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Donald Trump e Elon Musk (Foto: Reprodução / Facebook)

Trump quer desmontar Estado para enriquecer setor privado dos EUA; maior beneficiado é Musk

O próprio empresário Elon Musk - que já possui 100 contratos com o governo federal - será parte da equipe de Trump e se encarregará de tornar a máquina pública "mais eficiente"
David Brooks, Jim Cason
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Donald Trump está selecionando seu gabinete e chefes de agências quase exclusivamente com base na lealdade ao próximo chefe supremo, e não por serem especialistas ou qualificados, buscando consolidar seu poder pessoal para transformar partes chave do governo e também recompensar os doadores ricos que investiram em sua campanha (não foi apenas por apoio, mas por negócio).

Embora a falta de experiência e até acusações contra alguns dos nomeados para liderar o Departamento de Justiça e o Pentágono tenham provocado manchetes, Trump e sua equipe de transição já trabalham para assegurar que o Senado ratifique os indicados e, caso isso não aconteça, que possam instalá-los sem aprovação legislativa, utilizando uma manobra parlamentar.

Trump inicia formação de governo com “experts” em atacar imigrantes, China e América Latina

Em 2016, o triunfo de Trump foi uma surpresa para quase todos, incluindo o próprio magnata, e sua equipe admitiu que não estavam preparados para assumir o poder. Muitos dos secretários e chefes do Departamento de Justiça e das Forças Armadas revelaram, após deixarem o governo, que desobedeceram ou desviaram ordens do mandatário por considerá-las perigosas ou inconstitucionais.

Por isso, ao nomear cúmplices leais para seu gabinete em formação, como o ex-deputado Matt Gaetz para secretário de Justiça, o comentarista da Fox News Pete Hegseth para secretário de Defesa, e a ex-deputada Tulsi Gabbard para chefe de inteligência – todos sem experiência nessas áreas – Trump pressupõe que serão leais apenas a ele. De fato, durante a campanha, o agora presidente eleito prometeu realizar uma “purga” no que chamou de “governo permanente”, incluindo altos burocratas da Justiça, Defesa e agências de inteligência, e até processar penalmente alguns que ousaram criticá-lo ou desobedecer suas ordens durante seu primeiro mandato.

Trump já prepara suas “listas de purga”

Assessores de Trump mencionaram na imprensa que já prepararam listas de funcionários e oficiais da Justiça – o mandatário ameaçou abertamente o promotor especial Jack Smith, responsável por dois casos criminais contra ele – assim como da Defesa e da Inteligência, que podem ser demitidos nos primeiros dias de sua nova presidência (alguns, como Smith, já estão se retirando).

“Claramente deseja o poder para o propósito de derrubar as práticas estabelecidas de governar”, explicou o ex-senador republicano John Danforth ao Wall Street Journal. Adam Jentleson, ex-assessor democrata no Senado, acrescentou que “é impossível observar o que se delineia aqui e não ver um presidente com a intenção de assumir um nível de controle sem precedentes”.

De volta à Casa Branca, Trump vai dizimar obstáculos para garantir reinado sem limites

Ao mesmo tempo, Trump também busca garantir não apenas controle total sobre sua equipe e gabinete, mas também sobre os gastos federais. Por exemplo, o Congresso aprovou uma lei em 1974 que exige que o presidente use os fundos conforme as prioridades estabelecidas pelo Legislativo, mas, como candidato, Trump declarou que essa lei é inconstitucional e que buscará anulá-la – algo que é possível, considerando que o presidente eleito tem uma Suprema Corte alinhada a ele.

Por trás disso, não está apenas a consolidação de um maior poder executivo, mas também interesses empresariais. Alterar essa lei será parte essencial da tarefa atribuída por Trump aos bilionários Elon Musk e Vivek Ramaswamy, que buscam tornar o governo “mais eficiente”. Musk propôs reduzir o orçamento federal de 7 trilhões para 2 trilhões em dois anos e diminuir o número de agências federais de mais de 400 para 99.

Cortes sofrerão oposição

Cortes dessa magnitude enfrentariam ampla oposição de ambos os partidos no Congresso e de interesses que eles representam, e analistas duvidam da viabilidade de algo tão ambicioso. No entanto, a redução das agências federais poderia resultar em bilhões de dólares em novos negócios para o setor privado, que assumiria as tarefas antes realizadas pelo setor público.

“Os maiores doadores esperam retornos sobre seus investimentos” foi a manchete do New York Times neste fim de semana, ao citar uma longa lista de milionários que agora esperam ser beneficiados pelo novo governo. A empresa privada de prisões GEO Group, por exemplo, informou a executivos de Wall Street que espera que as deportações massivas de imigrantes indocumentados preencham dezenas de milhares de vagas em seus centros de detenção.

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Em abril, durante um jantar em seu clube Mar-a-Lago, na Flórida, Trump foi explícito ao dizer a seus convidados – executivos de empresas petrolíferas – que, caso contribuíssem coletivamente com 1 bilhão de dólares para sua campanha, ele se comprometeria a reverter as regulamentações ambientais impostas pelo governo de Joe Biden sobre o setor, ampliar as exportações de gás natural liquefeito, congeladas sob o governo atual, e eliminar o crédito fiscal para veículos elétricos.

Trump já começou a cumprir suas promessas, nomeando Chris Wright, executivo de uma empresa de fracking, como seu próximo secretário de Energia, e prometeu que, já no primeiro dia na Casa Branca, revogará as regulamentações ambientais sobre o setor petrolífero.

