Pesquisar
Pesquisar

"Trata-se de governar uma Argentina outra vez em ruínas", diz Kirchner sobre possível vitória

"Me arrependo de não ter sido suficientemente inteligente para persuadir de que o que estávamos fazendo havia melhorado a vida de milhões de argentinos”
Maylín Vidal
Prensa Latina
Buenos Aires

Tradução:

“Cristina o povo te necessita”, lhe gritavam vários argentinos nas ruas enquanto ainda seguem os múltiplos processos contra a maior figura da oposição que hoje caminha em direção às urnas como candidata a vice-presidenta. 

Quando muitos esperavam que se lançasse em busca de um terceiro mandato, Cristina Fernández, a mulher que dirigiu os destinos deste país durante oito anos (2008-2015), surpreendeu a todos quando anunciou que acompanharia o seu outrora chefe de Gabinete, Alberto Fernández, mas no papel de vice. 

Líder política da América Latina, seu possível regresso à Casa Rosada, desta vez acompanhando Fernández, é a notícia há meses em um país com uma marcada rachadura, onde seu nome é notícia diária nos meios de comunicação. 

Foi em um sábado, precisamente um 18 de maio, quando anunciou nas redes sociais a decisão de acompanhar Fernández, depois de assinalar que sentia que este é o binômio que “melhor expressa o que neste momento a Argentina necessita para convocar os mais amplos setores políticos e sociais”.

Então, como tem feito sempre, manifestou seu dever patriótico de voltar às urnas ante o panorama da Argentina atual mesmo que, disse, ocupar cargos políticos nunca foi sua principal motivação, mas “as expectativas e a ambição pessoal têm que estar subordinadas ao interesse geral”.

"Me arrependo de não ter sido suficientemente inteligente para persuadir de que o que estávamos fazendo havia melhorado a vida de milhões de argentinos”

Wikimedia Commons
A ex presidenta da Argentina, Cristina Kirchner

Enquanto a avalanche de processos que parecem imparáveis continuam na mão do juiz Claudio Bonadío, Cristina desafia a todos qual estrategista política porque sabe que a necessitam, porque são tempos de deixar de lado as diferenças e apostar pela unidade. 

Está consciente que o caminho será difícil, que se ganhar em 27 de outubro, será um desafio dirigir uma Argentina em sua situação atual. 

“Trata-se de governar uma Argentina outra vez em ruínas, com um povo outra vez empobrecido. Está claro, então, que a coalizão que governe deverá ser muito mais ampla que a que tiver vencido as eleições. Já é hora de fazê-lo realidade de uma vez por todas”, disse em maio passado. 

Foram momentos muito duros desde que deixou a presidência em 2015. Além de aparecer em manchetes por constantes processos abertos contra ela, tem sofrido golpes familiares, com sua filha – internada em Cuba desde março passado com um quadro de estresse pós-traumático – e a morte de sua mãe, há cinco meses. 

Enfrenta em torno de 13 processos e seis pedidos de prisões preventivas, um julgamento oral aberto e a insistência do juiz para que o Senado lhe tire o mandato parlamentar. A ex-mandatária não se amedronta, consciente de seu papel para muitos seguidores do kirchnerismo, essa força política representada por seu falecido esposo, o ex-presidente, e por ela. 

Desde sua volta como senadora em 2017, não parou um só instante. Fez acesos discursos na câmara Alta e tem sido muito clara ao dizer que se acreditam que com juízes como Bonadio e seus processos vai se arrepender, não o fará. 

“Em todo caso me arrependo de não ter sido suficientemente inteligente para persuadir de que o que estávamos fazendo havia melhorado a vida de milhões de argentinos”, disse em uma ocasião e assim o fez, apelando constantemente à unidade dentro das diferenças para, ao lado Alberto Fernández, pôr a Argentina em pé.

Depois de insistir uma e outra vez na necessidade de um contrato social de cidadania responsável, nestes meses de campanha tem percorrido o país lançando o seu livro Sinceramente, com atos multitudinários, nos quais tem posto o dedo na ferida sobre o governo de Mauricio Macri.

“Os argentinos devemos olhar o que nos aconteceu, o que nos está acontecendo e a partir daí poder construir uma mirada que não quer dizer pensar igual, mas sim chegar a acordos sobre coisas que nos permitam voltar a pensar um país com futuro e para nossos filhos”, disse recentemente. 

Analistas consideram que sua volta no papel de vice será chave, por sua trajetória política e por seu papel em várias frentes, sobretudo no que se refere às relações exteriores.

Como fez em sua gestão, Cristina, ao lado de Alberto, pretende devolver a esperança aos argentinos, por “um país diferente, mais solidário, onde tenha importância o que aconteça com o outro”, e indica que as pessoas necessitam recuperar a esperança de saber que pode haver um tempo melhor. 

A viúva do ex-presidente Néstor Kirchner sublinha que não se imagina quatro anos mais com políticas como as que impulsiona o mandatário Mauricio Macri, e manda constantes mensagens de unidade porque, diz, “já nos demos conta que quando brigamos entre nós, nos devoram os de fora”. 

A estrategista política, a mulher, a mãe, a do compromisso e militância a prova de tudo, caminha para as urnas hoje desde a Frente de Todos, o braço político que acumulou mais votos nas primárias de agosto, convencida de que se pode construir uma Argentina perdurável e viável. 

“Todos temos que saber o lugar que vamos ocupar ali para ajudar a mudar isto e que não seja um pêndulo permanente. Tratemos seriamente de ter um projeto de país que seja perdurável”, assinala a ex-mandatária, que ao lado de seu outrora chefe de Gabinete espera pôr de pé a Argentina.

*Tradução: Beatriz Cannabrava

**Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Veja também


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Maylín Vidal

LEIA tAMBÉM

Biden tira Cuba da lista de terror e suspende algumas sanções (3)
Biden tira Cuba da lista de terror e suspende algumas sanções; analistas avaliam medidas
Tensões criadas por Trump impõem à América Latina reação ao imperialismo
Trump exacerba as contradições entre EUA e América Latina
Política fracassada Noboa mantém Equador como país mais violento da América Latina
Política fracassada de Noboa mantém Equador como país mais violento da América Latina
Venezuela Maduro reforça poder popular, desafia oligarquias e combate o imperialismo (2)
Venezuela: Maduro reforça poder popular, desafia oligarquias e combate o imperialismo