“Trump está deportando quem não é criminoso porque os criminosos que ele prometeu expulsar não existem.” A análise incisiva do historiador Rafael Lores, entrevistado no Sul Globalizando desta quarta-feira (11), sintetiza o clima tenso nos Estados Unidos diante da nova onda de repressão contra imigrantes. O professor alerta que o governo Trump intensifica arrastões e prisões arbitrárias em centros de trabalho como supermercados, lojas de materiais de construção e até escolas, em busca de atingir a meta de deportar 3 mil pessoas por dia.
Segundo Lores, a base da retórica trumpista é a demonização do imigrante latino. “Trump não está falando de qualquer imigrante, mas do pobre que cruza a fronteira. O discurso é racializado e alimenta o medo da ‘ameaça civilizatória’”, explica o historiador. Essa narrativa, diz ele, tem funcionado para mobilizar sua base mais conservadora e garantir votos.
A resposta do Estado também é motivo de alarme: o envio da Guarda Nacional e até de fuzileiros navais para controlar protestos em cidades como Los Angeles eleva o risco de um confronto violento. “Os fuzileiros são treinados para combater o inimigo no exterior, não para lidar com civis nas ruas”, pontua Lores, acrescentando que o uso das Forças Armadas contra a população interna viola o federalismo estadunidense.
Ele vê uma deterioração da legalidade nos EUA: “Não é claro nem mesmo se Trump tem poder legal para ordenar esse tipo de operação. Mas ele faz, depois se justifica na Justiça. Isso rompe padrões históricos e acende o sinal de alerta sobre um regime autoritário em construção.”
Rafael Lores avalia ainda que a crise migratória é usada como cortina de fumaça para objetivos mais profundos: “Trump criou a imagem de que o país está sendo invadido, mas não consegue encontrar os ‘milhões de criminosos’ que prometeu expulsar, então parte para o ataque à classe trabalhadora imigrante que move a economia.” Ele menciona casos de pessoas com documentação legal que foram presas e até deportadas para países errados.
O historiador também comenta a atuação hesitante dos democratas. Para ele, o partido sofre uma crise de identidade e precisa retomar o diálogo com as bases populares. “O governador da Califórnia, Gavin Newsom, desponta como uma figura de oposição, mas ainda é visto como elitista e distante do povo do interior do país.”
Em relação ao cenário futuro, Lores não descarta explosões sociais e atos de violência política: “O trumpismo tem milícias, tem retórica inflamada, e está forçando os limites do sistema. O risco de uma ruptura é real, mesmo que não tenhamos uma guerra civil clássica.”
A entrevista também chama atenção para a responsabilidade do Brasil. Lores defende uma política externa mais ativa e uma maior aproximação com governos progressistas como o do México, liderado por Claudia Sheinbaum: “O Brasil precisa romper com a hipocrisia diplomática e liderar um novo bloco de solidariedade internacional.”A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube: