A censura que se vive nas academias de todo o mundo ao falar da Palestina ocorre em um momento em que os espaços para o pensamento crítico cedem diante do fenômeno da cultura do cancelamento, que avança rapidamente no Ocidente, assegurou o sociólogo palestino-libanês Sari Hanafi.
Durante a conferência magistral “Polarização social e liberdade acadêmica em tempos do liberalismo simbólico”, realizada no fim de março no Colégio do México (Colmex) e que inaugurou a cátedra Palestina, o também autor de livros e numerosos artigos acadêmicos citou vários exemplos da intolerância vivida nas universidades. Hanafi também é o responsável por cunhar o termo “espaçocídio”, relativo à destruição sistemática e a reorganização do espaço físico e social como una ferramenta de dominação política que impossibilita um retorno à vida autônoma da população deslocada.
Um dos casos é o do professor Abeer N. AbouYabis, da Faculdade de Medicina da Universidade Emory, em Atlanta, nos EUA, que foi demitido depois de publicar no Facebook uma mensagem a favor da Palestina após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 — ação que desencadeou a desproporcional ofensiva israelense que já matou mais de 50 mil palestinos, a maioria mulheres e crianças.

Sobre isso, Hanafi ressaltou que a posição ocidental pró-genocida israelense mina a liberdade acadêmica por meio da “instrumentalização das memórias do Holocausto, da transformação do sionismo, da islamofobia, da concepção de Israel como um Estado secular e do legado colonial europeu e americano.”
O sociólogo destacou ainda que “o sionismo simbólico liberal reconhece que os palestinos são vítimas de algo, mas considera que seu sofrimento demanda apenas uma resposta humanitária, e não jurídica, pois não se leva a sério a igualdade palestina. Isso se reflete em termos históricos, legais e políticos.”
Nos aspectos políticos, ele enfatizou que, desde a fundação do Estado de Israel, os sionistas liberais têm defendido um sistema de dominação étnica judaica sobre palestinos e árabes palestinos não judeus, e afirmou que “a leitura do conflito árabe-israelense continua sendo dominada por um secularismo islamofóbico obcecado com o Hamas.”
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Hanafi concluiu que o pensamento de extrema direita pró-Israel se utiliza do argumento da islamofobia para justificar práticas coloniais, “que consistem em esperar que as pessoas morram, fazer um museu sobre seu genocídio e, depois, estabelecer departamentos de estudos decoloniais sobre seus túmulos.”
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