelo inimigo não têm importância militar: tratam-se de instalações civis, casas, pessoas”.
Diariamente, “observamos que drones e incursões de grupos ucranianos de sabotagem e reconhecimento procuram afetar o transporte civil, sobretudo ambulâncias e máquinas agrícolas. Também morrem e ficam feridas mulheres e crianças”, afirmou ainda o mandatário, confirmando que mesmo após a expulsão das tropas ucranianas de Kursk, ainda há combates em território russo junto à fronteira.
Para Putin, é prioritário atender às necessidades dos habitantes dessas três regiões fronteiriças e, por isso, deu instruções para desativação de minas no território e de projéteis não detonados, e também para a localização de esconderijos de armas deixadas pelo inimigo.
Troca de prisioneiros
Moscou e Kiev concluíram, no domingo (25), a terceira parte da troca de prisioneiros de guerra, acordada na recente reunião de Istambul. Foram trocados de cada lado cerca de mil militares, sendo mais de 300 em cada uma das três etapas.
“De acordo com o acordo russo-ucraniano alcançado em 16 de maio em Istambul, entre 23 e 25 de maio, as partes russa e ucraniana realizaram um intercâmbio segundo a fórmula de mil por mil prisioneiros”, anunciou no domingo o Ministério da Defesa da Rússia, por meio de um comunicado.
Por sua vez, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também confirmou a troca e exortou seus aliados a aumentarem a pressão contra a Rússia por meio de sanções, a fim de “evitar que continue prolongando o fim desta guerra e matando civis”, escreveu em sua conta no Telegram.
Para Zelensky, “é possível deter a guerra, mas somente se for exercida a devida pressão sobre a Rússia. É preciso obrigar Putin a pensar não sobre onde lançar mísseis, mas sim em como pôr fim à guerra”.
Ataques da Ucrânia à Rússia
As listas russa e ucraniana com os nomes dos prisioneiros de guerra que seriam trocados foram confirmadas na quinta-feira (22). Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, informou que Moscou enviou sua lista a Kiev e também recebeu a relação ucraniana. A seguir, as partes revisaram as listas, observando se continham indivíduos que consideram ter cometido crimes de guerra.
A operação, viabilizada com a mediação dos Emirados Árabes Unidos, foi a maior quantidade de soldados que as partes aceitaram trocar de uma só vez desde o início dos combates em fevereiro de 2022. Ainda assim, é um número muito inferior ao total de prisioneiros que continuam detidos por ambos os lados, segundo estimativas de especialistas.
O número exato é desconhecido – nenhuma das partes costuma admitir seus prisioneiros e exageram os do inimigo – além de que Moscou e Kiev, signatários da Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra, não permitem que a Cruz Vermelha Internacional ou qualquer outro organismo internacional tenha acesso à totalidade dos centros de detenção de soldados inimigos que mantêm.
Ataque russo
Logo após a conclusão do intercâmbio de prisioneiros, a Rússia lançou, na madrugada de domingo (25), 300 drones e 70 mísseis que causaram numerosas destruições em Kiev e outras 12 regiões da Ucrânia, além de pelo menos 12 civis mortos e mais de 60 feridos já identificados.
O comando militar ucraniano informou que seus sistemas de defesa antiaérea conseguiram derrubar 266 drones e 45 mísseis russos, embora não tenham conseguido evitar que o restante dos artefatos atingisse diferentes localidades do país, danificando cerca de 80 edifícios residenciais e provocando 27 incêndios.
“Uma manhã de domingo difícil após uma noite sem dormir. O maior ataque russo das últimas semanas durou a noite inteira. A Rússia lançou centenas de drones e dezenas de mísseis balísticos e de cruzeiro contra cidades e povoados ucranianos, matando e ferindo civis”, declarou o chanceler da Ucrânia, Andrii Sybiha, em sua rede social X.
O Ministério da Defesa da Rússia comunicou que o ataque massivo com “armas de alta precisão” teve como objetivo destruir empresas da indústria militar ucraniana que fabricam “componentes de mísseis, explosivos e drones”, assim como “centros de espionagem radioeletrônica e de comunicação via satélite”. E acrescentou: “Todos os objetivos marcados foram cumpridos”.
Ofensiva foi resposta a bombardeios ucranianos
O comando militar russo relatou que a Ucrânia atacou, também na madrugada de domingo, oito regiões da Rússia, tendo sido interceptados 110 drones, 12 dos quais se dirigiam a alvos em Moscou, segundo Serguei Sobianin, prefeito da capital russa.
Além disso, cinco dias após o presidente Vladimir Putin visitar a região de Kursk, o responsável pela defesa antiaérea dessa entidade federal, Yuri Dashkin, declarou também no domingo ao noticiário Vesti, da televisão pública russa, que o helicóptero do chefe do Kremlin foi atacado por drones ucranianos.
Dashkin afirmou: “Quando o helicóptero do comandante-chefe (Putin) estava no ar, repelimos um ataque de drones ucranianos e destruímos 46 desses aparelhos, garantindo a segurança aérea do voo presidencial”.
A notícia viralizou, embora não seja possível verificar. O que se sabe com certeza é que o Kremlin publicou fotos da visita de Putin a Kursk um dia depois de ela ter ocorrido. São imagens de reuniões em ambientes fechados e não é possível identificar como chegou ou para onde se dirigiu.
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