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Comício nazista em Nuremberg (Imagem: Michael Dawes / Flickr)

Táticas da Otan e queda da URSS fortaleceram ressurgimento e glorificação do nazismo

A aliança entre os EUA e os nazismo remonta à Segunda Guerra Mundial e desagua em diferentes acontecimentos na Europa, incluindo a guerra na Ucrânia
Thierry Meyssan
Rede Voltaire
Paris

Tradução:

A Rússia interveio militarmente na Ucrânia para desnazificar o país. Mas, segundo os ocidentais, não há nazismo na Ucrânia. A Rússia deseja sim invadir e anexar esse país. Esta incompreensão reciproca fez degenerar a operação especial russa em guerra aberta.

No entanto, vários fatos idênticos, sobrevindos nos países bálticos desde 2005 e no Parlamento Europeu desde 2016, atestam que não se trata de uma incompreensão, mas de uma estratégia deliberada da Otan, que acaba de mobilizar 53 Estados a se oporem à adoção pelas Nações Unidas de uma Resolução tradicional contra a glorificação do nazismo.

Quando da Libertação (quer dizer, no fim da Segunda Guerra mundial), os Ocidentais estavam conscientes dos sofrimentos ocasionados pelas ideologias segundo as quais a humanidade estava dividida em raças distintas hierarquizadas entre si. Todos compreendiam que a afirmação segundo a qual estas “raças” não podiam se misturar e ter descendência fecunda era desmentida pelos fatos e só pode se impor graças a uma intensa propaganda.

Desde a criação das Nações Unidas e durante toda a Guerra Fria, a União Soviética e a França se empenharam em fazer a Assembleia Geral adotar, todos os anos, uma resolução proibindo a propaganda nazi e a glorificação desta ideologia. Este ritual foi esquecido com a dissolução da URSS. De modo surpreendente, a partir de 2020, não foi possível reformar o consenso em torno desta questão. Assim, em 17 de dezembro de 2024, 53 Estados opuseram-se à última resolução nesse sentido, e 10 abstiveram-se.

Inimigo comum

Com efeito, se durante a Guerra Mundial os Aliados — tanto americanos (canadenses, estadunidenses), como europeus (britânicos, franceses, gregos, polacos, iugoslavos, escandinavos, soviéticos, etc.) — estavam unidos contra um adversário comum, este conjunto foi quebrado mesmo antes do fim do conflito por uma vontade anglo-saxônica (isto é, simultaneamente de alguns estadunidenses e alguns britânicos) de prosseguir o conflito contra a União Soviética. Foi assim que Alan Dulles, então responsável pelos serviços secretos estadunidenses na Suíça, e o seu adjunto, Lyman Lemnitzer, negociaram com o General SS Karl Wolff, em 1945, a rendição das forças nazis na Itália para que elas combatessem os soviéticos ao lado dos Estados Unidos (Operação Sunrise). Esta paz separada não foi posta em prática porque Joseph Stalin se opôs a isso imediatamente e Franklin D. Roosevelt não ratificou o acordo já concluído.

No entanto, Roosevelt, gravemente doente, morreu pouco depois, enquanto Dulles se tornou o chefe dos serviços secretos estadunidenses do pós-guerra, a CIA, e o General Lemnitzer se tornou, mais tarde, o chefe do Estado-Maior Conjunto do exército estadunidense. Seguiu-se que a CIA e, em menor escala o Departamento de Defesa, se tornaram abrigos para os antigos nazis. Durante toda a Guerra Fria, eles foram colocados pelos anglo-saxões em postos de responsabilidade em numerosos países do “mundo livre” (sic), do Chile ao Irã. Chegaram ao ponto de criar uma internacional do crime, a Liga Anti-comunista Mundial, a fim de coordenar os seus esforços contra todos os movimentos de esquerda do Terceiro Mundo [1] — hoje, Sul Global.

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Foi preciso esperar por 1977, após as revelações da Comissão Parlamentar do Senador Frank Church sobre os crimes da CIA, para que o Presidente Jimmy Carter e o Almirante Stansfield Turner pudessem trazer a CIA à ordem e derrubar as ditaduras no Chile, no Irã e em toda parte.

Contudo, para lutar contra o rival soviético, o presidente Ronald Reagan e a primeira-ministra Margaret Tatcher, apoiaram uma nova ideologia, o islamismo, e não hesitaram em desenvolvê-la, primeiro no Afeganistão, depois em todo o Oriente Médio. Para eles, era o único meio de mobilizar a Confraria dos Irmãos Muçulmanos e os povos árabes.

Ressurgimento do nazismo

Finalmente, com a dissolução da União Soviética, em 1991, movimentos racistas anteriormente aliados dos nazis ressurgiram. O presidente Bill Clinton e o primeiro-ministro Tony Blair não hesitaram em se apoiar neles. Foi assim que os “nacionalistas integralistas” [2], adeptos de Dmytro Dontsov e de Stepan Bandera, chegaram ao poder na Ucrânia.

