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Imagem: A.Davey / Flickr

Trump, EUA e a “super república das bananas”

Com a perseguição a imigrantes, o indulto a 1.500 criminosos golpistas, a aliança com milionários e as ameaças imperialistas, Trump parece pronto para transformar os EUA na maior república das bananas da história
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Entre seus primeiros atos de governo em 20 de janeiro, o novo mandatário dos EUA, Donald Trump, indultou mais de 1.500 de seus fanáticos que participaram do violento assalto ao Capitólio dos Estados Unidos em janeiro de 2021, ferindo vários policiais, causando a morte de outro e, em alguns casos, buscando executar o então vice-presidente e a presidente da Câmara dos Representantes, tudo para anular o processo eleitoral que culminou na derrota do republicano. Foi uma tentativa de golpe de Estado.

Com essa ordem executiva, os EUA anularam um fundamento de sua democracia eleitoral. O presidente indultou os participantes de seu complô para suspender a Constituição e violar o princípio sagrado da transferência pacífica do poder. Ao indultar aqueles que haviam sido acusados, centenas deles processados e presos por crimes federais, Trump acabou de justificar o uso da violência para fins políticos, dando sinal verde para mais do mesmo daqui em diante.

Trump, que se referiu aos encarcerados como “reféns” do governo anterior, insiste até hoje em sua “grande mentira”: no mesmo dia de sua posse, na semana passada, ele voltou a dizer que havia perdido a eleição quatro anos antes e, em seu segundo discurso como presidente, insistiu que “a eleição de 2020 foi totalmente fraudulenta”, apesar da absoluta falta de provas.

Entre os perdoados, há líderes de organizações paramilitares – aqui chamadas de “milícias” –, incluindo Enrique Tarrio, dos chamados Proud Boys, e Stewart Rhodes, dos Oath Keepers. Tarrio, em suas primeiras declarações, disse que haverá “retribuição” pelo que lhe aconteceu nas mãos dos promotores e do Departamento de Justiça, enquanto afirmou que Trump era o melhor presidente desde George Washington. O primeiro ato de outro “refém” liberto foi comprar uma arma de fogo. “Eu invadiria o Capitólio novamente por Donald Trump”, comentou outro.

Um presidente criminoso e seus criminosos de estimação

Assim, enquanto Trump justifica sua “deportação em massa” declarando que está expulsando “criminosos estrangeiros”, ele libertou mais de 1.500 criminosos estadunidenses condenados para as ruas de um país onde as agências de segurança oficialmente declararam que a maior ameaça à segurança nacional é representada por ultradireitistas nacionalistas e supremacistas brancos.

Ao mesmo tempo, o novo regime de Trump anulou o princípio supostamente sagrado de que ninguém está acima da lei. O mesmo presidente autoproclamado campeão da “lei e ordem” é um criminoso condenado por dezenas de acusações federais e conseguiu – primeiro com sua riqueza e depois com sua coroação – ficar impune em dezenas de acusações relacionadas a sua tentativa de golpe de Estado e ao uso pessoal de documentos secretos de segurança nacional, entre outros.

Tensões criadas por Trump impõem à América Latina reação ao imperialismo

Com o primeiro presidente delinquente, chegou de forma evidente um grupo de super-ricos que agora estão abertamente não apenas atrás do trono, mas sentados nele. Aqui já ficou visível o que Bernie Sanders e o ex-presidente Jimmy Carter, entre outros, alertaram: a democracia substituída por uma oligarquia, com tudo o que isso implica.

É por tudo isso que se poderia concluir que os Estados Unidos não estão muito longe de se tornar uma “república das bananas“. Mas uma quase-república das bananas que não consegue abandonar seus sonhos imperiais. Trump chegou à presidência declarando que desejava anexar o Canadá, adquirir a Groenlândia, recuperar o Canal do Panamá e “esvaziar” Gaza – e não se limitou a este planeta, pois em seu discurso inaugural declarou que astronautas estadunidenses “plantarão as estrelas e listras no planeta Marte”.

Por isso, os Estados Unidos não seriam apenas mais uma república das bananas, mas sim a primeira superpotência bananeira da história do mundo.

Vale recordar que a história dessas “repúblicas das bananas” inclui rebeliões e até revoluções, sempre surpreendentes para seus governantes e seus aliados nos Estados Unidos. E se desta vez acontecer nos Estados Unidos?

Bônus musical

Harry Belafonte – Day-O (Banana Boat Song)

Steve Goodman – Banana Republics

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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