A renúncia de Theresa May no último dia 7 de junho foi o tiro de largada para a corrida pela liderança do Partido Conservador, e o cargo de Primeiro-ministro do Reino Unido.
Dos dez candidatos que se lançaram três dias depois, depois de conseguir o apoio de pelo menos oito parlamentares de sua bancada, três foram eliminados na primeira votação por não conseguir os 17 votos necessários para passar à segunda rodada.
Um quarto candidato, o ministro de Saúde, Matt Hancock, acaba de atirar a toalha, deixando em seis o número de interessados em se mudar ao número 10 da Downing Street no final de julho.
Em primeiro lugar no sexteto está o agora ex-chanceler Boris Johnson, quem passou com 114 dos 313 votos possíveis nessa primeira eliminatória.
A vitória arrasadora confirmou o favoritismo do controverso político de 54 anos, notório não só por seu rebelde cabelo louro, mas por possuir uma língua afiada e bastante solta, que o meteu em problemas em mais de uma ocasião.
Agora que está no centro da política britânica, a imprensa local não se cansa de recordar, por exemplo, que uma vez chamou os habitantes de Papúa Nova Guiné de canibais, ou que comparou as mulheres muçulmanas que usam burkas com 'caixas de correio' pela pequena abertura na vestimenta que só deixa ver os olhos.
No terreno político, e em particular o Brexit, também mantém um discurso agressivo, principalmente depois de prometer que tirará o Reino Unido da União Européia (UE) em 31 de outubro, com ou sem acordo com o bloco.
Enfrentamos a uma crise existencial e não nos perdoarão se não implementarmos o Brexit em 31 de outubro, afirma o também ex-prefeito de Londres, quem em 2016 liderou a campanha pelo referendo em que 52% dos britânicos votou a favor de abandonar a UE.
Seu anúncio de que não pagará à aliança européia os 39 bilhões de libras esterlinas prometidas no acordo de saída negociado por May causou grande comoção em ambos lados do canal da Mancha.
Prensa Latina
Theresa May
O segundo candidato mais votado na primeira rodada eliminatória foi o atual chefe da diplomacia britânica, Jeremy Hunt, quem obteve 43 votos.
Hunt, de 52 anos, está no extremo oposto de Johnson em relação ao Brexit, que se converteu no fator dominante da corrida e foi a causa da renúncia de May.
Segundo adiantou o chanceler britânico, que no referendo de 2016 se alinhou aos que desejavam permanecer no bloco europeu, se chegar ao Governo, criará uma equipe para negociar um novo acordo de retirada, uma promessa não muito factível de se cumprir, principalmente depois que a UE advertiu que o pacto já está fechado.
O ministro de Meio-ambiente, Michael Gove, quem conseguiu o apoio de 37 deputados, defende uma posição muito parecida à de Hunt em relação ao Brexit, e está disposto inclusive a adiar a ruptura para depois de 31 de outubro, caso haja probabilidade de atingir um novo pacto.
Gove, no entanto, conseguiu mais notoriedade no começo da campanha por ter admitido que no passado consumiu cocaína em várias oportunidades, uma confissão que poderia representar o fracasso de suas pretensões, não pelo uso em si dessa droga forte, mas porque muitos o chamam de hipócrita por ter impulsionado uma forte política antidrogas quando era ministro de Justiça.
A lista de candidatos que ficaram de pé após a primeira votação inclui também o ex-ministro para o Brexit, Dominic Raab, os titulares do Interior e Desenvolvimento Internacional, Sajid Javid e Rory Stewart, respectivamente.
Em geral, os três políticos defendem um Brexit negociado com a UE, ainda que também não descartem uma ruptura unilateral, apesar de analistas advertirem que essa opção poderia provocar uma crise econômica e social no Reino Unido.
De acordo com o cronograma estabelecido pelo Partido Conservador, no decorrer desta semana, a bancada do governo fará outras três rodadas de votações para deixar os dois candidatos mais populares, quem no final de julho se submeterão à votação de todos membros do partido, número calculado em cerca de 160 mil filiados.
Meios de imprensa locais especulam, no entanto, que alguns membros prominentes dentro da organização que apoiam Johnson estão pressionando o resto dos candidatos a se retirarem da corrida e dessa forma acelerar a sucessão
Eleições Gerais?
Depois da renúncia de May, que continuará no cargo até a eleição de seu sucessor, o líder do Partido Trabalhista britânico, Jeremy Corbyn, reiterou seu chamado a eleições gerais no Reino Unido.
O próximo Primeiro-ministro não deve ser escolhido por um punhado de membros não representativos do partido Tory, afirmou Corbyn em sua conta no Twitter.
Na opinião do parlamentar opositor, o substituto de May deve permitir que o povo decida sobre o futuro do país, através de eleições gerais imediatas.
O Brexit deveria entrar em vigor no último dia 29 de março, mas a negativa da Câmara dos Comuns de apoiar o tratado de retirada negociado pela Primeira Ministra obrigou seu adiamento para 31 de outubro, data em que Londres deverá decidir se abandona a UE com ou sem acordo, ou cancela por completo sua saída do bloco.
*Correspondente da Prensa Latina no Reino Unido
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