Tudo começou na Letônia em Janeiro de 2005, enquanto o país se tornava membro da União Europeia, o governo, com o apoio financeiro da embaixada dos Estados Unidos, publicava um livro, História da Letônia: Século XX. Aí, ele garantia, entre outras coisas, que o campo de Salaspils, onde os nazis realizaram experiências médicas em crianças e onde 90 mil pessoas foram assassinadas, não passava de um “campo de trabalho de reeducação” e que os Waffen SS haviam sido heróis na luta contra os ocupantes soviéticos. Alguns meses mais tarde, organizou um desfile de Waffen SS no coração de Riga, tal como havia feito durante os quatro anos precedentes, quando ainda não era ainda membro da UE [3].

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Em condições normais, toda a União Europeia deveria ter protestado. Mas nada disso se passou. Apenas Israel e a Rússia exprimiram a sua indignação.

Em 2016, a polonesa Anna Fotyga, que era então deputada europeia e se tornaria a seguir diretora da administração presidencial polaca, depois um dos pilares da Otan, apresentou em Estrasburgo uma resolução tratando das comunicações estratégicas [4]. Tratava-se de fazer a UE entrar na guerra de informação contra a Rússia e, na aparência pelo menos, contra os islâmicos, instituindo um dispositivo montado em torno do Centro de Comunicação Estratégica da Otan [5].

Importância da memória europeia

Foi nesse contexto que, em 19 de setembro de 2019, o Parlamento Europeu adotou uma resolução “sobre a importância da memória europeia para o futuro da Europa” [6]. Este texto afirma que ao assinar o Pacto Molotov-Ribbentrop, a URSS partilhou os objetivos funestos do Reich nazi e desencadeou a Segunda Guerra Mundial. É, evidentemente, completamente errado [7].

Hoje em dia, os neonazis, os “nacionalistas integralistas” [8], podem exercer o poder na Ucrânia sem levantar a menor objeção dos ocidentais. Não se quer notar que a sua Constituição é a única no mundo a especificar, no seu Artigo 16, que “preservar o patrimônio genético do povo ucraniano releva da responsabilidade do Estado” [9]. Não se salienta que Volodymyr Zelensky terminou o seu mandato há oito meses e que ele se mantêm ilegitimamente no poder sem eleições. Interpreta-se a interdição dos partidos políticos da oposição e da Igreja Ortodoxa [10] como disposições que reprimem a infiltração russa. Ignora-se a “limpeza” das bibliotecas (de livros russos) [11]. Apenas a custo se começa a tomar consciência do êxodo da população ucraniana e das deserções maciças no seu exército.

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Tudo isso não deve nos espantar no momento em que as mesmas autoridades ocidentais nos explicam com um sorriso que os jiadistas da Al Qaeda e do Daesh (E. I.), que acabam de ser colocados no poder em Damasco pelos anglo-saxões, não são mais do que “islâmicos iluminados”. [12].

Referências

[1«La Liga Anticomunista Mundial, internacional del crimen», por Thierry Meyssan, Red Voltaire , 20 de enero de 2005.

[2Quem são os nacionalistas integralistas ucranianos ?”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 17 de Novembro de 2022.

[3A Presidente da Letónia reabilita o nazismo”, Thierry Meyssan, Tradução Maria Luísa de Vasconcellos, Rede Voltaire, 16 de Março de 2005.

[5A campanha da Otan contra a liberdade de expressão”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 5 de Dezembro de 2016.

[6«El Parlamento Europeo atribuye la Segunda Guerra Mundial a la Unión Soviética‎», Red Voltaire , 19 de septiembre de 2019.

[7«El día que Occidente prefiere olvidar», por Michael Jabara Carley, Traducción Sophia Vackimes, Strategic Culture Foundation (Rusia) , Red Voltaire , 1ro de octubre de 2015.

[8Ibid.

[9Este artigo é muitas vezes interpretado, de forma errada, como tratando das consequências da catástrofe de Chernobyl. No entanto, ele não se refere ao património genético da Humanidade, mas apenas ao que se refere ao « povo ucraniano ». Esquecem-se que Adolf Hitler era vegetariano e ecologista.

[10Washington pronto a fazer explodir a Igreja Ortodoxa”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 26 de Setembro de 2018. «Kiev prohíbe la iglesia ortodoxa», Red Voltaire , 6 de diciembre de 2022.

[11Removidos já 19 milhões de livros de bibliotecas ucranianas”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 11 de Fevereiro de 2023.

[12Como Washington e Ancara mudaram o regime em Damasco”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 19 de Dezembro de 2024.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Thierry Meyssan

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