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Foto: Stuart Price / ONU

“Tormenta”: fome atinge 18 localidades do mundo e exige ação urgente, alerta ONU

Ainda que conflitos sejam grandes causadores das crises nessas regiões, emergência climática também gera falta de alimentos e fome por alterar ciclos de secas e chuvas
Redação IPS
IPS
Roma

Tradução:

Ana Corbisier

As pessoas tentam desesperadamente conseguir comida em um ponto de distribuição das agências humanitárias da ONU em Gaza. É apenas um dos 18 lugares ou países do planeta onde, segundo a ONU, a insegurança alimentar pode abrir caminho a situações de fome, a menos que recebam ajuda urgente. 

Haiti na América, Sudão na África e Palestina no Oriente Médio estão entre os 18 lugares em crise que padecem uma grave insegurança alimentar e poderiam sofrer “tormentas de fome” a menos que recebam ajuda urgentemente, aponta um informe de duas agências das Nações Unidas publicado em 5 de junho.

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“Uma vez que se declara uma situação de fome, já é demasiado tarde: muitas pessoas já terão morrido de fome” advertiu Cindy McCain, diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA), agência da ONU corresponsável pelo informe.

Deu como exemplo o caso da Somália, onde “a metade das 250 mil pessoas que morreram de fome em 2011 morreram antes que se declarasse oficialmente a situação de fome. O mundo não fez caso das advertências naquele momento e as repercussões foram catastróficas”. “Devemos aprender a lição e agir agora para evitar que estes pontos críticos desencadeiem uma tormenta de fome”, afirmou.

Somália – Uma mulher segurando seu bebê desnutrido faz fila para comer no campo de Badbado para Deslocados Internos (PDI), em 20 de julho de 2011. A fome foi declarada em duas regiões do sul da Somália – sul de Bakool e Lower Shabelle. (Foto: Stuart Price / ONU)

Haiti, Sudão e Gaza

No Haiti, em meio a uma crise econômica prolongada, a violência vinculada a grupos armados delinquentes interrompeu o fornecimento de alimentos, obrigando mais de 362 mil pessoas a fugir de suas casas e abandonar seus meios de vida, inclusive suas terras de cultivo.

O informe adverte que os níveis críticos de insegurança alimentar e desnutrição correm o risco de piorar, com a ameaça de que ressurjam condições catastróficas em áreas onde o acesso humanitário está limitado pela violência das gangues. Nesse país caribenho de 11,5 milhões de habitantes, dos quais cerca de 4,4 milhões requerem ajuda humanitária, está prevista a chegada de uma força internacional que ajude a dissolver as gangues criminosas, mas isso ainda não aconteceu.

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Os conflitos e os deslocamentos também continuam em um ritmo e magnitude alarmantes no Sudão, de 47 milhões de habitantes, cenário de um conflito entre exércitos rivais que em um ano levou a vida de 15 mil civis e deslocou 10 milhões de suas casas, dos quais dois milhões para países vizinhos.

A insegurança alimentar alcança 18 milhões de sudaneses, sendo quase quatro milhões de crianças que padecem de desnutrição aguda, segundo as agências humanitárias, e o problema expandiu-se para os países vizinhos receptores.

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Na Faixa de Gaza, Palestina, cenário da ofensiva militar israelense, mais de um milhão de pessoas – a metade da população – enfrenta a fome no mês de julho, em um contexto de destruição generalizada da infraestrutura e dos serviços.

21 países afetados pela seca

O informe, elaborado pelo PMA e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), alerta sobre a situação em 17 países mais o grupo de quatro nações da porção sul oriental da África – Malaui, Moçambique, Zâmbia e Zimbabue –, severamente afetados pela seca.

No Mali é provável que continuem aumentando os níveis já críticos e catastróficos de insegurança alimentar aguda, impulsionados principalmente por uma intensificação do conflito armado interno e agravados pela retirada total da Missão de Estabilização das Nações Unidas neste país da África ocidental.

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No Sudão do Sul prevê-se que o aumento de repatriados e refugiados do vizinho Sudão aumente os níveis de insegurança alimentar, neste país de 12 milhões de habitantes sob o múltiplo assédio de escassez de fornecimento interno, inflação, inundações e conflitos subnacionais. Outros “pontos críticos de preocupação muito alta” são o Chade e a República Democrática do Congo, na África; Siria e Iêmen no Oriente Médio, e Myanmar (também conhecido por seu antigo nome de Birmânia), no sudeste asiático.

Também, e de modo destacado em um informe similar de outubro de 2023, figuram na lista de zonas críticas Burkina Faso, Líbano, Nigéria, a República Centro-africana, Serra Leoa e Somália.

Conflitos + mudanças climáticas

O informe indica que ainda que os conflitos continuem sendo grandes causadores da insegurança alimentar, as crises climáticas também são responsáveis, entre elas o “ainda persistente” fenômeno El Niño, de ventos quentes sobre o oceano Pacífico que alteram os ciclos de secas e chuvas em várias regiões.

Ainda que este fenômeno meteorológico esteja chegando a seu fim cíclico este ano, “é evidente que seu impacto foi grave e generalizado”, com secas devastadoras no sul da África e grandes inundações no leste deste continente, afirmou o informe.

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Quanto ao impacto e à “ameaça iminente” de La Niña – fenômeno alternativo e inverso a El Niño – entre agosto e fevereiro de 2025, a avaliação das agências da ONU é que se espera que “influa significativamente” nas precipitações.

O que poderia levar a uma mudança de clima com “importantes implicações” em vários países, inclusive inundações no Chade, Etiópia, Haiti, Mali, Nigéria, Somália, Sudão e Sudão do Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Redação IPS

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