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Toggle- Atualizado em 14 de fevereiro de 2025 às 9h18.
O Equador amanheceu na última segunda-feira (10) com um intenso debate político após os resultados das eleições gerais e, sobretudo, após os pronunciamentos dos dois finalistas: Luisa González, da Revolução Cidadã (RC), e Daniel Noboa, da Ação Democrática Nacional (ADN). As redes sociais e meios de comunicação acolheram suas declarações como as primeiras mostras do que será a estratégia para o segundo turno, em 13 de abril.
A margem que separa os ganhadores desse primeiro turno é de menos de um ponto. Inclusive, se mantida a tendência de crescimento de González, ela poderia superar seu rival por uma margem não maior que um ponto, assinalam os especialistas. Até o fechamento desta edição, com 99,69% das atas escrutinadas, a porcentagem a favor da candidata da RC era de 43,99%, e para o candidato da ADN, de 44,16%.
Os outros 14 candidatos dividiram menos de 12% dos votos válidos. A votação ocorreu das 7h às 17h, quando as urnas foram fechadas, sem maiores incidentes a nível nacional. Os primeiros resultados da apuração oficial do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) começaram a chegar às 18h, mas foi somente às 22h30 que a presidenta do órgão, Diana Atamaint, se dirigiu ao país para proclamar Noboa e González como finalistas do segundo turno.
Atamaint disse que, com a consolidação dos resultados de mais de 10 províncias, podia informar o resultado. Quase imediatamente, após o pronunciamento do CNE, Luisa González se apresentou a seus apoiadores e, de início, destacou: “Superamos a votação histórica da Revolução Cidadã nos últimos 10 anos. Ou seja, nós, como organização política que reflete o sentimento de um povo que foi esquecido, sentimos esse valor, esse carinho e essa esperança das pessoas”.
Ao mesmo tempo, fez um apelo à unidade de seus adversários políticos para somar apoios no segundo turno eleitoral. Por exemplo, parabenizou Leonidas Iza pela votação obtida (5,24%) e o convidou a construir uma agenda conjunta para frear a violência, a migração e o desemprego.
Em entrevista ao autor desta nota, González denunciou uma série de travas impostas a seus delegados nos recintos eleitorais, atribuindo essas ações a uma estratégia para debilitar sua candidatura. E, nesse sentido, considerou que sua votação poderia ter sido superior, mas revisarão todas as atas para apresentar as demandas, se for o caso:
“Enfrentamos um Golias que quer destruir um povo, com o uso desmedido de recursos públicos, do aparato estatal a favor do candidato presidente, mas a dignidade e a esperança venceram o grande talão de cheques”, afirmou González.
Apelo à unidade política e social
Ao comentar o ocorrido no fechamento das eleições, quando se quis impor um ganhador no primeiro turno, após um exit poll (pesquisa de boca de urna) que favorecia Noboa, ela disse que sua equipe sempre teve claro que haveria um segundo turno. “Sabíamos que era uma eleição difícil, mas o povo demonstrou sua decisão de mudar o rumo do país”.
Nesse sentido, destacou que os planos que propôs ao povo equatoriano foram acolhidos e, em parte, explicam a votação recebida a seu favor. Referiu-se aos planos de governo focados em segurança, economia e direitos sociais.
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Entre suas propostas, destacou o Plano Protege, para fortalecer a segurança; o Plano Impulsa, que abrange saúde, educação, moradia, cultura e esporte; e o Plano Acolhe, dirigido aos migrantes retornados. No campo econômico, González assegura que, em sua gestão, serão concedidos créditos produtivos com taxas baixas de 7,5% por meio da banca pública para reativar a indústria e o emprego. “Não podemos seguir com o desemprego e a migração em aumento. É o momento de gerar oportunidades dentro do país”, afirmou.
No entanto, também está ciente da dificuldade de obter apoios para superar 50% da votação no segundo turno, e justamente por isso fez um apelo à unidade política e social. “Desde agosto de 2023, promovi diálogos com diversas forças políticas e setores industriais para construir um governo de consenso. Precisamos deixar para trás a polarização e começar a construir juntos um Equador de paz e progresso”.
Noboa se autodeclara vencedor
Enquanto González busca alianças com setores sociais e políticos, com uma proposta de governo de unidade, Noboa agora sairá na mídia para expor suas propostas, pois na campanha prévia ele havia dado apenas duas entrevistas e evitado contato com jornalistas e espaços de debate.
