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ToggleSete de fevereiro é dia que passa em branco no calendário nacional. Pouca gente sabe, mas há 258 anos a data registrava a morte daquele que possivelmente tenha sido o primeiro herói do país. Antes da região Sul do Brasil ser anexada ao território americano sob domínio de Portugal, houve um indígena guarani que se tornou líder em vida e santo depois de morto, ao defender o direito de seu povo.
A vida de Sepé Tiaraju mostra a trajetória de um herói de carne e osso que virou mito, até ser vencido pelos exércitos unidos de Portugal e Espanha. Por conta própria, o povo da região canonizou-o, passando a chamá-lo de São Sepé, nome dado ao arroio – à margem do qual ele passou sua última noite – e posteriormente ao município gaúcho, situado a 300 quilômetros de Porto Alegre.
Ao término da Guerra Guaranítica (1750 – 1756) a coroa portuguesa anexou território dos Sete Povos das Missões – berço da República Comunista Cristã Guarani – e tudo o que nele havia. Poucos meses depois, nada mais existia do sonho missioneiro de uma sociedade cristã e ao mesmo tempo comunista no coração das matas do fim do mundo.
Sepé Tiaraju – Facho de Luz em sua língua – hoje é reconhecido como herói nacional*, dado que sua luta foi contra o projeto político do governo ibérico. Desde 2009 ele tem seu espaço no Livro dos “Heróis da Pátria”, ao lado de personagens como Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Santos Dumont e D. Pedro I. O brasileiro, todavia, conhece o herói nativo tanto quanto a língua falada na Grécia. É mais fácil encontrar informações e documentação histórica sobre ‘A República Guarani’ em livros, museus e institutos de pesquisa argentinos, uruguaios e europeus do que em território pátrio (leia Lição Não Assimilada).
Oficial e superficial
No Brasil, quando o estudante – ou qualquer interessado em história – abre um livro para informa-se sobre a colonização, os bandeirantes são apresentados como heróis do processo (leia Relógios, Clarinetas e Destruição). Corajosos, desbravadores, responsáveis pela expansão do território nacional e por aí a fora. A guerra que a Nação Guarani foi obrigada a sustentar durante seis anos contra as duas maiores potências planetárias de então é meramente citada. Na história mal contada do Brasil, o fato de uma nação indígena alcançar alto desenvolvimento social, econômico, cultural e espiritual é irrelevante (leia O Profeta da Utopia). O que prevalece, como sempre, é a versão dos vencedores, qual seja, a dos “intrépidos” bandeirantes.
A experiência dos jesuítas com os guaranis aconteceu na região do atual Mercosul, entre 1609 e 1768. O tema é superficialmente citado na história oficial, por mais que estudiosos e importantes casas de cultura e museus europeus mantenham documentos, trabalhos e obras de arte produzidos pelos silvícolas à disposição do público.
Ilustração: Sandro Andrade
Sepé Tiaraju é considerado santo no Sul do país
Em 1494 o Tratado de Tordesilhas dividiu o mundo entre Portugal e Espanha. Era uma carta de aprovação prévia para tudo o que a duas maiores potências de então viessem a fazer na América. Neste cenário conturbado, a Igreja Católica – que desde 1549 catequizava indígenas na Bahia – destacou a Companhia de Jesus para promover Missões no “fim do mundo”. Era uma forma de amenizar a cruel relação dos conquistadores com os nativos. As Missões eram vilas, que cresceram até virar cidades.
Protegendo órfãos, idosos e necessitados
sepeNa segurança da organização trazida pelos jesuítas, os nativos aprenderam a identificar a cruz como símbolo do Evangelho, que estabelecia valores similares aos seus. Espiritualizados, acreditavam na vida após a morte e buscavam a “Terra sem Males” – um local sonhado pelos xamãs e rezado coletivamente em prolongadas danças rituais. Tudo em total sintonia com a teoria cristã.
Sepé Tiaraju nasceu em 1722, onde hoje existe a cidade de São Luiz Gonzaga (RS). Foi batizado José, mas sempre o chamaram Sepé. Aos seis anos, uma epidemia de escarlatina, doença que matava milhares de pessoas ao redor do mundo, matou seus pais. Na Missão Guarani o costume era proteger órfãos, idosos e necessitados. É emblemático o fato daquele guri crescer e se tornar corregedor (prefeito), capitão e herói de seu povo, além de santo pela vontade popular.
Suigeneris
Anteriormente os pais haviam entregado o piá aos cuidados do Padre Miguel, o jesuíta que liderava a Missão Religiosa na cidade de São Luiz Gonzaga. O religioso o registrou como sendo seu filho. Alguns anos depois eles se mudaram para a Missão de São Miguel Arcanjo. O curumin foi educado dentro dos rígidos padrões religiosos e logo se destacou pela inteligência e capacidade de liderança.
Em 1750 Sepé Tiaraju foi eleito corregedor municipal de São Miguel, em eleição direta. A mistura da cultura guarani com a jesuítica deu condições para o desenvolvimento físico e intelectual do líder. A vida do herói se confunde em histórias e lendas, tantas são as aventuras. Uma delas teria acontecido pouco antes da assinatura do Tratado de Madri.
Certa manhã, Jussara, a namorada de Sepé, contou-lhe um sonho que tivera naquela noite. Nele, um anjo aparecia dizendo que o povo Guarani enfrentaria grande sofrimento nos próximos anos. A conversa foi assistida pelo padre Balda, seu confessor, que, em vão, tentou acalmá-lo. O sonho só confirmava o que todos temiam. A posse do novo corregedor ocorreu em primeiro de janeiro de 1750. Passados 13 dias, Espanha e Portugal assinaram o Tratado de Madri**.
Trabalho de gerações
Pelo acordo, os Sete Povos das Missões – São Borja, São Luiz, São Lourenço, São João e São Nicolau, Santo Ângelo, São Miguel Arcanjo – teriam que se bandear para o lado oriental do rio Uruguai, deixando para trás o maior rebanho da América, igrejas, edifícios, terras cultivadas, casas, móveis e tudo que não pudessem levar. O decreto provocou um terremoto nas reduções. Era a destruição do trabalho de várias gerações. Basta olhar o mapa: era a amputação de metade do território da República Guarani. (ilustração)
Sob os ombros do recém empossado prefeito caiu o peso da responsabilidade de organizar uma revolta. Com a intermediação dos jesuítas, Sepé tentou negociar com os impérios europeus. Mas quem diz que os colonizadores queriam diálogo?*** Ao líder guarani não restou outra alternativa que não fosse a guerra para garantir a terra e tudo o que seu povo havia nela construído.
Em abril de 1754 as potências ibéricas começaram a ação militar. No meio da selva, os guaranis conseguiram reunir tropas só nas missões mais ameaçadas, caso de São Miguel, São Lourenço, São João e São Luiz. Depois de estudar os preparativos do inimigo na fronteira portuguesa, os guaranis partiram para o ataque. Sepé e seus melhores homens cercaram o forte de Rio Pardo (hoje município gaúcho), onde estava o general Gomes Freire. A ação isolou os lusos, que tentaram um armistício, rechaçado por Sepé.
Honra colonial em jogo
Ao sul da fronteira dos Sete Povos, os espanhóis tinham feito os guaranis recuar no primeiro combate. Ao se aproximarem de Santa Tecla (atual cidade de Bagé), todavia, foram derrotados. Aí veio o armistício. Sobre um volume do Evangelho, a 14 de novembro de 1754, representantes de ambas as partes juraram e assinaram o acordo de paz, que pouco durou. No começo de 1756 os soberanos ibéricos reiniciaram a guerra. E montaram um exército poderoso, descrito como um dos mais armados e equipados de todos os tempos. Como registra o padre Clóvis Lugan (leia O Profeta da Utopia) em seu livro, “a honra colonial não podia mais suportar os fracassos acontecidos em 1753 e 1754.”
O exército guarani soube valer-se do fato de conhecer o ‘palco de guerra’. Uma das estratégias foi aproveitar as passagens estreitas de terras entre rios e montanhas, na serra, para preparar as escaramuças. Os invasores continuaram a sofrer pesados revezes, perdendo contingentes de soldados, sempre repostos a tempo e a hora. E continuaram a avançar. Documentos da época atestam que as tropas européias somavam 3.500 homens, divididos em cavalaria, infantaria e artilharia.
Genocídio sul-americano
A guerra de guerrilhas guarani deu certo. Conduzidos por Sepé, os indígenas acumulavam pequenas vitórias, conseguindo fortalecer suas posições dia após dia. Chegaram a prender todo um esquadrão de cavalaria inimigo. Segundo especialistas, a inferioridade em armamentos e a parca instrução militar eram compensados pela tenacidade dos guerreiros. O líder guarani chegou a ser feito prisioneiro, depois de aceitar a bandeira branca e ir desarmado conversar com o comandante português. Mas o cativeiro foi breve. Aproveitando um descuido da guarda, no segundo dia ele escapou e retomou o comando rebelde.
Sepé Tiaraju foi morto no local chamado Sanga da Bica – onde hoje está a cidade de São Gabriel – às margens do rio Vacacaí, ao entardece do dia 7 de fevereiro de 1756. Nicolau Languiru, corregedor da Missão de Conceição, o substituiu e reuniu as tropas na coxilha de Caiboaté, perto da redução de São João. Três dias depois aconteceu a batalha de Caiboaté, o genocídio de 1500 guerreiros guaranis, sem baixas entre os adversários, conforme os registros oficiais.
Relatório de guerra do padre Henis**** documenta que o combate passou para a história (menos para a brasileira) como um dos maiores atos de traição de todos os tempos. O acordo entre os comandantes estabelecia que a luta só começaria três dias depois. Os guerreiros guaranis foram pegos totalmente desprevenidos.
No mesmo dia em que Sepé tombou morto começaram as romarias. E ele passou a ser Invocado como santo protetor junto a Deus e herói do povo guarani. Um monumento de dois metros de altura, erguido na entrada do município de São Luiz Gonzaga, é um símbolo do orgulho daquele povo.
Passados alguns anos da implantação das reduções jesuíticas, o exemplo das aldeias pacíficas e livres passou a exercer uma atração cada vez maior para os povos nômade da selva, sempre acossados pelos caçadores de escravos luso-brasileiros. Já os religiosos convertiam os caciques cristianizados em verdadeiros diplomatas da causa. A adesão era tanta que pouco a pouco foram sendo criados novos povoados em plena mata virgem. Padre Sep, alemão de origem, descreve nos registros oficiais do catolicismo como dirigiu a transferência de três mil habitantes da Redução superpopulosa de São Miguel para a de São João, à época em vias de construção.
Missionários recém chegados espantavam-se com o que viam. “Sinos, relógios, clarinetas, trompetes, tudo era fabricado com tal requinte que pareciam ter sido feitos na Europa”, registra o padre Lugon em seu livro. Ele destaca o relógio da redução de São João, no qual os 12 apóstolos apareciam sucessivamente nas 12 badaladas do meio-dia. Para Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu (1689-1755) – político, filósofo e escritor francês, iluminista e ideólogo da Revolução Francesa – a República Comunista Cristã Guarani era o primeiro estado industrial do hemisfério sul em sua época.
Fogo nas Missões
Com o passar dos anos o indígena conquistou cidadania. Enquanto a poder político na Europa era passado por ‘nobilíssimas correntes sanguíneas’, a República Guarani vivia a democracia representativa. Cada cidadão tinha o direito de eleger, por voto direto, prefeito, vereador, juiz de direito e chefe de polícia, entre outros cargos importantes.
Quando a importação de escravos africanos se tornou mais difícil – principalmente para a lavoura paulista – a solução foi intensificar escravização do indígena mais próximo. O desenvolvimento das Reduções mostrava tamanha vitalidade que surpreendia os próprios jesuítas. Ao mesmo tempo em que inquietava os colonizadores.
Os bandeirantes costumavam descer de São Paulo para o sul, incendiando missões religiosas e capturando indígenas para fazer escravos. Ao serem questionados por suas práticas, limitava-se a dizer que estavam seguindo a Bíblia ao combater nações pagãs. Religião de conveniência, como se vê, é pratica bem mais antiga do que se supõe. Raposo Tavares merece menção especial. Junto com seus mamelucos ele foi capaz de acabar com uma Redução guarani estabelecida no Paraná, obrigando os sobreviventes a fugir para o sul.
Não se pode deixar de mencionar Borba Gato, imortalizado em gigantesca estátua de pedra na capital paulista. A peça ilustra a dimensão da estupidez humana: levantamento de José Roberto de Oliveira com documentos históricos, revela que, junto com seu exército, o bandeirante foi responsável pela morte de aproximadamente 600 mil guaranis – 300 mil como escravos, 300 mil nos campos de batalha.
Clóvis Lugon: O Apóstolo da Utopia
Jesuíta suíço, Padre Lugon pesquisou durante mais de 40 anos as Missões Jesuíticas na atual região do Mercosul. Em outubro de 1979, aos 72 anos, ele desembarcou no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para realizar um sonho há décadas acalentado: conhecer os herdeiros e o que restava da República Guaranítica, em sua avaliação uma das sociedades mais avançadas criadas pelo ser humano.
Depois de constatar a aviltante realidade dos guaranis sobreviventes, Lugon retomou sua rotina em Syon, no convento situado a 100 quilômetros de Genebra. A cada semana ele proferia cinco sermões sobre seu tema recorrente: a República Comunista Cristã Guarani, um mundo ideal a ser construído pelos fiéis. O religioso ousou defender até os últimos dias a ligação correta entre religião e política, tão deturpada ao longo da aventura humana sobre o planeta.
Modelo para o futuro
O sacerdote viveu mais alguns anos, o suficiente para preparar uma nova edição – corrigida e melhorada – de sua grande obra, “A Republico Comunista Cristã dos Guaranis”. Apóstolo da utopia, Lugon jamais aceitou a falência dos ideais de liberdade e igualdade. Ao desembarcar em Porto Alegre e ser abordado pela imprensa ele deixou muito claro a razão daquela viajem tão longa:
– A sociedade ideal que os filósofos procuram em todo o mundo não está na Ásia nem na Europa. Ela existiu durante 150 anos, no meio da selva, em torno dos rios Paraná e Uruguai. E apesar de arrasada ainda serve de modelo para a sociedade do futuro. Desde Cristo, não houve no mundo nenhuma outra sociedade tão fiel aos preceitos cristãos de fraternidade. O Evangelho pregado aos homens encontrou na República Guarani uma forma prática de cunho coletivista.
Lição não assimilada
O tema da diferença de visões entre o Brasil, os países vizinhos e Europa, sempre foi o quer mais chamou atenção do estudioso da experiência missioneira, José Roberto de Oliveira. A população da de fala espanhola, teria, de saída, mais facilidade para ler documentos escritos naquele período. “Já o brasileiro, aprendeu a ler os mesmos documentos como sendo do inimigo. Um dos grandes responsáveis pela visão do mundo Luso-Brasileiro, que perdura até hoje, é o marques do Pombal” garante.
Enquanto a experiência jusuítico-guarani evoluía nas selvas do fim do mundo, na Europa circulavam escritos dando conta da “realização ideal do cristianismo”. Iluministas da envergadura de Voltaire e Montesquieu – escrachadamente anticlericais e inimigos dos Jesuítas – rendiam-se diante dos resultados alcançados. Oliveira ressalta que, como o iluminismo sempre foi muito estudado no Velho Mundo, muita gente sabia dos acontecimentos ocorridos nas terras missioneiras:
– A partir dos meus contatos, especialmente com franceses, comecei a ler as obras escritas além daquelas em português. Ai ficou ainda mais claro que aqui ocorreu um verdadeiro “mundo utópico”. Pelo menos durante 160 anos. E sobre isto acabei escrevendo meu livro “Pedido de Perdão ao Triunfo da Humanidade”: a importância dos 160 anos das Missões Jesuítico-Guarani”.
Patrimônio da Humanidade
O mundo ainda tem muito a aprender com a experiência das missões jesuítico-guaranis. “Algumas bibliotecas importantes do mundo conseguiram reunir um pequeno acervo, mas muito ainda há que ser feito” o estudioso da experiência missioneira: “Nas bibliotecas de Madri, Simancas e Salamanca o tema foi estudado. Já a biblioteca do Vaticano somente nos últimos tempos começou a andar nesta direção. Mesmo em Buenos Aires, Montevidéu, ou Assunção, é preciso que mais Doutorados aprofundem estudos em documentos primários”. De acordo com ele, radicado em Assunção, Paraguai, o jesuíta Bartolomeu Melià, um dos maiores especialista em Missões, diz que milhares de trabalhos são feitos com base nos mesmos livros, sendo imprescindível que preciso se volte a recorrer aos documentos primários.
Para Oliveira, infelizmente é natural para o brasileiro, que nunca valorizou o ind´ígena, trate as Missões do jeito que o faz: “Todavia, sempre ouve uma certa pressão internacional para que o patrimônio fosse valorizado. Em 1938, Getúlio Vargas – natural de São Borja – mandou fazer o primeiro grande trabalho arqueológico com a presença do arquiteto Lúcio Costa em seu primeiro grande trabalho”. Depois, em 1983, a Unesco tornou São Miguel Patrimônio da Humanidade – único patrimônio nacional que tem relação com a questão nativa.
– A verdade é que o tema jamais foi tratado com relevância, mesmo com os olhares mundiais oferecendo uma visão magnífica com relação aos acontecimentos aqui ocorridos. A educação trabalha muito mal a questão. No Rio Grande, pelo menos, as crianças ainda estudam a história da República Guarani no 4ª e no 5ª ano. Só que o ensino ainda se dá a partir de idéias e de livros escrito por luso-brasileiros. Ou seja, mostram uma história parcial, sem a amplitude que Lugon nos oferece nas páginas de sua “República Comunista Cristã dos Guaranis”.
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*A Lei 12.032/09, de autoria do deputado Marco Maia, foi sancionada em setembro de 2009 e inscreve o indígena missioneiro no livro dos Heróis da Pátria. Foi sancionada pelo então vice-presidente da República, José Alencar.
** O artigo 16 determinava:
Quanto às reduções e povoados que sua majestade católica cede à margem esquerda do rio Uruguai, os missionários deverão deles sair com seus móveis e pertences, levando com eles os indígenas para estabelecê-los em outras terras pertences à Espanha. Os ditos índios poderão, igualmente, levar seus bens móveis e semimoventes (gado), armas, pólvora e munições que possuírem. As reduções e povoados será entregues à Coroa de Portugal, com todas as suas casas, demais prédios e a propriedade das terras”.
***Importante documento histórico da época registra carta do corregedor de São Miguel, Sepé Tiaraju, ao governador de Buenos Aires:
“O que possuímos é fruto exclusivo de nossas fadigas, pois vosso rei nunca nos deu nada.
Nós não somos apenas o povo das sete cidades da margem esquerda, porque mais 12 reduções estão decididas a sacrificar-se conosco a cada tentativa vossa de tomar nossas terras. Além disso, iremos prevenir todas as tribos não cristãs desse território para que tomem conhecimento de nossa triste situação. Aliás, esses irmãos infiéis já se inquietam com vossos movimentos de tropas.
Senhor Governador, se vós não quereis ouvir a voz da razão, nos entregaremos somente às mãos de Deus. Nós enviaremos nossas cartas a todas as nações para que os infiéis fiquem cientes de nossa triste situação. Eles se inquietarão por todo o resto de vossa marcha.”
Sepé recorda antigos crimes de Portugal e os serviços prestados pelos guaranis ao rei de Espanha em outro documento:
“Apesar de tudo isso que fizemos, querem nos obrigar a abandonar nossas terras, nossas plantações, nossas casas. Isso não nos parece uma ordem de Deus, mas do demônio”.
In “A República Guarani, Clovis Lugon,
****Padre Tadeo Xavier Henis, autor do relatório da Guerra Guaranítica encomendado pela Companhia de Jesus. O documento se chama “Diario historico de la rebelion y guerra de los pueblos Guaranis situados en la costa oriental del Rio Uruguay, del año de 1754”. E está disponível no endereço http://losdependientes.com.ar/uploads/gnfoc6rzuf.pdf
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