Os governos latino-americanos perderam a máscara e suas caras mostram o cinismo aberto de sua cobiça desmedida e um evidente afã de enganar os povos. Nenhum se salva; estão em plena competição ocultando diante da comunidade internacional – extra continental – os resultados da catástrofe social, econômica e sanitária provocada por décadas de saque, privatizações espúrias e exploração da classe trabalhadora.
Esta pandemia deixou à vista o esqueleto do sistema e não é mais possível dissimular as intenções por trás das supostas medidas para enfrentar a crise. O mais triste do caso é ver como alguns profissionais, conhecidos por sua impecável reputação, caem nesse jogos de malabarismo político e terminam apoiando os governantes mais corruptos.
Nossas sociedades foram caladas com o fantasma do contágio que, mesmo sendo real, terminou por se converter em um parapeito atrás do qual se perpetra toda classe de delitos. É possível imaginar a alegria dos governantes ao constatar que o povo vive calado e temeroso, sem que eles precisassem mover um dedo. Ou, para maior clareza, sem necessidade de mover seus esbirros anti-choques.
Foto: Julio Oliva / Pressenza
O povo tem o direito de saber e as autoridades têm a absoluta e indiscutível obrigação de prestar contas claras
Hoje, se divertem vendo de que formas os cidadãos mais corajosos vertem sua frustração nas redes sociais, o que, afinal de contas, é uma catarse inócua para seus planos de dominação das estruturas do Estados, as quais, de todos os modos, já estão cooptadas há muito tempo.
No entanto, um povo submisso e calado já não pode nem deve ser parte deste jogo, dado que está sendo rifada a sua vida e a de sua família, e se não reagir diante dos abusos de seus governos, será parte do processo de destruição dessa democracia que durante décadas custou sangue e perdas humanas.
O processo de converter nossos países em ditaduras iguais às das décadas de 70 já está em marcha e os protestos tíbios e ineficazes por meio das redes não terão o menor efeito. Por isso, é imperativo começar a exigir clareza sobre algumas dúvida elementares para ir traçando o mapa atual e obter alguma clareza em relação – pelo menos – às medidas contra a pandemia.
Entre as dúvidas elementares que assaltam a população e sobre as quais não se consegue resposta algumas das autoridades, os governantes têm a obrigação de responder sobre quais são os seus planos para controlar a pandemia; o povo tem direito de conhecer os detalhes pontuais sobre a execução dos vultosos orçamentos destinados a tal fim; os encarregados das comissões específicas para enfrentar a pandemia têm a obrigação de explicar porque nas mortes não são incluídos os contagiados pela Covid-19 que falecem em seu domicílio; também é imperativo que haja transparência sobre o orçamento que tem sido destinado a cobrir as regiões mais distantes das capitais, nas quais a estrutura sanitária é praticamente inexistente.
Por outro lado, têm a obrigação de explicar à cidadania de que forma tentam frear os contágios quando os setores econômicos continuam pressionando para realizar uma abertura tão inoportuna como perigosa, quando entidades da sociedade civil já demonstraram o incremento do risco apesar das medidas atuais e quando a cada dia é mais evidente a falta de adesão às normas impostas aos setores mais afetados.
O povo tem o direito de saber e as autoridades têm a absoluta e indiscutível obrigação de prestar contas claras. A participação virtual pode ser um apoio, mas a verdadeira alavanca está em mostrar de maneira rotunda que com a vida humana não se especula.
Os governantes devem explicar o que os povos querem saber.
Carolina Vásquez Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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