A infância e a juventude representam a renovação indispensável para garantir a permanência e a transmissão de valores, tradições e esse complexo legado cultural que conforma o patrimônio intangível de uma nação. Sem essa dinâmica de troca de gerações é impossível conservar o equilíbrio do tecido social e, mais importante ainda, as capacidades de crescimento e desenvolvimento para uma sociedade cujo principal recurso é o aporte produtivo e criativo de seus integrantes. No entanto, na maioria dos países latino-americanos regidos por sistemas baseados em um modelo de economia de mercado, a infância passou a se converter em um item passivo sem qualquer incidência nos programas políticos.
Em países como Brasil e Chile, onde o setor econômico tem o poder de decidir sobre um assunto tão sensível e distante de seu território como a educação, ficou evidente o dramático desequilíbrio nas prioridades quando se trata dos direitos inalienáveis da infância e da juventude. Com o fechamento de estabelecimentos educativos “não produtivos” e a eliminação de matérias do currículo escolar por “não serem relevantes”, como aconteceu no Chile com a História, ficam transparentes as intenções desses setores poderosos cujos interesses se contrapõem de maneira frontal com o desenvolvimento de uma sociedade ilustrada, capaz de exercer uma cidadania forte e responsável.
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Investir na infância é investir no futuro da nação
Isso que sucede em duas nações com alguns passos a mais na via de desenvolvimento se repete em países muito menos avançados, onde inclusive se reduz o investimento estatal para fortalecer outros setores de maior poder político, como acontece na Guatemala com as forças armadas. A negligência no tratamento do tema educativo tem sido, neste país centro-americano, uma política de Estado há muitas décadas. Com o fechamento de institutos vocacionais e o abandona da rede de escolas públicas, a infância guatemalteca carente de recursos – a esmagadora maioria – é submetida a enfrentar as piores condições para ter acesso a uma educação medíocre e sem maiores perspectivas.
É evidente a intenção por trás dessa “não-política educativa”: A criação de um contingente de seres humanos carentes de ferramentas para progredir no ambiente de trabalho de maneira digna; um grande reservatório de escravos cujas opções ficam reduzidas a um salário de miséria ou ao desemprego. Uma nova geração pobre e desprovida de capacidades intelectuais devido à desnutrição crônica, apta unicamente para os trabalhos mais duros em situação de exploração. Tudo isso proporciona a escusa perfeita para manter o sistema, com a farsa de que para dar emprego é preciso flexibilizar as leis trabalhistas. Este quadro tão pouco promissor é o selo de identidade da Guatemala, um país que podia ser exemplo positivo para o resto da região.
Os maus tratos à infância e à adolescência e a perda de direitos deste setor tão importante se reflete não apenas na educação, mas também na privação de recursos para o desenvolvimento de suas comunidades e na falta de investimento público em áreas como a infraestrutura viária, a rede de hospitais e postos de saúde ou na raquítica presença do Estado em áreas rurais, cuja incidência na maior ou menor qualidade de vida da população toca a todos os seus integrantes.
Investir na infância é investir no futuro da nação; um axioma repetido até o cansaço. No entanto, aqueles que têm o controle do Estado e de suas instituições têm insistido em colocar esse grande segmento populacional na coluna dos custos. Caro pagará o país por esta manipulação do valor da infância e por não dar a ela o tratamento que merece.
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