“Se pudéssemos marcar uma data em que a Colômbia se fudeu, seria 1972”, disparou o jornalista Leonardo Wexell Severo em entrevista ao Dialogando com Paulo Cannabrava em 27 de fevereiro. Segundo o comunicador, o ano serve para resumir a história da concentração fundiária na Colômbia e a resistência dos setores conservadores à reforma agrária.
Redator especial do jornal Hora do Povo e membro da Comunicasul, Severo compartilhou suas impressões sobre o evento Pacto pela Terra e pela Vida, realizado na Colômbia. O encontro teve como objetivo impulsionar a reforma agrária, uma das principais bandeiras de Gustavo Petro, e foi encerrado em 22 de fevereiro com a assinatura de um acordo entre o governo e lideranças da pauta.
Severo é contundente ao criticar a condução de Petro na luta histórica pela reforma agrária, e denuncia o pacto dos grandes proprietários para expulsar camponeses de suas terras, um movimento que, segundo o jornalista, intensificou a exploração da mão de obra rural e aprofundou a informalidade, que hoje afeta 85% dos trabalhadores do campo.
“Pacto pela Terra e pela Vida”: Colômbia assina acordo histórico em prol da reforma agrária
“Os três governos anteriores distribuíram apenas 30 mil hectares, enquanto o governo Petro já passou de um milhão”, afirmou o comunicador ao comparar os atuais avanços na redistribuição de terras aos números das gestões anteriores. A mudança, enfatiza, tem impactos positivos diretos na redução da violência no campo e no barateamento dos alimentos nas cidades.
Outro ponto abordado por Severo foi a relação do governo colombiano com o Congresso e a elite econômica do país. “O problema não é só no legislativo. O judiciário também está completamente aparelhado pela oligarquia”, afirma, explicando que muitas das iniciativas progressistas do governo são barradas pela Corte Constitucional. “A reforma agrária não é apenas sobre terra, mas sobre justiça social, segurança alimentar e soberania nacional”, acrescenta.
Sobre a política de paz total defendida por Petro, Severo destaca os desafios da negociação com grupos armados e a influência do narcotráfico e das transnacionais no conflito: “Infelizmente, parte da guerrilha que lutava pela soberania do povo colombiano acabou se voltando para interesses menores e, muitas vezes, faz o jogo do latifúndio e das mineradoras”, critica.
Nesse sentido, o jornalista enfatiza a importância da mobilização popular para consolidar as reformas propostas pelo governo colombiano. “Sem um movimento de massa forte nas ruas, será impossível romper com esse modelo que há séculos sangra a Colômbia”, conclui.
Confira entrevista completa no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube: