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Toggle- Atualizado em 27/03/2025, às 10h25.
Os moradores da Faixa de Gaza continuam sofrendo com o colapso das condições econômicas e de vida, sob o cerco sufocante imposto pelas forças ocupantes, que impõem severas restrições a todas as dimensões da vida cotidiana. Esse cenário levou ao deslocamento de inúmeras famílias e à perda de suas fontes de renda.
A crise se aprofundou com o fechamento dos bancos desde o início da guerra de extermínio contra Gaza, em 7 de outubro de 2023. Isso provocou uma grave escassez de liquidez e forçou casas de câmbio e cambistas a imporem comissões elevadas – entre 18% e 30% – nas operações de depósitos bancários (taqyīsh¹) independentemente da origem da remessa.
Crise de liquidez e exploração financeira
O engenheiro Mazen Murshid declarou à Rádio Voz da Pátria: “Desde o início da guerra, os bancos foram alvejados, especialmente no norte da Faixa de Gaza, o que impactou severamente a vida dos cidadãos, que deixaram de conseguir receber seus salários, remessas ou cheques bancários.”
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Ele acrescenta: “Desde os primeiros meses do conflito, só consegui sacar meu salário em dinheiro por meio de negociantes de liquidez, que ficam com uma fatia significativa como comissão. Até mesmo as ajudas em dinheiro oferecidas por instituições internacionais sofrem os mesmos cortes arbitrários.”
Murshid aponta ainda um problema adicional: “Os donos das casas de câmbio obrigam os cidadãos a aceitarem cédulas em péssimo estado, o que aumenta ainda mais as perdas financeiras da população.”
A exploração nas casas de câmbio
Walid al-Rifi também denuncia: “O fechamento dos bancos causou um colapso econômico entre as famílias de Gaza. As comissões cobradas pelas casas de câmbio chegam a 30%, o que torna impossível para muitos retirarem seus salários ou remessas vindas do exterior.”
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Em entrevista à nossa rádio, ele acrescenta: “As forças de ocupação bombardearam deliberadamente os bancos para enfraquecer todas as estruturas da vida civil. Isso forçou parte da população a aceitar essas comissões abusivas como único meio de lidar com as necessidades do dia a dia. Outros, no entanto, preferem não sacar seus recursos diante das taxas exorbitantes.”
O peso da crise sobre a população
Ibrahim Mustafa afirma: “Vivemos uma situação catastrófica por conta da agressão contra Gaza. Antes da guerra, retirávamos nosso dinheiro dos bancos com facilidade, sem extorsões ou obstáculos.”
Ele continua: “O fechamento dos bancos nos forçou a recorrer aos operadores de câmbio, que retêm parte dos nossos salários para oferecer liquidez. Isso aumentou ainda mais os encargos sobre os cidadãos, sobretudo agora que milhares de trabalhadores perderam seus empregos.”
Fida Muhammad destaca: “A comissão imposta nas operações de taqyīsh tornou-se uma espécie de sócio forçado nos salários dos cidadãos. Há também lojas que cobram taxas adicionais sobre pagamentos feitos por aplicativos eletrônicos, o que eleva os preços dos produtos em até 10 shekels por item, em relação ao mercado comum.”

Ela completa: “Se analisarmos com precisão o montante perdido com essas comissões, veremos que se trata de cifras altíssimas. Em média, o cidadão perde entre um quarto e um quinto do valor que saca — um esgotamento evidente dos bolsos dos moradores de Gaza.”
Alertas sobre o agravamento da crise
O analista econômico Ahmad Abu Qamar prevê: “A crise de liquidez deve se atenuar com o anúncio de um cessar-fogo, pois a entrada de dinheiro vivo seguirá a lógica da entrada de mercadorias — ainda que em volumes limitados. No entanto, a crise tende a se intensificar diante do silêncio da autoridade monetária local, pressionada pelas forças ocupantes.”
Ele explica à Rádio Voz da Pátria: “O principal fator por trás da persistência da crise é o aumento da quantidade de cédulas danificadas, além da saída de grandes somas de dinheiro rumo ao Egito por meio das chamadas coordenações², e da instabilidade na abertura das passagens fronteiriças.”
Abu Qamar critica com veemência a inação dos bancos: “As instituições bancárias abandonaram suas responsabilidades, deixando os cidadãos à mercê do mercado ilegal, onde as comissões de taqyīsh já chegam a 25%. Ou seja, um quarto do valor acaba nas mãos de intermediários.”
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E conclui: “Nessas condições, a moeda perde seu valor real. Quando alguém possui 100 shekels em um aplicativo bancário, consegue sacar apenas 75 shekels em espécie, devido ao desconto — um fenômeno que corrói diretamente o poder de compra.”
Fiscalização e negociação da entrada de liquidez
Abu Qamar ressalta: “O Ministério da Economia em Gaza estabeleceu um limite de 5% para as comissões, mas apenas anunciar esse teto não resolve o problema. É necessária uma fiscalização rigorosa para impedir a contínua exploração da população.”
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Ele conclui: “Essa política faz parte de um plano sistemático das forças ocupantes para empobrecer a população palestina. É imprescindível que a entrada de liquidez seja negociada com o mesmo critério aplicado à entrada de mercadorias e ajuda humanitária.”
Notas do editor
- Conversão de depósitos bancários e transferências financeiras em dinheiro vivo.
- No contexto da Faixa de Gaza, o termo “coordenações” refere-se a arranjos administrativos não-oficiais para permitir a passagem de pessoas ou bens pela fronteira com o Egito, especialmente através da travessia de Rafah. Esses arranjos, muitas vezes mediados por intermediários e sob forte influência política, incluem a saída de dinheiro vivo e podem envolver pagamentos paralelos e ausência de controle institucional formal.
Edição: Alexandre Rocha