O radicalismo expresso em uma nova Jihad – guerra santa muçulmana – vitimiza até os próprios fiéis em uma corrida cega destinada a eliminar instituições pós coloniais, que nem sempre foram ótimas mas que funcionaram nos últimos 60 anos.
Assim, a contenda religiosa deixa ver sua essência bem terrena, que é a luta pelo poder, como ilustram as agressões no Mali do Grupo de Apoio do Islã e dos Muçulmanos (JNIM).
Jama’at Nasr al-Islam wal Muslimin (segundo transliteração do árabe) de Iyad Ag Ghaly, também conhecida como Abu al-Fadl, é considerada uma coalizão integrada pelas principais organizações extremistas na área do Sahel, e que tem vínculos com a organização terrorista Al Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI).
Reprodução: Winkiemedia
guerra santa muçulmana – vitimiza até os próprios fiéis em uma corrida cega
Recentemente o JNIM assumiu a autoria do ataque a uma base do exército do Mali na cidade do Norte, Tarkint, região de Gao, que conforme declararam aos meios de imprensa funcionários do governo, provocou a morte de 29 soldados, ferindo cinco.
Especialistas em temas de defesa afirmaram que o grupo empregou táticas que definem seu modo de agir, o planejamento detalhado da ação, para estabelecer as possibilidades de vitória frente a um rival que leva vantagem quanto a meios técnicos e recursos humanos, o que o obriga a empregar métodos flexíveis, mas efetivos, de guerra de guerrilhas.
Utilizam também veículos carregados com explosivos e forças ligeiras combinadas como vem a ser a atuação simultânea de assaltantes a pé e de moto.
Também utilizam nos ataques armamento diverso, sem excluir que em um momento dado possam optar por algum tipo de artilharia pesada.
Um aspecto explorado pelo grupo extremista é que, enquanto coalizão, seus destacamentos, embora procedam de diferentes grupos insurgentes, atacam em conjunto, de forma escalonada, algo que é conhecido devido aos comunicados emitidos depois de executar suas ações.
O ataque dos integristas à base militar da cidade de Tarkint foi interpretado como um contragolpe, pois sucedeu ao anúncio de que o exército do Mali aniquilara 20 terroristas tendo perdido seis soldados em um combate perto da fronteira do país com Burkina Faso.
A escalada
Meios da imprensa europeia, mais do que a africana, escrevem que os executores dos atos terroristas contra o Mali estão no AQMI e sua filial, o JNIM, o Estado Islâmico no Grande Saara (ISGS) e grupos autóctones como Ansarul Islam, que constituem ameaças para Mali, Burkina Faso e o oeste de Níger.
No final de 2019 relataram-se 58 ataques terroristas na região do Sahel ocidental (Mauritânia, Senegal, Mali, Burkina Faso, Níger, Nigéria, Camarões e Chade), causando 316 mortos, entre civis, soldados e outros efetivos das forças de segurança.
Essa estatística confirmou a tendência de alta do último trimestre do ano passado; nos primeiros três meses deste ano continuaram os ataques e se até agora a maior parte da cooperação em temas de defesa se dirigia ao Mali, agora a União Europeia treina unidades de alto nível para um possível desdobramento para Burkina Faso.
Em Burkina Faso, Mali e Níger, as vítimas dos ataques terroristas quintuplicaram desde 2016, com mais de quatro mil mortes só em 2019, em comparação com as 770 estimadas em 2016. (…), declarou ao Conselho de Segurança Mohamed Ibn Chambas, do Escritório da ONU para África Ocidental e Sahel.
“O foco geográfico dos ataques deslocou-se para o Leste, de Mali a Burkina Faso, e ameaça cada vez mais os Estados costeiros da África ocidental”, explicou, sobre a grave situação na sub região.
Frente às débeis condições de segurança que ameaçam a estabilidade dos Estados daquela área, a União Europeia, avaliando o que considera parte de sua fronteira sul e como as alterações da paz no Sahel afetam-na geoestrategicamente, resolveu reforçar sua assistência à sub região.
A decisão do Velho Continente de ampliar o mandato de sua missão no Mali, por exemplo, impactará toda a área, onde persiste a intransigência extremista; os problemas nessa complexa zona africana combinam terrorismo e crise humanitária.
O Conselho Europeu (CE) informou, na terceira semana de março, que sua missão na área auxiliará os integrantes da Força Conjunta G5 Sahel, que compreende tropas de Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger, que enfrentam uma evidente escalada de radicalismo armado de base religiosa islâmica.
A Força Conjunta do G-5 Sahel constitui um esquema de cooperação militar africana instituída por iniciativa de Mali, Níger, Chade, Burkina Faso e Mauritânia em 2017, para frear o terrorismo; em plena capacidade operativa deverá mobilizar cinco mil efetivos agrupados em sete batalhões.
No entanto, repete-se uma e outra vez que a solução militar não pode ser a única para a sub região, onde convergem extrema pobreza, declive humanitário e deterioração climática – marcada pelo empobrecimento do solo – e até graves pragas de gafanhotos. Por isso requerem-se mais opções para esse lugar apocalíptico.
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