A vitória no primeiro turno estava dentro das previsões do oficialismo, pois, desde a quinta-feira passada, a narrativa do chamado “voto útil” foi enfatizada nos meios de comunicação aliados e por jornalistas afins. O discurso era de que a população evitaria desperdiçar seu voto em outros candidatos que não tinham chance de chegar ao segundo turno, garantindo assim a permanência de Noboa no poder pelos próximos quatro anos.
Ainda na noite de domingo, os seguidores de Noboa o esperaram em frente a um hotel de luxo no norte de Quito, onde era esperada uma celebração com artistas, além de uma caravana de veículos que percorreria a zona comercial e bancária da capital equatoriana.
Porém, o hermetismo foi total, e nada disso aconteceu. O mandatário os deixou plantados e desiludidos, como foi observado nas imagens dos canais de televisão. Nenhum dos candidatos ou funcionários do governo se pronunciou ao longo do dia, e menos ainda quando os resultados oficiais começaram a ser divulgados. Os ministros e candidatos evitaram contato com a imprensa e saíram pelos subsolos do hotel.
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Um dia após o sufrágio, ainda se assumindo como vencedor, Noboa publicou em sua conta no X: “Ganhamos o primeiro turno contra todos os partidos do velho Equador”.
Na mensagem, ele acrescentou: “Demos o passo mais importante de todos: consolidar uma Assembleia diferente, tornando-nos a primeira força capaz de trabalhar por vocês e não de focar seus esforços em nos perseguir ou enfraquecer para obter imunidade”.
No entanto, os primeiros cálculos para a formação da nova legislatura não lhe dão maioria nem o maior bloco, pois a diferença de assembleístas para o período 2025-2029 será de dois ou três a favor da aliança RC-RETO (Movimiento Renovación Total, de centro-esquerda). Inclusive, uma força importante será o Pachakutik, que apoiou a candidatura de Leonidas Iza, pois alcançaria entre seis e nove cadeiras. E, com esses números, teriam, se aliados, uma maioria para aprovar leis e iniciar a fiscalização política.
Resultado do domingo frustra boca de urna
A maior surpresa do último domingo ocorreu por volta das 17h, quando uma empresa de exit poll declarou Noboa como vencedor no primeiro turno, com 50% dos votos. A notícia agitou as redes sociais e animou os apoiadores do candidato presidencial. No entanto, as autoridades do CNE mantiveram silêncio até as 22h30, quando haviam previsto aparições televisivas às 17h, 19h e 21h, mas isso não aconteceu.
Diante disso, González afirmou que os números do exit poll eram “mais uma mentira do candidato Noboa”. E acrescentou que, por isso, decidiram aguardar os resultados oficiais do CNE. “Pouco a pouco, a distância está diminuindo, estamos quase em um empate técnico”, comentou. Tanto ela quanto seu vice, Diego Borja, reforçaram suas críticas ao CNE por não garantir transparência. Por isso, o RC implementou seu próprio aparato de controle eleitoral em cada uma das 41 mil juntas receptoras de votos, para certificar que os votos emitidos fossem contabilizados no sistema informatizado.
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A possibilidade de uma terceira opção eleitoral foi logo descartada, embora a surpresa tenha sido Leonidas Iza. Os demais candidatos evitaram fazer declarações, pois quase todos tiveram votação abaixo de 1%. A exceção foi Andrea González, do partido Sociedade Patriótica, que obteve 2,69%.
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Diferentemente do ocorrido nas eleições de 2023, quando houve uma dezena de candidatos assassinados, entre eles o presidenciável Fernando Villavicencio, desta vez não houve relatos desse tipo, exceto por dois ataques na província de Guayas. Todo o processo, iniciado em 5 de janeiro, transcorreu sem mortes.
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O que ficou claro para muitos foi a decadência dos partidos tradicionais que já haviam exercido a presidência no passado, como o Partido Social Cristão (PSC) e a Esquerda Democrática (ID). Tanto o candidato social-cristão, Henry Kronfle, quanto o da social-democracia, Carlos Rabascall, não alcançaram nem 1% da votação, com 0,72% e 0,21%, respectivamente.
De olho no segundo turno, o calendário está definido para início da campanha no domingo de 23 de março, com um debate presidencial entre Noboa e González. Um dia depois, na segunda-feira, 24, começa formalmente a campanha nos meios e nas ruas, que deve se estender até a quinta-feira de 10 de abril, e no domingo de 13 de abril, será a eleição com uma única cédula.
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