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À esquerda, bandeira da Liga Árabe; à esquerda, crianças recebem alimento em Gaza (Montagem: Diálogos do Sul Global*)

Ualid Rabah: “Não existe Liga Árabe; maioria dos países virou protetorado dos EUA/Otan”

Ainda segundo o presidente da Fepal, países árabes foram capturados pelos interesses ocidentais, enquanto Israel e EUA matam proporcionalmente mais crianças que Hitler

George Ricardo Guariento
Diálogos do Sul Global
Taboão da Serra

Tradução:

“A Liga Árabe não existe. A maioria dos seus países virou protetorado dos EUA ou da Otan.” A denúncia é de Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina no Brasil (Fepal), durante entrevista à jornalista Vanessa Martina-Silva no programa Sul Globalizando da última quarta-feira (23). 

Na conversa, Ualid pontuou o colapso da articulação política entre os países árabes ante o avanço da ocupação israelense em Gaza. Para ele, o silêncio das lideranças do Oriente Médio diante do genocídio em curso revela a captura dos Estados por interesses ocidentais. A postura mostra ainda que a maioria das nações que formam a Liga Árabe está destruída e disfuncional, dada a normalização de relações com Israel.

Soma-se a isso a passividade do Sul Global. Ualid aponta que os membros do Brics têm potencial para representar uma virada geopolítica, mas reconhece: “ainda não têm força militar para enfrentar o Ocidente.”

Em fala contudente, Ualid compara a matança de crianças em Gaza aos crimes do nazismo: “Israel e os Estados Unidos matam em Gaza, proporcionalmente, mais do que Hitler na Segunda Guerra Mundial”, afirma. Ele revela que quase 10 mil crianças palestinas foram assassinadas por milhão de habitantes em pouco mais de 500 dias, número que supera em mais de três vezes a média do Holocausto nazista. “Isso é uma limpeza étnica em escala industrial, feita com armas ocidentais”, reforça.

Um aspecto dessa limpeza étnica, segue Rabah, é a ofensiva de Israel para colapsar a capacidade reprodutiva da sociedade palestina: “Bombardeiam maternidades, provocam abortos em massa e assassinam mulheres grávidas. O objetivo é eliminar o futuro da Palestina”, explica.

Leia mais notícias sobre Gaza na seção Genocídio Palestino.

“As armas que matam lá, matam cá”

Ualid também denuncia que o modelo de repressão testado em Gaza está sendo exportado para o Sul Global. “O Brasil importa armamentos e tecnologias de vigilância desenvolvidas com base na repressão aos palestinos. Estamos comprando a lógica da guerra e usando contra nosso próprio povo”, assevera, e acrescenta: “As armas que matam lá, matam cá”.

Ao criticar o avanço do sionismo no Brasil, Rabah é categórico: “Tem púlpito com bandeira de Israel no Brasil. Isso é traição à soberania nacional. Um segmento da cristandade está sionizado e obedece a um Estado estrangeiro.” E dispara: “O sionismo de esquerda é ainda pior do que o de direita, porque se disfarça de civilizado enquanto legitima o massacre.”

Para Francisco

Ualid aproveitou a entrevista para falar da relação entre o Papa Francisco e os oprimidos em Gaza: “O Papa ligou para Gaza todos os dias. Ele entendia que o que acontece lá é genocídio.”

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Nesse sentido, para Ualid, o Papa Francisco “exerceu um papel moral superior ao de todos os chefes de Estado do Sul Global”, sendo uma das poucas vozes com coragem para nomear o crime como genocídio.

A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube. Confira:

Edição: Guilherme Ribeiro

* Imagens na capa:
– Liga Árabe: Nicolas Raymond / Flickr
– Crianças em Gaza: UNRWA / Facebook


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

George Ricardo Guariento Graduado em jornalismo com especialização em locução radiofônica e experiência na gestão de redes sociais para a revista Diálogos do Sul Global. Apresentador do Podcast Conexão Geek, apaixonado por contar histórias e conectar com o público através do mundo da cultura pop e tecnologia.

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