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Cerca de 90% da população teve que deixar suas casas em busca de refúgio (Foto: Saeed Jaras)

Sem pesca, plantio ou ajuda humanitária: fome leva 500 mil palestinos à desnutrição extrema

O pouco alimento que entra em Gaza, sob autorização de Israel, é insuficiente para toda a população, proibida de pescar no Mediterrâneo; 80% da terra para cultivo foi danificada pelos bombardeios

Redação IPS
IPS
Nova York

Tradução:

Ana Corbisier

Os bombardeios de Israel sobre a Faixa de Gaza, inclusive sobre uma escola que abrigava centenas de refugiados, mataram pelo menos 50 pessoas no último dia 26, agravando o cenário marcado pela fome que ameaça meio milhão de pessoas, informaram agências das Nações Unidas.

Um informe da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (Unrwa) indicou que os refúgios “estão superlotados com pessoas deslocadas que buscam desesperadamente segurança” diante dos incessantes bombardeios.

“Muitas famílias se refugiam em edifícios abandonados, inacabados ou danificados. As condições sanitárias são terríveis; em alguns casos, centenas de pessoas têm que compartilhar um único banheiro. Outras, inclusive crianças e mulheres grávidas, dormem ao relento”, exemplificou o informe da Unrwa.

Por sua vez, James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), declarou: “Estamos há 11 semanas sem que nada entre na Faixa de Gaza: nem alimentos, nem medicamentos, nada além de bombas”.

“E hoje, uma semana depois de finalmente ter sido novamente permitida a entrada de ajuda vital em Gaza, a magnitude dessa ajuda é dolorosamente insuficiente”, acrescentou.

Duas centenas de caminhões com alimentos, insumos e medicamentos puderam entrar nos últimos dias, quando as autoridades israelenses autorizaram sua passagem, mas sem conseguir alcançar toda a Faixa (365 km², às margens do Mediterrâneo) nem os pontos críticos que necessitam desesperadamente de comida e atenção médica.

Os habitantes de Gaza continuam em “risco crítico de fome”, conforme alertaram especialistas em segurança alimentar apoiados pela ONU (Foto: Saeed Jaras)

As agências da ONU insistiram que pelo menos entre 500 e 600 caminhões devem entrar em Gaza diariamente para atender às necessidades da população, como ocorria antes de 7 de outubro de 2023.

Naquela data, o Hamas atacou o sul de Israel; cerca de 1.200 pessoas morreram e 250 foram feitas reféns. Em resposta, Israel desencadeou uma ofensiva militar em grande escala na qual, desde então, morreram pelo menos 53.700 palestinos e outros 122 mil ficaram feridos.

A maioria das residências e quase toda a infraestrutura de serviços na Faixa foi destruída ou ficou inutilizada, e cerca de 90% da população teve que deixar suas casas em busca de refúgio — várias vezes, no caso de milhares de famílias.

Os habitantes de Gaza continuam em “risco crítico de fome”, conforme alertaram especialistas em segurança alimentar apoiados pela ONU. Estima-se que 500 mil pessoas, uma em cada cinco habitantes da Faixa, enfrentam a inanição (estado de fraqueza e desnutrição extrema).

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), resta menos de 5% das terras de cultivo disponíveis em Gaza. A população também não tem permissão para pescar.

Em abril de 2025, mais de 80% da área total de cultivo da Faixa havia sido danificada (12.537 hectares de 15.053), e os agricultores não conseguiam acessar 77,8%, restando apenas 688 hectares (4,6%) disponíveis para cultivo.

No front político e diplomático, a mídia israelense informa que os Estados Unidos estariam pressionando Israel para que ponha fim à guerra na Faixa.

Em sua mais recente declaração sobre o tema, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou: “Estamos conversando com eles (Israel) e queremos ver se conseguimos encerrar toda essa situação o mais rápido possível”.

Também circulam versões contraditórias sobre se o Hamas aceitou ou não uma proposta do enviado americano para tratar do conflito, Steven Witkoff, para libertar reféns em troca de um novo cessar-fogo, como o que vigorou de 15 de janeiro até meados de março.

E, por fim, também foram relatadas advertências por parte de ministros israelenses à França e ao Reino Unido, no sentido de que, se reconhecerem um Estado palestino, Israel poderá anexar definitivamente partes da Cisjordânia, o outro território onde vivem três milhões de palestinos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Redação IPS

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