“A periferia brasileira é a Faixa de Gaza, e nossas polícias atuam como tropas de ocupação”, afirma o historiador e especialista em relações internacionais Sayid Marcos Tenório. Em entrevista ao Dialogando com Paulo Cannabrava desta terça-feira (22), o também vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) denunciou a manutenção das relações entre o Brasil e Israel e reforçou a relevância de posicionamentos internacionais firmes frente ao genocídio em curso na Palestina.
“Enquanto países como Colômbia e África do Sul rompem relações com Israel, o Brasil mantém contratos milionários com empresas bélicas israelenses”, observa, destacando que o Exército e as polícias brasileiras utilizam tecnologia militar testada contra o povo palestino.
O historiador acrescenta que a diplomacia brasileira é marcada por contradições: “O Brasil vota na ONU em favor da Palestina, mas transfere bilhões a Israel em acordos militares. É preciso romper relações e expulsar o embaixador sionista que afronta o governo brasileiro e atua como líder da extrema-direita no país.”
“Não o reconheci”: pais de brasileiro torturado em “Guantánamo israelense” pedem ajuda ao Brasil
O oposto da postura diplomática brasileira é o que se observa na atuação do Papa Francisco, que morreu na última segunda-feira (21). Segundo Sayid, o pontífice rompeu com o silêncio das lideranças mundiais: “Ele não recuou. Denominou o que está acontecendo da forma correta: genocídio”.
O entrevistado recorda que o Papa chegava a ligar diariamente para a Igreja Católica em Gaza, sempre às 19h, para saber das vítimas, demonstrando “solidariedade concreta”, e cita o confronto direto entre Francisco e Benjamin Netanyahu durante visita a Israel: “Foi hostilizado e atacado, mas manteve sua postura firme”, diz. Por isso, declara: “O Papa Francisco exerceu um papel muito importante para o povo palestino”.
Sayid também comentou a narrativa religiosa construída pelo sionismo para justificar a ocupação: “A história da Terra Prometida é uma fantasia bíblica instrumentalizada para legitimar um projeto colonial”, afirma. Ele lembra que muçulmanos, judeus e cristãos convivem pacificamente na Palestina histórica, e que o conflito atual é de natureza geopolítica, não religiosa.
Leia mais notícias sobre Gaza na seção Genocídio Palestino.
Sobre a mídia ocidental, Sayid assinala que ela “cumpre o papel de desinformar e legitimar o massacre”, ao desumanizar os palestinos e retratar Israel como vítima. “Quem diz ‘eu ouvi no Jornal Nacional’ não ouviu a verdade”, ironiza.
Ao encerrar, Sayid compara o atual regime de Israel ao nazismo, afirmando que o sionismo pratica crimes bárbaros: “Roubo de órgãos, testes em prisioneiros, bombardeios em massa… tudo com apoio dos EUA e da Europa. O genocídio está sendo televisionado e tolerado.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube: