Pesquisar
Pesquisar
Registro de protesto contra Milei em Buenos Aires em 17 de setembro de 2024 (Foto: UTEP)

Sob Milei, indigência na Argentina é a maior em 21 anos; movimentos preparam greves e manifestações

Taxa de indigência na primeira metade do ano chegou a 18,1% na Argentina; uma em cada três crianças não tem o que comer, enquanto prioridade de Milei é atender ao FMI
Stella Calloni
La Jornada
Buenos Aires

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Enquanto o presidente Javier Milei viaja pelo mundo falando do “milagre argentino”, as cifras do aumento permanente da pobreza na Argentina chegaram a quase 53% no primeiro trimestre do ano, afetando 24,9 milhões de pessoas em todo o país. 66% das crianças são pobres. Soma-se a isso que 8,5 milhões de habitantes estão em situação de indigência, e tudo continua a aumentar com os novos decretos do governo, que violam abertamente a Constituição.

No tema da pobreza, o mais delicado, o relatório do Instituto Nacional de Estatística e Censos destacou que mais da metade das pessoas de 0 a 14 anos são pobres, enquanto para o grupo de 15 a 29 anos, o índice chega a 60%, e entre 30 e 64 anos, a 48,6%. O país tem uma população de 45,8 milhões de pessoas.

A maior incidência da pobreza se registra nas regiões Nordeste (62,9%) e Noroeste (57%). As menores, por sua vez, se registram nas zonas da Patagônia (49,1%) e no Pampa, com 49,9%.

A taxa de indigência situou-se na primeira metade do ano em 18,1%, 6,2 pontos acima do semestre anterior e com um aumento de 8,8 pontos na comparação interanual, constituindo o valor mais alto desde o segundo semestre de 2003.

É uma das consequências da atuação nos quase 10 meses desde que o governo de Milei assumiu, já que o salário mínimo perdeu 26% e cada vez mais se fecham as possibilidades de mudanças, pois a única coisa que interessa à administração atual é cumprir com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Estamos falando hoje de índices de pobreza semelhantes aos de dezembro de 2001, quando o país chegou à suspensão de pagamentos e explodiu como nunca antes. Nem na pandemia isso aconteceu. Sete em cada dez crianças são pobres e uma em cada três não tem o que comer.

Assine nossa newsletter e receba este e outros conteúdos direto no seu e-mail.

Somente 35% dos aposentados são pobres, e o restante das aposentadorias, que não são mínimas, não conseguem cobrir a cesta básica.

Enquanto isso, foi iniciada a paralisação de 48 horas das universidades, que farão uma manifestação no próximo dia 2 de outubro, que será acompanhada pelas centrais sindicais e movimentos sociais.

O reitor da Universidade de Buenos Aires, Ricardo Gelpi, pediu expressamente a Milei que revisasse sua decisão de vetar a lei de financiamento educacional que foi aprovada pelas duas câmaras do Congresso: “Respeito a opinião do presidente, mas absolutamente não concordo; acredito que estamos deixando de financiar o setor público da educação e vamos pagar caro por isso”.

Por outro lado, a empresa consultora Poliarquía informou que a imagem positiva de Milei segue em queda de forma acelerada, 7 pontos neste mês, enquanto em agosto havia caído para 40, em quase dez meses de governo.

A economia cotidiana, os aumentos permanentes e o desemprego agravam a situação e o presidente é responsabilizado pela crise em razão de suas políticas econômicas. Neste mês também caiu o Índice de Confiança no governo, chegando a 14,8%, quando em agosto foi de 2,16%.

“Tem mudança de clima anímico, vemos um crescimento de sentimentos negativos”, sustentou Shila Vilker, diretora da consultoria Trespuntozero. “Passamos da esperança e expectativa, da promessa de futuro que havia aberto o oficialismo, a um crescimento dos indicadores de antipolítica”, assinalou a uma rádio local.

Outro tema chave é a tentativa de Milei e seus associados de privatizar a Aerolíneas Argentinas (AA), o que começou a ser discutido na Câmara dos Deputados no Congresso, e os opositores da União pela Pátria conseguiram, junto com outros setores, ampliar o prazo do debate.

Por sua vez, a Mesa Nacional dos Transportes resolveu realizar uma paralização nacional de 24 horas no dia 17 de outubro, durante a comemoração do Dia da Lealdade Peronista. Os pilotos do Brasil se solidarizaram com seus colegas argentinos e não voarão em nenhum avião da AA que seja vendido para aquele país, e não pousarão voos na Argentina.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.

Orçamento anunciado por Milei para 2025 vai “fechar o Estado” argentino


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

LEIA tAMBÉM

Como mídia imperialista faz propaganda a favor dos bombardeios de Israel no Líbano
Como mídia imperialista faz propaganda a favor dos bombardeios de Israel no Líbano
10 anos do caso Ayotzinapa caberá a Sheinbaum revelar ação do exército em assassinato de 43 estudantes (2)
Após 10 anos, caberá a Sheinbaum revelar ação do exército do México em massacre de Ayotzinapa
Deputados de esquerda na Espanha declaram apoio a Sheinbaum - O rei é um problema
Deputados de esquerda na Espanha declaram apoio a Sheinbaum: “O rei é um problema”
Bolívia - com marcha a La Paz, Evo derruba mitos e sai fortalecido, afirma cientista política
Bolívia: Evo derruba mitos e sai fortalecido após marcha a La Paz, aponta cientista política