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ToggleNesta quinta-feira (6), o mundo relembra o ataque nuclear à cidade japonesa de Hiroshima, realizado pelas forças norte-americanas em 6 de agosto de 1945. A bomba, apelidada de Little Boy (Menininho), com força equivalente a 15 mil toneladas de TNT, matou pelo menos 120 mil pessoas em Hiroshima.
Três dias mais tarde, em 9 de agosto de 1954, um novo ataque nuclear seria realizado na cidade de Nagasaki, gerando mais 80 mil vítimas.
A narrativa consagrada no Ocidente, no entanto, legitima os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki, argumentando que eles foram essenciais para garantir a rendição do Japão e, portanto, o fim da Segunda Guerra Mundial.
Reprodução: WinkieMedia
Será que foram realmente as bombas atômicas que levaram à rendição do Japão?
Mas será que a bomba nuclear era necessária para garantir a rendição do Japão? Aliás, será que foram os bombardeios atômicos que determinaram a rendição de Tóquio?
“Militarmente, o Japão já estava derrotado antes da explosão das bombas de Hiroshima e Nagasaki”, disse o historiador brasileiro formado na Rússia, Rodrigo Ianhez, à Sputnik Brasil.
Entre julho e agosto de 1945 “a campanha de bombardeios convencionais norte-americanos sobre o Japão tinha atingido o seu auge. Foram 68 cidades bombardeadas, das quais apenas duas foram atacadas com bombas atômicas: Hiroshima e Nagasaki”, detalhou Ianhez.
“Se compararmos os dados destas 68 cidades atacadas, constatamos que Hiroshima ocupa o segundo lugar em número de vítimas, quarto lugar em número de quilômetros destruídos e o 17º lugar em porcentagem de cidade destruída.”
Por outro lado, “99,5% da cidade de Toyama foi destruída pelos bombardeios convencionais. Hamamatsu foi destruída em 90%. Hiroshima, em pouco mais de 50%”, notou.
Portanto, “sob o ponto de vista da intensa campanha de bombardeios que estava sendo realizada no Japão, os bombardeios de Hiroshima e Nagasaki não são excepcionais”.
Entrada da URSS na guerra contra o Japão
Para o historiador, a entrada da URSS na guerra contra o Japão, realizada em 9 de agosto de 1945, o mesmo dia do ataque nuclear a Nagasaki, foi o fator que determinou a rendição japonesa aos aliados.
Antes da invasão soviética, a liderança japonesa “já não tinha esperanças de ganhar a guerra […], mas achava que poderia postergar a rendição por meses, caso conseguisse garantir a manutenção da neutralidade soviética“, disse o Ianhez.
“Em notas da reunião de julho do Conselho Supremo japonês, as autoridades afirmam: ‘a manutenção da paz com a URSS é uma condição essencial para a nossa permanência na guerra'”, apontou o historiador.
Mas, cumprindo o acordo selado com os norte-americanos e britânicos durante a Conferência de Teerã, os soviéticos entram na guerra contra Tóquio.
“Em 9 de agosto de 1945, os soviéticos quebram o tratado de neutralidade que tinham com o Japão e invadem a Manchúria”, conta o historiador.
“Em somente dez dias a URSS já havia rompido todas as forças na região. Eles só pararam quando acabou o combustível”, disse.
Os japoneses estavam cientes de que “os soviéticos teriam condições de tentar desembarcar no Japão […], enquanto os americanos ainda estavam a semanas de uma possível invasão”.
Portanto, “a invasão pela URSS abriu a possibilidade de o território japonês ser atacado por duas frentes diferentes e duas potências diferentes”, explicou Ianhez.
A invasão soviética também teria deflagrado o “temor dos japoneses de terem que se render aos soviéticos”.
“Os japoneses preferiam se render aos americanos: eles acreditavam que, nesse caso, eles poderiam manter o imperador, que era uma figura sagrada, no poder.”
Narrativa consagrada
Apesar do papel fundamental da invasão soviética na rendição do Japão, prevalece a narrativa de que as bombas de Hiroshima e Nagasaki determinaram o fim da guerra.
“A narrativa que coloca as bombas nucleares no centro da rendição do Japão se provou mais conveniente tanto para os japoneses quanto para os norte-americanos, e por isso foi consagrada”, disse Ianhez.
“Considerando que a rendição militar era extremamente vergonhosa para os japoneses e que o imperador era considerado uma figura divina, atribuir a rendição a uma arma milagrosa […] seria menos humilhante do que uma rendição militar comum, gerada por uma derrota militar convencional”, argumentou.
Os ataques nucleares também “ajudam a construir uma narrativa de vitimização do Japão, que atenua as atrocidades e o papel nefasto que o país cumpriu durante a ocupação da Coreia e da China”.
Além disso, os japoneses tinham o interesse em “agradar os americanos, para negociar termos de rendição mais favoráveis”.
“Para os EUA, a narrativa é muito conveniente, porque atribui a vitória exclusivamente a eles. Eles saem como os grandes vitoriosos da guerra contra o Japão”, concluiu o historiador.
No dia 6 de agosto de 1945, bombardeiro americano B-29 realiza ataque atômico contra a cidade de Hiroshima, no sudeste do Japão. Três dias mais tarde, ataque similar é realizado contra a cidade de Nagasaki. No total, mais de 200 mil pessoas morreram, 120 mil em Hiroshima e 80 mil em Nagasaki.
Próximo ao epicentro da explosão, as temperaturas atingiram sete mil graus Celsius, gerando queimaduras fatais em milhares de vítimas. A onda de choque gerada pela bomba vitimou e soterrou outros milhares sob os escombros da cidade japonesa.
A radiação gerada pela bomba fez muitas outras vítimas nos dias, semanas e anos que se seguiram aos primeiros e únicos usos de bomba nuclear em conflito armado da história mundial.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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