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ToggleNesta quinta-feira (7), o presidente da Rússia, Vladimir Putin felicitou Donald Trump por seu triunfo nas eleições presidenciais dos Estados Unidos e, embora não considere inadequado ligar para ele, esclareceu que, por ora, não tem planos de fazê-lo.
O titular do Kremlin discursou perante os membros do Clube Internacional de Debates Valdai, que reúne anualmente especialistas russos e de outros países, desta vez no balneário de Sochi, na costa do Mar Negro.
O tema era inevitável, e Putin não decepcionou as expectativas da audiência ao afirmar: “Aproveito a ocasião para parabenizá-lo (Donald Trump) por sua eleição como presidente dos Estados Unidos. Já disse que vamos trabalhar com qualquer chefe de Estado que receba o apoio do povo estadunidense”.
Essa foi a resposta de Putin à pergunta sobre o que achava da declaração de Trump, que considerava necessário encerrar a guerra na Ucrânia e melhorar a relação com a Rússia, depois de assinalar que essa opinião (de Trump) “merece atenção”.
“Um homem valente”
Ao comentar o atentado sofrido pelo republicano em 14 de julho passado, Putin ressaltou que “ele se mostrou um homem valente. Um homem se revela realmente em situações extraordinárias, e ele se mostrou, a meu ver, de maneira adequada, com valentia. Como um homem”.
O mandatário russo aproveitou a tribuna para criticar os Estados Unidos e seus aliados, acusando-os de querer provocar uma “derrota estratégica” à Rússia. Ele lembrou que o país possui um dos arsenais nucleares mais poderosos, o que evidencia, segundo ele, que alguns políticos ocidentais são “aventureiros extremos”, e acrescentou que “ninguém pode garantir que o Ocidente não será o primeiro a usar armas nucleares”.
Advertiu: “A ilusão das elites ocidentais de que são impunes e exclusivas pode levar a uma tragédia mundial, já que muitos dos conflitos atuais correm o risco de acabar em aniquilação mútua”.
Responsabilizou o chamado “Ocidente coletivo” por usar a Ucrânia contra a Rússia: “Nossos inimigos recorrem a novas formas para tentar nos destruir. Agora estão utilizando a Ucrânia e os ucranianos como uma ferramenta desse tipo, sendo cinicamente treinados contra os russos, convertendo-os, de fato, em carne de canhão”, afirmou.
Fim da guerra fria e cobiça geopolítica
Putin argumentou ainda que o Ocidente “interpretou mal, sob interesse próprio, o que considerava o resultado da Guerra Fria, quando começou a remodelar o mundo para si mesmo. Sua cobiça geopolítica descarada e sem precedentes é a verdadeira origem dos conflitos, começando pela tragédia em Iugoslávia, Iraque, Líbia. E agora, Ucrânia e Oriente Médio”.
Perguntou-se: “Que tipo de conflito estamos presenciando hoje? Estou convencido de que não se trata de um conflito de todos contra todos (…). Estamos assistindo a um conflito entre a imensa maioria da população mundial, que deseja viver e se desenvolver em um mundo interconectado e com inúmeras oportunidades, e a minoria global, preocupada apenas com uma coisa, como já disse: preservar seu domínio”.
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Como conclusão, sublinhou: “Deve ficar claro para todos: é inútil nos pressionar. Mas estamos sempre dispostos a negociar, levando plenamente em conta os interesses legítimos mútuos”.
Pior impossível
O Kremlin recebeu sem entusiasmo nem preocupação a notícia de que Donald Trump voltará a ocupar a Casa Branca, embora deduza que, com o republicano, o contexto poderia favorecer um desfecho da guerra com a Ucrânia em condições melhores para a Rússia, caso se traduza em uma redução substancial da ajuda financeira e de armamento que Kiev recebe de Washington.
Esse poderia ser um resumo do estado de ânimo da cúpula governante da Rússia, com base nas declarações que circularam na quarta-feira (6) em Moscou, diante do fato de que nos próximos quatro anos o titular do Kremlin, Vladimir Putin, terá que lidar com o imprevisível Trump.
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Questionado por repórteres ainda na quarta-feira, o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, afirmou que ainda não sabia se Putin iria felicitar Trump, mas que, caso o titular do Kremlin não o fizesse, provavelmente o republicano não se incomodaria, assim como a relação bilateral não pioraria.
“Piorar as relações é praticamente impossível, pois já estão no seu nível mais baixo na história. E, daqui para frente, vai depender do novo governante dos Estados Unidos. O presidente Putin tem dito repetidamente que está aberto a um diálogo construtivo, baseado na justiça, na igualdade de direitos e em levar em conta as preocupações de ambos os lados. No momento, a administração estadunidense age exatamente de forma oposta. O que acontecerá (com Trump), veremos”, indicou Peskov, acrescentando: “Não devemos esquecer que se trata de um país hostil, que está direta e indiretamente implicado em uma guerra contra nosso Estado”.
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Ainda segundo o porta-voz, “sendo os Estados Unidos o país mais interessado em manter esse conflito, constantemente jogando gasolina no fogo, certamente poderia modificar (com Trump) a trajetória de sua política externa”, mas não se saberá quais são as verdadeiras intenções do vencedor até que ele tome posse (em janeiro próximo).
“Muitas vezes já aconteceu de — apontou Peskov —, após a vitória, antes de se instalar ou já como inquilino da Casa Branca, as declarações (do candidato) mudarem de tom”.
Sem ilusões
A Chancelaria russa, por sua vez, emitiu um comunicado esclarecendo: “Não temos ilusões em relação ao presidente estadunidense eleito, que é bem conhecido na Rússia, e com a nova composição do Congresso, onde, segundo dados preliminares, prevalecem os republicanos”.
O documento assevera que “a elite política que governa os Estados Unidos, independentemente de sua orientação partidária, adere à mesma política contra a Rússia e busca ‘conter Moscou’. Essa linha não varia no barômetro da política interna dos Estados Unidos, seja o ‘Torne a América grande de novo’ na interpretação de Donald Trump ou a ‘ordem mundial baseada em regras’ que os democratas praticam com obstinação”.
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O ministério diplomático afirma que a Rússia está disposta a trabalhar com a nova administração dos Estados Unidos quando esta tomar posse da Casa Branca, mas adverte: “Defenderemos com firmeza os interesses nacionais da Rússia e focaremos em alcançar todos os objetivos marcados pela operação militar especial na Ucrânia”, dando a entender que Moscou não aceitará um cessar-fogo se suas condições não forem atendidas, as quais “são invariáveis e Washington as conhece muito bem”.
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