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A paz duradoura não pode ser construída sobre a subjugação de um povo inteiro ou sobre a impunidade de líderes que ordenaram campanhas devastadoras contra civis. (Foto: Flickr)

Sem paz com um criminoso de guerra

Benjamin Netanyahu e seu governo empreendem atrocidades em Gaza e na Cisjordânia; excluí-lo de qualquer negociação de paz, assim, não é um gesto político: é um imperativo humanitário, judicial e de segurança

Jawdat Manna
Diálogos do Sul Global
Jerusalém

Tradução:

Por décadas, a busca pela paz no Oriente Médio tem sido minada por líderes que veem a justiça como um obstáculo, e não como um pré-requisito. Hoje, a exigência por um processo de paz digno de confiança requer um princípio simples: os acusados de crimes de guerra não podem ser parceiros na construção do futuro. Benjamin Netanyahu, cujo governo presidiu atrocidades em Gaza e na Cisjordânia, deve ser excluído de qualquer negociação de paz, e não ser recompensado com um assento à mesa.

Uma questão de justiça, não de política

Excluir Netanyahu não é um gesto político: é um imperativo humanitário, judicial e de segurança. A história oferece precedentes instrutivos. O mundo não convidou Adolf Hitler ou Slobodan Milosevic para mesas de paz: perseguiu-os como perpetradores de crimes que abalaram a ordem internacional. Conceder legitimidade a Netanyahu é garantir impunidade a um homem cujas políticas infligiram sofrimento civil generalizado e minaram os próprios princípios sobre os quais se sustenta um sistema internacional baseado em regras.

Branqueando um histórico de atrocidades

O “plano de paz” proposto por Netanyahu não é um projeto de reconciliação. É um esforço para limpar sua reputação e garantir um lugar na comunidade internacional como um estadista legítimo. Nenhum plano concebido pelo arquiteto da ocupação contínua e da punição coletiva pode ser confiável para oferecer uma paz genuína. Conceder-lhe reconhecimento diplomático não o integraria ao mundo civilizado, e sim mancharia a credibilidade daqueles que aceitam seus termos.

O fracasso da diplomacia coercitiva

A história da luta palestina demonstra que a diplomacia da coerção fracassou, e continuará fracassando. As vozes das vítimas – vozes de “sacrifício e coragem” – não podem ser silenciadas pela força militar nem por manobras diplomáticas. A paz duradoura não pode ser construída sobre a subjugação de um povo inteiro ou sobre a impunidade de líderes que ordenaram campanhas devastadoras contra civis.

Os cálculos políticos de Trump

O presidente dos EUA, Donald Trump, buscou minar a onda global de solidariedade com a Palestina, não por princípio, mas para proteger suas perspectivas políticas. Tendo se posicionado uma vez como “fazedor de acordos” com líderes árabes e muçulmanos na Casa Branca, Trump acabou se alinhando a Netanyahu para promover um projeto colonial de nova era que trai a própria noção de uma paz justa e mina o direito internacional.

Paz construída sobre a responsabilização

Não pode haver paz genuína enquanto os responsáveis por guerras, atrocidades e impunidade permanecerem na mesa de negociações. A verdadeira reconciliação requer responsabilização, não anistia. Longe de obstruir a paz, levar perpetradores à justiça é o único caminho para construir uma paz duradoura e legítima na região.

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O mundo deve aprender com a história: paz sem justiça não é estável nem honrosa. Excluir Netanyahu e seus aliados de extrema direita de qualquer processo de paz não é apenas uma necessidade moral, mas um passo prático rumo ao fim de décadas de conflito.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jawdat Manna Jornalista e diretor-executivo da Casa da Memória – Rede de Museus de Jerusalém, reconhecida como a instituição mais ativa no mundo árabe trabalhando por Jerusalém pelos Fóruns de Intelectuais de Jerusalém.

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