Pesquisar
Pesquisar
Imagem: @FARC_EPaz / X

Toda a Colômbia perde com violência em Catatumbo

Engana-se quem pensa que apenas Gustavo Petro e a bandeira de "paz total" de seu governo saem prejudicados pelos confrontos entre o ELN e ex-Farcs na região de Catatumbo
Jairo Gómez
La Jornada
Bogotá

Tradução:

Beatriz Cannabrava

A Colômbia luta para que a violência não seja o rumo de seu futuro. Essa tem sido a reação generalizada de um país que olha com desgosto como os grupos armados ilegais querem disputar o território com camponeses, afro-colombianos e comunidades indígenas.

O ocorrido no Catatumbo dos últimos dias, departamento de Norte de Santander, fronteira com a Venezuela, já não é um conflito entre o Estado e grupos guerrilheiros; seu caráter político se esgotou. É um confronto, segundo o presidente Gustavo Petro, entre bandos “narcoarmados” que buscam deslocar a população civil de seus territórios por pura ganância.

A região do Catatumbo, cuja extensão supera 4.800 km², está localizada no noroeste do departamento de Norte de Santander, onde vivem cerca de 290 mil pessoas em 10 municípios. É considerada pelos grupos armados ilegais uma zona estratégica devido à sua proximidade com a fronteira venezuelana e porque sua densa selva tropical permite a fácil construção de laboratórios clandestinos para a produção de cocaína, o grande negócio que hoje os coloca em confronto.

“Há uma série de fatos pavorosos, diria eu (…) ainda não temos todas as informações (sobre o ocorrido no Catatumbo). Desde 17 de janeiro, quando estivemos em Tibú, começamos a coletar todas as informações. Havia mais rumores do que dados. Hoje ainda temos muitos rumores. Ainda não temos números concretos de quantas pessoas morreram; 32 é o que aparece nos necrotérios no caso do Catatumbo, mas todos sabemos que ainda não se chegou a muitos lugares. Este pode ser um dos fatos mais dramáticos da história contemporânea, desde a violência liberal-conservadora”, admitiu o presidente Petro em um ato público em 21 de janeiro para lançar uma estratégia contra a corrupção.

Como o próprio chefe de Estado evidencia, as informações são aproximadas sobre o número de mortos que essa ofensiva do ELN (Exército de Liberação Nacional) e seus confrontos com as chamadas dissidências das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) podem ter deixado. A facção se afastou das negociações com o governo de Juan Manuel Santos (2010-2018). As comunidades camponesas da região do Catatumbo afirmam que o número de assassinatos pode ultrapassar 80 e ter provocado o deslocamento de aproximadamente 50 mil camponeses.

Emergência em Catatumbo: confronto entre ELN e ex-FARCs desloca 36 mil na Colômbia

Estado de comoção interna

Essa situação crítica obrigou o governo do presidente Petro a adotar o Estado de Comoção Interna, que sua equipe jurídica elaborou para enfrentar a crise regional.

Segundo a Casa de Nariño, o governo ordenou o deslocamento de uma brigada de 600 soldados do exército para a região do Catatumbo, principalmente para uma de suas localidades emblemáticas, Tibú, cuja extensa periferia foi o cenário dos intensos combates entre os dois grupos criminosos. O objetivo, de acordo com o Ministério da Defesa, é restabelecer a ordem, mas, sobretudo, garantir a segurança dos camponeses que habitam os 10 municípios, que incluem famílias deslocadas pela violência ou por ex-integrantes das FARC que, segundo dados ainda não confirmados, estão entre as vítimas da ação armada do ELN.

O ELN – guerrilha criada em 1964 e que historicamente reivindicou o pensamento de Che Guevara – decidiu se sentar à mesa de negociação com o governo de esquerda do presidente Petro e, como resultado dos avanços nesses diálogos, pactuou um cessar-fogo bilateral indefinido para avançar em uma agenda que busca levar paz aos territórios onde atua.

Para observadores acadêmicos e analistas do conflito armado, nunca antes um governo que buscou negociar com esse grupo havia cedido tanto às pretensões do ELN, como fez o atual presidente. De fato, a generosidade do governo foi tanta que o próprio Petro ousou dizer que, em três meses, o acordo de paz seria uma realidade.

Fim das negociações de paz

No entanto, após esses violentos episódios, o governo nacional declarou o fim das negociações de paz e ordenou à Força Pública a retomada das operações contra esse grupo, que o próprio Petro classifica como uma organização “narcoarmada”.

Ainda assim, o presidente não deixou de fazer suas reflexões e, em uma clara autocrítica, comentou que “a situação no Catatumbo ensina. Aprendemos também com os fracassos, e aqui há um fracasso. Um fracasso da nação. Vou dizer com palavras que ainda são hipotéticas porque não temos todas as informações, mas o ELN se desloca de Arauca (departamento fronteiriço com a Venezuela) para Norte de Santander, com um número de homens que ainda não sabemos, mas que deve ser considerável”.

Colocado em contexto, esse comentário de Petro não deixa de ser um tema delicado, pois o departamento de Arauca tem sido a base histórica do ELN e compartilha uma extensa fronteira com a Venezuela. Segundo autoridades da região, os guerrilheiros podem ter se deslocado pelo território venezuelano para chegar à região do Catatumbo.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.

Coube a Petro, primeiro presidente de esquerda da Colômbia, defender a soberania do país


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Jairo Gómez

LEIA tAMBÉM

Representamos o povo esquecido, mas que decidiu mudar o Equador, aponta González
Representamos o povo esquecido, mas que decidiu mudar o Equador, aponta González
El Salvador oposição a Bukele pode desaparecer em 8 anos, alertam especialistas
El Salvador: oposição a Bukele pode desaparecer em 8 anos, alertam especialistas
Equador triunfo no 1º turno permite a Luisa González repetir vitórias de Rafael Correa
Equador: triunfo no 1º turno permite a Luisa González repetir vitórias de Rafael Correa
5 milhões de carros elétricos entenda interesse de Trump e Musk no Panamá (2)
Interesses escusos | Trump e Musk querem "retomar" o Canal do Panamá