Esperando recompensas

Executivos de empresas de tecnologia militar também contribuíram com milhões para a campanha de Trump, informou o New York Times, e agora esperam ser recompensados com contratos relacionados ao orçamento militar de 850 bilhões de dólares, antes restritos às empresas de defesa tradicionais.

Por outro lado, investidores em criptomoedas, descontentes com as atuais regulamentações do setor, também investiram na campanha de Trump, cuja vitória impulsionou o preço do Bitcoin, em antecipação às mudanças esperadas sob o novo governo.

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O maior beneficiado pelo triunfo de Trump – e isso não tem sido nada discreto – poderia ser o homem mais rico do planeta, Elon Musk. Uma investigação do New York Times revelou que, no ano passado, Musk possuía quase 100 contratos com um total de 17 diferentes agências do governo federal, somando cerca de 3 bilhões de dólares.

Parte central da mensagem da campanha de Trump foi denunciar que uma classe corrupta de políticos e funcionários controlava o governo e que ele se encarregaria de “drenar o pântano” de Washington. É possível que Trump cumpra parte de sua promessa e remova funcionários corruptos, mas tudo indica que apenas os substituirá pelos seus.

Uso das forças armadas para deportações 

O presidente eleito Donald Trump confirmou na última segunda-feira (18) que declarará um “estado de emergência” devido à crise nacional gerada pela situação na fronteira com o México, e empregará as forças armadas para realizar as deportações em massa de imigrantes indocumentados prometidas durante sua campanha.

Durante mais de um ano, o assessor e arquiteto das políticas anti-imigrantes de Trump, Stephen Miller, tem repetido que está desenvolvendo planos para solicitar que governadores republicanos de vários estados mobilizem tropas da Guarda Nacional (as quais, em cada estado, são comandadas pelos governadores) para apoiar o esforço de prender, estabelecer centros de detenção e, finalmente, deportar muitos dos 11 milhões de imigrantes indocumentados que vivem no país. Miller foi recentemente nomeado por Trump como subchefe do gabinete para políticas.

Ameaças e ataques de Trump já causam desespero em imigrantes nos EUA

Trump respondeu “é verdade” a um comentário nas redes sociais de Tom Fitton, presidente da organização conservadora Judicial Watch, onde este descreveu que o governo de Trump “empregará recursos militares para reverter a invasão [migrante] promovida por Biden por meio de um programa de deportações em massa”. Fitton, cujo grupo teve um papel-chave na nomeação de três juízes ultraconservadores para a Suprema Corte durante o primeiro mandato de Trump, também comentou que o presidente está “preparado para declarar uma emergência nacional” para facilitar esse grande esforço.

Trump prometeu iniciar as deportações “no dia um ou muito em breve depois” de assumir a presidência, em 20 de janeiro, mas até o momento não ofereceu detalhes sobre como obterá os recursos financeiros e humanos necessários para um esforço dessa magnitude. Presidentes de ambos os partidos já usaram declarações de emergência nacional no passado para redirecionar fundos aprovados pelo Congresso para um propósito e dedica-los a outro.

Oklahoma e um “projeto piloto”

O governador do estado de Oklahoma declarou que lançará um projeto-piloto este mês para entregar imigrantes indocumentados encarcerados às autoridades federais de imigração, em preparação para os esforços de deportação em massa. “Queremos ser o primeiro estado a trabalhar com o presidente Trump”, afirmou o governador Kevin Stitt ao Washington Examiner. “Agora mesmo, temos mais de 500 pessoas encarceradas em Oklahoma que violaram a lei, são criminosas e também ilegais. Adoraríamos tirá-las do estado de Oklahoma e do país.”

Críticos assinalam que uma declaração de emergência e a mobilização de forças armadas para realizar deportações em massa são ilegais. “Não há nenhuma lei que permita a um presidente declarar uma emergência e, em seguida, usar as forças armadas para realizar qualquer tarefa, muito menos aplicar a lei migratória dentro do país”, declarou a organização de defesa dos direitos dos migrantes America’s Voice. A União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês) apresentou hoje uma ação contra o governo de Joe Biden para obter mais detalhes sobre como imigrantes indocumentados foram deportados nos últimos anos, com o objetivo de preparar planos para combater nos tribunais o plano de deportações em massa do próximo governo.

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Desde a eleição, líderes republicanos também começaram a reconhecer publicamente que a mão de obra migrante é urgentemente necessária e que a sua ausência prejudicaria gravemente a economia nacional. “Precisamos de vistos de trabalho. Precisamos incentivar a imigração legal”, declarou o presidente republicano da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, à CNN.

Thomas Hornan, nomeado como “czar da fronteira” no próximo governo, afirmou que as deportações em massa começarão com imigrantes indocumentados que estão encarcerados ou que tenham violado a lei. O próprio Trump fez declarações semelhantes em uma entrevista ao conselho editorial do Wall Street Journal pouco antes da eleição.

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O líder do Judicial Watch, Fitton, cujo tuíte foi usado por Trump para confirmar seus planos de deportações em massa, respondeu àqueles que argumentam que o presidente não pode declarar uma emergência nacional no contexto migratório: “Alguém discorda que a invasão não é uma emergência nacional?”, perguntou no noticiário de direita Newsmax.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.
Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.

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