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Kremlin

Putin desafia EUA e Europa em discurso contundente: “O jogo é perigoso”

Em discurso em Sochi, Vladimir Putin acusa a Europa de seguir ordens dos Estados Unidos, alerta para risco de conflito armado e reafirma que  mundo multipolar é realidade

Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

Beatriz Cannabrava

“A Europa aumenta artificialmente a tensão com a Rússia para seguir as instruções da Casa Branca e comprar mais armas (estadunidenses) com o objetivo de conter a suposta ameaça russa”, declarou na última quinta-feira (2) o líder do Kremlin, Vladimir Putin, em resposta às acusações de que drones e aviões russos estariam violando o espaço aéreo de países vizinhos.

E advertiu: “É um jogo perigoso que pode provocar conflitos armados e, de qualquer forma, a resposta da Rússia à militarização da Europa não vai demorar e será contundente.”

Europa aumenta tensão com a Rússia: “vamos abatê-los”

O presidente russo discursou na sessão de encerramento do Clube Internacional de Debates Valdai, realizado no balneário de Sochi, na costa do mar Negro, entre 29 de setembro e 2 de outubro.

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Para o mandatário, o eventual uso, pelas tropas ucranianas, de mísseis de cruzeiro Tomahawk, de fabricação estadunidense, se vier a ocorrer, “vai prejudicar as relações entre Moscou e Washington”, pois “é impossível lançar esse tipo de míssil sem a participação de militares estadunidenses”, o que representaria “uma nova e qualitativa etapa da escalada nas relações bilaterais”.

Ao mesmo tempo, afirmou que o fato de possuírem esses mísseis, “poderosos, mas um tanto antiquados, não vai mudar nada nos campos de batalha, e nossos sistemas de defesa antiaérea encontrarão uma forma de abatê-los”.

Acrescentou ainda que as declarações sobre sua possível entrega à Ucrânia “podem ser apenas uma forma de desviar a atenção dos problemas internos” dos Estados Unidos.

Segundo Putin, a Europa não tem futuro, pois “os pilares essenciais da identidade europeia estão se dissipando”; há uma erosão interna, a imigração descontrolada corrói seus alicerces e, quando a base de valores deixa de existir, também desaparece “essa Europa que todos tanto amávamos”.

França é acusada de “ato de pirataria” contra a Rússia

Ele classificou como “um ato de pirataria” a detenção, pela França, em águas internacionais, de um petroleiro com bandeira de um terceiro país, com o objetivo de “acusar a Rússia sem provas”, provocar “uma reação violenta” de Moscou, sustentar que “a Rússia nos ataca” e distrair a atenção dos “graves problemas econômicos” que geram “crescente descontentamento” entre as populações europeias.

China e Índia reforçam parceria energética com Moscou

Sobre a proibição de comprar hidrocarbonetos russos que os Estados Unidos tentam impor a outros países como forma de pressionar Moscou, destacou que China e Índia, principais compradores de seu petróleo e gás, são nações que “valorizam sua soberania e não permitem que ninguém lhes diga o que podem ou não fazer”.

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Putin observou que os Estados Unidos “continuam comprando urânio da Rússia — que, de fato, também é um combustível — para suas usinas nucleares. Por que fazem isso? Porque lhes convém, e a nós também. Como diziam os latinos: ‘O que se permite a Júpiter não se permite ao touro’, mas China e Índia não são nem touros nem carneiros, como há alguns na Europa.”

O mundo multipolar é uma realidade, afirma Putin

Ao afirmar que “o mundo multipolar já é um fato consumado”, Putin ressaltou que “paradoxalmente, a multipolaridade surgiu como consequência direta das tentativas de impor e manter a hegemonia global — uma resposta do sistema internacional e da própria história à insistente aspiração de colocar todos em uma única hierarquia comandada pelo Ocidente”.

E enfatizou: “Já ninguém quer jogar segundo regras criadas por alguém que está bem longe, do outro lado do oceano”, em alusão aos Estados Unidos.

“Não somos um tigre de papel”, diz o presidente russo

O líder russo rejeitou a ideia de que a Rússia seja um “tigre de papel”, como a chamou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e questionou: “Como poderíamos ser um tigre de papel se estamos em guerra com toda a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e, mesmo assim, nosso Exército avança em todas as frentes na Ucrânia?”

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Putin disse estar convencido de que, mais cedo ou mais tarde, a Ucrânia acabará se rendendo, e afirmou que “Kiev já enfrenta um grave déficit de soldados; ninguém quer lutar à força, e o número de desertores é muito alto”.

Putin comenta situação na Faixa de Gaza

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Sobre o que qualificou como “um acontecimento terrível na história contemporânea da humanidade” — a situação na Faixa de Gaza —, o presidente russo declarou:

“Talvez pareça inesperado, mas a Rússia, em geral, está disposta a apoiar as propostas do presidente (Donald) Trump”, desde que, após uma análise cuidadosa, se conclua que o objetivo final é “a criação de dois Estados, Israel e Palestina, que coexistam em paz”.

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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