Pesquisar
Pesquisar
Rafael Lores: "O trumpismo tem milícias, tem retórica inflamada, e está forçando os limites do sistema" (Foto: Daniel Torok / Casa Branca)

Trump deporta inocentes pois criminosos que prometeu expulsar não existem, aponta historiador

Segundo Rafael Lores, Trump não persegue “imigrantes”, e sim pobres que cruzam a fronteira, a classe trabalhadora imigrante que move a economia dos EUA

George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul Global
Taboão da Serra

Tradução:

“Trump está deportando quem não é criminoso porque os criminosos que ele prometeu expulsar não existem.” A análise incisiva do historiador Rafael Lores, entrevistado no Sul Globalizando desta quarta-feira (11), sintetiza o clima tenso nos Estados Unidos diante da nova onda de repressão contra imigrantes. O professor alerta que o governo Trump intensifica arrastões e prisões arbitrárias em centros de trabalho como supermercados, lojas de materiais de construção e até escolas, em busca de atingir a meta de deportar 3 mil pessoas por dia.

Segundo Lores, a base da retórica trumpista é a demonização do imigrante latino. “Trump não está falando de qualquer imigrante, mas do pobre que cruza a fronteira. O discurso é racializado e alimenta o medo da ‘ameaça civilizatória’”, explica o historiador. Essa narrativa, diz ele, tem funcionado para mobilizar sua base mais conservadora e garantir votos.

A resposta do Estado também é motivo de alarme: o envio da Guarda Nacional e até de fuzileiros navais para controlar protestos em cidades como Los Angeles eleva o risco de um confronto violento. “Os fuzileiros são treinados para combater o inimigo no exterior, não para lidar com civis nas ruas”, pontua Lores, acrescentando que o uso das Forças Armadas contra a população interna viola o federalismo estadunidense.

Ele vê uma deterioração da legalidade nos EUA: “Não é claro nem mesmo se Trump tem poder legal para ordenar esse tipo de operação. Mas ele faz, depois se justifica na Justiça. Isso rompe padrões históricos e acende o sinal de alerta sobre um regime autoritário em construção.”

Rafael Lores avalia ainda que a crise migratória é usada como cortina de fumaça para objetivos mais profundos: “Trump criou a imagem de que o país está sendo invadido, mas não consegue encontrar os ‘milhões de criminosos’ que prometeu expulsar, então parte para o ataque à classe trabalhadora imigrante que move a economia.” Ele menciona casos de pessoas com documentação legal que foram presas e até deportadas para países errados.

O historiador também comenta a atuação hesitante dos democratas. Para ele, o partido sofre uma crise de identidade e precisa retomar o diálogo com as bases populares. “O governador da Califórnia, Gavin Newsom, desponta como uma figura de oposição, mas ainda é visto como elitista e distante do povo do interior do país.”

Em relação ao cenário futuro, Lores não descarta explosões sociais e atos de violência política: “O trumpismo tem milícias, tem retórica inflamada, e está forçando os limites do sistema. O risco de uma ruptura é real, mesmo que não tenhamos uma guerra civil clássica.”

A entrevista também chama atenção para a responsabilidade do Brasil. Lores defende uma política externa mais ativa e uma maior aproximação com governos progressistas como o do México, liderado por Claudia Sheinbaum: “O Brasil precisa romper com a hipocrisia diplomática e liderar um novo bloco de solidariedade internacional.”A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube:


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul Global. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

LEIA tAMBÉM

Rússia pode contribuir para mediação no conflito Irã x Israel, afirma especialista
Rússia pode contribuir para mediação do conflito Irã x Israel, afirma especialista
Revolta em Los Angeles reflete hostilidade iniciada em 20 de janeiro por Trump
Começou em 20 de janeiro: revolta em Los Angeles reflete meses de hostilidade trumpista
EUA são cúmplices de Israel e agiram de má-fé em negociações nucleares com Irã
EUA são cúmplices de Israel e agiram de má-fé em negociações nucleares com Irã
A guerra de extermínio pela sede a água como arma de limpeza étnica em Gaza
Extermínio pela sede em Gaza: Israel transforma água em mais uma arma genocida